19 de fevereiro de 2017

Desculpa Roglic, mas vamos falar de Amaro Antunes

Ainda de manhã, quando se subia ao Alto do Malhão, na estrada só se lia Amaro, Amaro, Amaro. Aquela subida tinha mesmo o nome do algarvio escrito e Amaro Antunes não desiludiu. Com um ataque fantástico, o ciclista da W52-FC Porto fez algo que parecia ser impossível desde que a Volta ao Algarve começou a atrair as grandes equipas e alguns dos principais nomes do ciclismo mundial. As bermas da estrada encheram novamente para receber um pelotão de luxo, mas a multidão vibrou ao máximo ao ver o português na frente. É uma daquelas vitórias que entra para a história e pode muito bem ser uma daquelas vitórias que poderá dar o empurrão que falta a Amaro Antunes para "dar o salto" para uma equipa de outro escalão.

A W52-FC Porto, e principalmente o seu director desportivo Nuno Ribeiro, merecem o reconhecimento pelo apoio e motivação que estão a incutir no ciclista contratado este ano, depois de dois na extinta LA Alumínios-Antarte. Amaro Antunes encontrou o grupo que precisava para se mostrar ao mais alto nível. Prometeu muito na Volta à Comunidade Valenciana quando tentou seguir Nairo Quintana em Mas de la Costa, acabando essa etapa na terceira posição. Na Fóia tinha estado muito bem (foi quarto), no Malhão esteve brilhante. Enquanto a Sky cumpria o papel a que tanto está habituada de controlar a corrida de forma a permitir a Michal Kwiatkowski tentar recuperar os 22 segundos de desvantagem, a Lotto-Jumbo fazia o trabalho para garantir que Primoz Roglic ficava com uma camisola amarela muito desejada por uma equipa com bons ciclistas, mas que não é a que mais vence. No entanto, foi Amaro a estrela do dia.

Esta vitória no Malhão também demonstra como a W52-FC Porto está a querer subir o nível das exibições dos seus ciclistas, pois além de Amaro Antunes, Raul Alarcon andou na fuga, mostrando que também está a atingir bons níveis de forma nesta fase tão inicial da temporada. Subir o nível das exibições, poderá também significar subir de escalão em 2018. São conhecidas as pretensões de tornar a equipa Profissional Continental no próximo ano. As bases estão claramente solidificadas, agora é garantir uma estrutura que permita à equipa não só subir de escalão, mas ter condições para lá permanecer.

Este ano haverá uma aposta maior em provas internacionais e Amaro Antunes terá um papel de destaque nessas corridas. Gustavo Veloso continuará a ser o líder, até pela história e pelo que já deu a esta estrutura, mas Nuno Ribeiro também vai preparando uma inevitável sucessão. Se Amaro Antunes continuar com exibições como as da Comunidade Valenciana e no Algarve, dificilmente Nuno Ribeiro segurará o ciclista, mas maior exposição, maior o poder para negociar com corredores de elevada qualidade.

Uma coisa é certa, esta ligação Amaro Antunes/W52-FC Porto tem tudo para ser de grande sucesso, com ambas as partes e terem a oportunidade de tirar grandes proveitos. Agora é esperar que o algarvio consiga voltar a mostrar-se ao seu melhor noutras competições. A motivação está lá, a qualidade já se sabia que tinha e agora é transformá-la em mais momentos como o do Malhão.

Primoz Roglic, o vencedor algo inesperado

Pódio final: Greipel, Roglic, Osorio, Benoot e Amaro Antunes
Amaro Antunes nem sabia bem para onde se havia de virar. De todos os lados se ouvia alguém a chamá-lo. As fotografias foram muitas, as entrevistas... Era o seu momento. No meio de tanta emoção pela vitória do ciclista português na etapa, o vencedor da Volta ao Algarve até se viu um pouco relegado para segundo plano. O próprio provavelmente percebeu a situação, mas foi ele quem ganhou. Foi ele que não deixou Daniel Martin fugir na Fóia, foi ele quem esteve ao seu nível no contra-relógio, foi ele quem se colou a Kwiatkowski, frustrando qualquer tentativa do polaco em o deixar para trás.

