2 de julho de 2018

E de repente há uma decisão: Froome foi ilibado

Esta imagem conta mesmo! Froome fica com a vitória na Vuelta
(Fotografia: La Vuelta)
Ainda se estava a tentar perceber as repercussões da ASO ter avançado para a tentativa de barrar Chris Froome da Volta a França e sai uma decisão algo inesperada. Até o presidente da UCI, David Lappartient, tinha repetido que dificilmente o processo do britânico estaria concluído antes do Tour, o que ajudou a provocar a acção da ASO. Porém, no dia seguinte, fica tudo bem... Talvez não, mas fica resolvido, o que era o que mais se desejava. Chris Froome foi ilibado, fica com a Vuelta, com a medalha de bronze no contra-relógios nos Mundiais e com o Giro. Agora vai tentar fazer um pouco mais de história, ou seja, ganhar um quinto Tour, o que significará ainda conquistar quatro grandes voltas de forma consecutiva.

Era sobre isto que mais se queria falar. Sobre a parte desportiva. Contudo, o arrastamento do processo, que se iniciou em Setembro, tornava impossível. Só que não vai ser tudo tão simples. No dia seguinte à ASO ter tomado medidas drásticas para que se parasse de viver na ilusão que estava tudo bem, a UCI coloca um ponto final no processo. Coincidência? No comunicado do organismo é explicado que a decisão de concluir o caso foi feita depois da recomendação da Agência Mundial Antidoping (AMA), pois dadas as provas analisadas pelos especialistas tanto da UCI, como da AMA, não se estava perante um resultado analítico adverso.

"A 28 de Junho de 2018, a Agência Mundial Antidoping informou a UCI que aceitaria, baseado nos factor do caso, que as amostras do senhor Froome não constituem um resultado analítico adverso. Dada o acesso sem paralelo da AMA à informação e autoria do regime do salbutamol, a UCI decidiu, baseada na posição da AMA, fechar os procedimentos contra o senhor Froome", lê-se no comunicado (pode ver neste link na íntegra, em inglês). O organismo afirmou ainda que gostaria de ter encerrado o processo mais cedo, mas quis dar a oportunidade de uma defesa justa por parte do ciclista, algo que diz que teria feito fosse quem fosse o corredor em causa.

De recordar que Froome acusou o dobro do permitido de salbutamol, ou seja, 2000 nanogramas por mililitro na amostra recolhida na 18ª etapa do Tour, a 7 de Setembro. O ciclista e a equipa foram informados do resultado a 20 de Setembro e em Dezembro este é conhecido publicamente através da divulgação feita pelo The Guardian e o Le Monde. Desde então que tem sido uma troca de palavras, com Froome e a Sky a defender o direito de competir - a substância utilizada por asmáticos não acarreta suspensão provisória imediata - e ciclistas, directores desportivos e organizadores a pedir uma resolução rápida do processo, com alguns a preferirem que o britânico tivesse optado por uma auto-suspensão. Em dois casos recentes, Alessandro Petacchi e Diego Ulissi acabaram suspensos apesar de ter sido detectado um valor menor ao de Froome.

Pelo meio de tantas críticas foi divulgado que a defesa de Froome estaria concentrada na possibilidade de mau funcionamento dos rins. Foi também publicado um estudo, em nada relacionado com a defesa do ciclistas, mas que veio mesmo a calhar, que revelava que a forma de analisar a substância em causa, poderia provocar falsos positivos.

A razão, ou razões específicas que levaram a UCI a encerrar o processo não são explicadas no comunicado, mas poderão ser conhecidas nos próximos dias. Se este ponto final é bem-vindo na perspectiva desportiva, não significa que se possa enterrar e esquecer este caso. É necessário rever os regulamentos para evitar situações idênticas, que só servem para levantar suspeitas sobre uma modalidade que já vive rodeada delas. Froome tem razão quando diz que a decisão "é um momento importante para o ciclismo", mas porque pode e deve funcionar como um ponto de viragem e não porque mantém o seu currículo incólume.

Depois do que poderá ter sido uma noite muito mal dormida por parte de Froome perante a decisão da ASO, agora fica tudo sem efeito e o britânico mantém as suas seis grandes voltas e pode ir atrás de mais algumas. Nomeadamente tentar a dobradinha Giro/Tour, que significará então a conquista da quarta grande volta de forma consecutiva. E irá certamente tentar depois uma inédita sexta vitória no Tour. As sete vitórias de Lance Armstrong foram anuladas, pelo que o feito, de pelo menos seis, espera por um autor. Só é pena que da suspeita, Froome já não se livrará. 

Foi ilibado e é isso que fica. O jornal As adianta que a decisão foi tomada pelo juiz Ulrich Haas, que suspendeu no passado Alberto Contador e Alejandro Valverde. Porém, a vida não será fácil para o britânico, que já passou por momentos difíceis junto do público em França. Pelo menos o processo acabou. E agora que se tente falar um pouco mais de ciclismo, da luta de Nairo Quintana, Romain Bardet, Vincenzo Nibali, Tom Dumoulin... Chris Froome... Que comece o Tour, sem salbutamol e sem asteriscos nas vitórias na Vuelta e no Giro.


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