(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet) |
Num dia típico de transição numa grande volta, o assunto acabou por se centrar no que aconteceu no Alpe d'Huez. Infelizmente não na grande exibição de Geraint Thomas, mas no exagero de alguns adeptos que acabaram por resultar no abandono de Vincenzo Nibali, por exemplo. O italiano afinal não caiu devido a uma moto da polícia, foi mesmo um adepto o culpado. Este foi o caso que teve um final mais grave, mas entre fumos, selfies, correr ao lado dos ciclistas, lá vieram as cuspidelas, ofensas e uma tentativa de empurrar Chris Froome.
No dia antes, nas redes sociais da Volta a França foi partilhado um vídeo a apelar ao civismo dos adeptos, já a pensar que no Alpe d'Huez o ambiente "aquece" muito e a linha entre o apoio aos ciclistas e a idiotice é facilmente ultrapassada. Em subidas como estas, os corredores já sabem que vão ter os adeptos ali tão perto, muitas vezes obrigando a irem em fila indiana, pois ocupam quase toda a estrada.
Ano após ano, seja no Tour, Giro, Vuelta, nos monumentos ou noutras corridas, este tipo de imagens é algo que faz parte da modalidade. E os ciclistas sentem a especial vibração que sai de um apoio assim. A questão é que no Alpe d'Huez ultrapassaram-se os limites do apoio. Não é caso inédito, longe disso. Os telemóveis ou outro tipo de câmaras que qualquer um hoje em dia tem, aliado ao ritual de partilhar nas redes sociais, expõem ainda mais estas situações, sendo que no caso de Nibali, até ajudou a esclarecer o que aconteceu.
Ano após ano, seja no Tour, Giro, Vuelta, nos monumentos ou noutras corridas, este tipo de imagens é algo que faz parte da modalidade. E os ciclistas sentem a especial vibração que sai de um apoio assim. A questão é que no Alpe d'Huez ultrapassaram-se os limites do apoio. Não é caso inédito, longe disso. Os telemóveis ou outro tipo de câmaras que qualquer um hoje em dia tem, aliado ao ritual de partilhar nas redes sociais, expõem ainda mais estas situações, sendo que no caso de Nibali, até ajudou a esclarecer o que aconteceu.
O receio centrava-se na recepção à Sky, principalmente a Chris Froome. Já no passado passar no Alpe d'Huez foi um inferno para o britânico e para o então companheiro Richie Porte. Os apupos fazem parte. Ninguém é obrigado a gostar deste ou daquele ciclista. Porém, quando um homem foi propositadamente directo a Froome e o tentou empurrar, então a idiotice atinge níveis inaceitáveis. Felizmente não conseguiu tocar como pretendia em Froome, que seguiu o seu caminho, mas ficou o gesto que não tem qualquer justificação, que valeu a essa pessoa (é difícil chamar a alguém assim um adepto) uma ida à esquadra.
Mas se a Sky poderia ser a mais visada da ira de certas pessoas, Vincenzo Nibali pagou o preço mais caro do descuido de alguém. Inicialmente foi avançada a informação que uma moto da polícia teria ficado sem espaço para passar entre os adeptos e o italiano tinha acabado por cair. Porém, houve quem filmasse o momento no meio do público. Uma espécie fita (talvez de uma máquina) ficou presa na bicicleta provocando a queda, na qual Nibali fracturou uma vértebra e viu meses de trabalho irem por água abaixo. Foi obrigado a abandonar a corrida que tinha apostado quase tudo em 2018.
Slow-mo version of Nibali crash vid showing cause pic.twitter.com/Maq6erHSVY— NakedCyclist (@NakedCyclist) 20 July 2018
Não se vai dizer que foi propositado. Provavelmente não o foi. Mas o descuido aconteceu e estragou o Tour de um ciclista que faz disto a sua vida. No ano passado, um adepto colocou um casaco sobre uma das grades que separava o público do percurso na Volta a Flandres. Peter Sagan acabou por cair e levar outros ciclistas com ele quando o seu guiador ficou preso nesse casaco. Um descuido, um gesto que pareceu tão inocente, mas acabou mal.
Todo o cuidado é pouco quando se assiste ao ciclismo. Estamos perante uma das poucas modalidades em que não é preciso comprar bilhete. Pode-se estar ali a apoiar de perto os ídolos. Esta é também a beleza do ciclismo, pelo que ouvir pessoas como Oleg Tinkov a querer cobrar entradas, é algo que não se consegue aceitar e a ideia foi rechaçada pela maioria. Felizmente!