No início da corrida Roglic não aparecia como um dos favoritos. Candidato, mas não favorito. Porém, aquele estilo discreto, por vezes meio tímido do ciclista, esconde o outro lado do ciclista: capacidade para resistir a subidas explosivas e inteligência táctica. A curiosidade para ver como este ciclista evolui é grande. Depois de em 2016 se ter mostrado ao vencer o contra-relógio na Volta a Itália, começa 2017 com esta vitória importante. É preciso não esquecer que estamos a falar de um atleta que só em 2013 optou pelo ciclismo, pois até então o Ski Jumping era o seu desporto de eleição. Chegou mesmo a ser campeão do mundo de juniores. Em 2007 sofreu uma queda assustadora, mas foi já com 23 anos que trocou de carreira e poderá muito bem estar a caminho de se tornar uma referência no ciclismo da Eslovénia.

Atrás ficou Michal Kwiatkowski. O homem da Sky dá sinais de estar a tentar regressar à melhor forma. A exibição poderá significar que o polaco está finalmente preparado para ocupar o lugar de destaque que a equipa pretende, tanto na ajuda aos líderes nas grandes voltas, como numa aposta para as clássicas. Principalmente, Kwiatkowski terá de ser mais regular e não aparecer numa fase da temporada e desaparecer o resto do ano. De recordar que está em final de contrato, pelo que se há uma boa altura para começar a apresentar resultados, é esta. A fechar o pódio ficou Tony Gallopin. O Malhão não foi nada simpático para Jonathan Castroviejo (Movistar) e o ciclista da Lotto Soudal aproveitou para ficar na terceira posição. A equipa belga ainda viu André Greipel ganhar a classificação por pontos e Tiesj Benoot foi o melhor jovem. A grande surpresa acabou por ser Juan Osorio. O corredor da Manzana Postobón entrou na fuga, que contou com José Gonçalves (Katusha-Alpecin), entre outros ciclistas, e aproveitou para ganhar as contagens do dia, que lhe permitiram passar um Daniel Martin (Quick-Step Floors), que não conseguiu repetir a exibição da Fóia. Este resultado é muito importante para a equipa colombiana que conta com Ricardo Vilela, pois a formação faz uma forte aposta no calendário europeu, pelo que este tipo de conquistas deixam certamente satisfeitos os responsáveis e o patrocinador.

Os outros portugueses

Amaro Antunes merece todo o destaque (terminou na quinta posição a 1:29 minutos do vencedor), mas há ainda que referir Edgar Pinto. O ciclista da LA Alumínios-Metalusa-BlackJack cumpriu o objectivo que procurava: o top dez. Foi décimo, a 2:19 minutos de Roglic. Certamente que será um resultado motivador para a restante temporada, neste regresso de Edgar Pinto ao pelotão português. Ricardo Vilela foi 17º (a 3:14) e Nelson Oliveira (Movistar) esteve a bom nível com o 18º lugar (a 3:20). A fechar o top 20 está Tiago Machado (Katusha-Alpecin), que fez uma boa etapa no Malhão.

O Sporting-Tavira também tem razões para estar satisfeito, pois Rinaldo Nocentini fechou na nona posição e Alejandro Marque na 13ª.

E foi com um final apoteótico de Amaro Antunes que terminou mais uma Volta ao Algarve. Uma edição importante na história da corrida, pois pela primeira vez pertenceu à segunda categoria da UCI (2.HC), teve transmissão televisiva e um português, de uma equipa portuguesa, mostrou que é possível lutar com alguns dos melhores do mundo. Há um ano respondeu ao ataque de Alberto Contador, mas o espanhol acabou por ganhar. Talvez tenha aprendido com os melhores, pois desta vez atacou ele na subida que conhece ao pormenor e, desculpa Roglic, mas esta vitória de Amaro será sempre o grande momento de 2017 na Algarvia.




Veja aqui os resultados da quinta e última etapa da Volta ao Algarve - que ligou Loulé ao Alto do Malhão (179,2 quillómetros) - e também as classificações finais.

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