7 de julho de 2018

Líderes aos trambolhões logo no primeiro dia

Chris Froome sofreu uma queda e perdeu tempo
(Imagem: print screen, ver vídeo em baixo)
Se Fernando Gaviria teve um início perfeito de Volta a França - estreia mais auspiciosa é impossível -, já alguns dos principais líderes das equipas para a geral começam a fazer contas logo após o primeiro dia. Uma queda cortou o pelotão e prejudicou ciclistas como Richie Porte e Adam Yates, Nairo Quintana partiu as duas rodas antes dos três quilómetros finais e Chris Froome deu um trambolhão ao ficar sem espaço numa estrada estreita. Ninguém tem razões para entrar em pânico, mas têm de pensar desde já onde poderão recuperar o tempo que não esperariam perder numa etapa plana.

Os 201 quilómetros entre Noirmoutier-en-l'Île e Fontenay-le-Comte eram relativamente planos, com uma quarta categoria para atribuir a camisola da classificação da montanha. O vento era a maior preocupação, assim como a colocação nuns quilómetros finais com uma estrada estreita e alguns obstáculos habituais de uma via urbana. Os percalços podem acontecer a qualquer um, mas não se esperava tanto e logo no primeiro dia do Tour.

Durante a etapa houve alguns incidentes e Lawson Craddock tornou-se o herói da jornada, ao fazer mais de 100 quilómetros a sangrar do sobrolho e com uma fractura na omoplata. E não, não quer ir para casa. "Vou ver como me sinto esta noite, como durmo, como me sentirei de manhã, andarei de bicicleta e vou ver se conseguido aguentar", lê-se numa mensagem no Twitter, partilhada pela equipa, EF Education First-Drapac p/b Cannondale.

Mas foram os últimos dez quilómetros que foram algo caóticos. Enquanto se preparava já o sprint, uma queda na frente envolveu, entre outros, ciclistas da Groupama-FDJ. O pelotão ficou cortado. Na luta particular pela etapa, Arnaud Démare foi um dos afectados, mas aos poucos começou a ver-se que Adam Yates tinha ficado para trás, depois viu-se Richie Porte, para referir dois daqueles que estão na lista de favoritos na geral. A acção continuou. Ao tentar colocar-se no pelotão, Chris Froome foi vítima da estrada estreita. Ficou sem espaço e deu um valente trambolhão, mas sem consequências físicas. As imagens foram captadas pela câmara instalada na bicicleta de Jasper de Buyst (Lotto Soudal).

(Texto continua depois do vídeo)




Ainda se está a tentar perceber onde estão exactamente Froome, Porte e Yates e eis que aparece a imagem de Nairo Quintana parado na berma. Ao passar por uma lomba, o colombiano da Movistar partiu as rodas. O apoio neutro teve dificuldades em ajudar e o ciclista acabou mesmo por esperar pelo carro da equipa para receber outra bicicleta. Resultado? 1:15 minutos perdidos para a frente da corrida, onde estavam Romain Bardet (AG2R), Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida) e Tom Dumoulin (Sunweb) e mais alguns daqueles que estão no Tour com pretensões elevadas.

Mas Quintana viu o aspecto positivo. No final destacou como Mikel Landa e Alejandro Valverde não tiveram problemas e como para Froome não perdeu muito tempo. O britânico da Sky cortou a meta 51 segundos depois de Gaviria, no mesmo grupo de Porte e Yates. Porém, há duas questões que acabam por ser colocadas logo após o primeiro dia. Nem foi preciso esperar pela montanha ou pela etapa do pavé. 1:15 é uma distância já algo preocupante, pelo que Landa poderá ganhar alguma vantagem na luta interna pela liderança, caso se apresente de facto bem quando chegar os momentos de decisão.

Também na Sky se viu algo que em anos anteriores seria impensável. Com o líder a precisar de recuperar, Geraint Thomas ficou na frente da corrida e cortou a meta sem problemas. O galês sempre disse que iria ao Tour como co-líder e logo a abrir a competição demonstrou como não vai estar dependente do que Froome irá fazer. Pelo menos para já. Ainda assim, são 51 segundos que o poderá colocar uma posição para de facto vir a ter um papel mais livre na equipa. Sabendo como a Sky sempre actuou em prol de um ciclista, até parece estranho. Falta muita corrida, mas as vitórias alcançam-se muitas vezes nos pequenos pormenores. E 51 pequenos pormenores podem vir a ter efeito mais tarde.

(Texto continua depois do vídeo)




O início da história de Gaviria

Antes do Tour começar, Fernando Gaviria mostrou uma tremenda modéstia. Afirmou que esperava ganhar pelo menos uma etapa. Tendo em conta que a expectativa era que conquistasse o Tour como fez no Giro há um ano (quatro etapas na sua primeira grande volta), Gaviria pelo menos tentou não entrar na euforia que o rodeia. Contudo, no seu primeiro Tour, na sua segunda grande volta, venceu logo ao primeiro dia. Em 2012, Peter Sagan também venceu na primeira etapa na estreia em França, mas antes houve um prólogo, ganho por Fabian Cancellara, que em 2004 venceu logo a abrir na sua primeira Volta a França.

Gaviria é também o segundo colombiano a vestir a camisola amarela, 15 anos depois de Victor Hugo Peña. Além disso tem também a verde (dos pontos), que revelou poder ter pretensões, já que lutou logo no sprint intermédio. A pouco mais de um mês de cumprir 24 anos, Gaviria tem ainda a camisola branca da juventude. A da montanha ficou para um dos homens da fuga, o francês Kevin Ledanois, da Fortuneo-Samsic.

A vitória de Gaviria acabou um pouco ofuscada por todos os acontecimentos nos últimos dez quilómetros, mas foi um triunfo claro do colombiano, num sprint bem preparado pela Quick-Step Floors, como já era de esperar. Se havia alguma ansiedade nesta sua estreia, então nada como um triunfo a abrir para libertar o ciclista desse tipo de sentimentos. Só Peter Sagan ainda tentou ameaçar Gaviria. "Agarrou" a roda do colombiano, mas não conseguiu contrariar a potência final do rival. Todos os outros sprintaram, mas estiveram sempre a ver as costas do ciclista da Quick-Step Floors, como o antigo companheiro Marcel Kittel, que foi terceiro, mas sem se poder dizer que esteve na disputa.

Sagan está no Tour para ir buscar mais uma camisola verde, mas já percebeu que vai ter um adversário à altura. Porém, no final, não hesitou em dizer que o mais forte tinha ganho em Fontenay-le-Comte.

Este domingo será uma etapa de características idênticas, com o contra-relógio colectivo à espera das equipas na segunda-feira. Se era aqui que se esperaria que começassem a ser feitas algumas diferenças, agora será preciso pensar em recuperar algumas diferenças!

Pode ver aqui as classificações após a primeira etapa.

Segunda etapa: Mouilleron-Saint-Germain - La Roche-sur-Yon, 182,5 quilómetros



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