São poucos aqueles que não respeitam minimamente os ciclistas, mas são os suficientes para estragar uma corrida. A moda das selfies enquanto o pelotão passa tornou-se um problema. Depois há a eterna vontade de aparecer na televisão. E que coisas tão engraçadas e bonitas se vêem, sem que a segurança fique em causa. Há espaço para os chamados "cromos", afinal também fazem parte da corrida. Mas há sempre quem vá longe de mais e já nem precisa de tentar aparecer na televisão, pois os vídeos próprios publicados na internet agravaram este questão.
Na quinta-feira era proibido vender álcool no Alpe d'Huez, mas a situação é contornada com o levar das próprias bebidas. Em Espanha tornou-se comum ver muitos polícias nas subidas e ainda assim nem sempre conseguem segurar todos. No Tour viu-se mais barreiras no Alpe d'Huez, mas houve zonas em que era impossível controlar todo o público. Resta esperar que aqueles que realmente gostam de ciclismo e que vão para a estrada para ver e apoiar os corredores, possam ser os primeiros a ajudar evitar qualquer problema.
Não há solução perfeita. Os incidentes como o de Nibali voltarão a acontecer. Mas já chega de correrias ao lado dos ciclistas, de os empurrar (não, nem todos gostam dessas supostas ajudas, que podem provocar quedas), de intervir naquele que é o seu trabalho. Crie-se o ambiente fantástico, vibre-se com aqueles que até cavalinhos fazem nas subidas, que até bebem uma cerveja com os adeptos... Viva-se o ciclismo, não se o estrague.
Sonny Colbrelli deixou ainda um outro apelo. Aquelas tochas que largam um fumo que tiram a visibilidade (como aconteceu quando Nibali caiu), que prejudicam a respiração de quem vai com as pulsações no limite, são um enorme problema para os ciclistas. Os tiffosi até gostam muito de os usar, mas no Alpe d'Huez estas tochas estavam viradas para a estrada. Colbrelli pediu para que fossem totalmente proibidas, em vez de haver apenas pedidos para que não sejam utilizadas. A ponderar...
A batalha por um comportamento correcto de todos os adeptos vai continuar, mas é lamentável que Nibali tenha pago um preço tão caro. Perde a Volta a França e perde quem gosta realmente desta modalidade.
Sagan vence no primeiro sprint sem alguns dos melhores
Peter Sagan desempatou com Fernando Gaviria e Dylan Groenewegen e soma agora três vitórias no Tour. A Groupama-FDJ foi quem mais trabalhou para Arnaud Démare, mas o francês foi apenas terceiro. Alexander Kristoff (UAE Team Emirates) foi quem obrigou Sagan aplicar-se mais, mas o ciclista da Bora-Hansgrohe foi superior num sprint algo estranho sem Gaviria, Groenewegen, André Greipel, Mark Cavendish e Marcel Kittel, ainda que estes dois últimos também não estiveram muito bem antes de serem excluídos por chegaram fora do tempo limite.
Sem alguns dos principais sprinters - abandonaram na etapa de quinta-feira - e com algumas das figuras das equipas também já de fora, há mais quem tenha tentado a sua sorte na 13ª etapa, 169,5 quilómetros entre Bourg d'Oisans e Valence. Magnus Cort Nielsen (Astana) e Taylor Phinney (EF Education First-Drapac) aparecem no top dez, por exemplo.
Mas acabou por ser a confirmação que Sagan está agora mais superior nos sprints. Para a camisola verde não tem certamente concorrência. Já são 228 pontos de vantagem sobre Kristoff. Contudo, o próprio realça que nada está ganho. Ainda tem de chegar a Paris e ganhar nos Campos Elísios tem de começar a estar mais do que nunca na mente deste grande ciclista.
Pode ver aqui as classificações.
Pode ver aqui as classificações.
14ª etapa: Saint-Paul-Trois-Châteaux - Mende, 188 quilómetros
É o regresso da montanha, ainda que no percurso mais pacífico em termos de dificuldade. Um pouco, pelo menos. Mas ela está lá e com tanta gente a precisar de recuperar tempo, será interessante perceber se alguém vai tentar ameaçar Geraint Thomas, ou se teremos de esperar pela terceira semana nos Pirenéus. A etapa está a convidar a algumas movimentações...
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