10 de julho de 2018

O risco das apostas duplas

(Fotografia: © ASO/Bruno Bade)
Já diz o provérbio que "quem tudo quer, tudo perde". A Katusha-Alpecin talvez não queira tudo, mas quer muito e está a ver tudo fugir quando apenas estão decorridas quatro etapas da Volta a França. Por um lado, preparou Ilnur Zakarin para o ataque à geral, depois do Giro ter sido durante três anos a principal aposta e no ano passado ainda foi à Vuelta fazer terceiro. Por outro lado, abriu os cordões à bolsa para garantir um dos melhores sprinters da actualidade: Marcel Kittel. Porém, o alemão está a ter uma temporada muito abaixo das suas capacidades e Zakarin está a ser perseguido por azares, algo que não é novidade para o ciclista.

A fase final da quarta etapa (195 quilómetros entre Le Baule e Sarzeau) voltou a ser acidentado. Rigoberto Uran (EF Education First-Drapac p/b Cannondale) e Mikel Landa (Movistar) apanharam um susto devido a uma queda que "apanhou" vários corredores, mas conseguiram reentrar na frente. Já Ilnur Zakarin não teve a mesma sorte. E lá perdeu mais 59 segundos. São 1:51 minutos para o líder Greg van Avermaet. Menos de um minuto se colocarmos Chris Froome e Richie Porte como referência, mas, ainda assim, é muito tempo para recuperar ainda mais tendo em conta a resposta da equipa quando Zakarin ficou para trás.

O russo ficou sozinho. Marcel Kittel manteve o seu comboio, ainda que pequeno, é certo, pois mais ciclistas da Katusha-Alpecin ficaram para trás. Zakarin tentou minimizar as perdas, mas a montanha ainda nem chegou e mais uma vez o russo vê-se desde cedo obrigado a ter de recuperar e não em pensar em tentar ganhar tempo. 2017 foi um ano positivo nas duas grandes voltas que realizou, contudo, antes, quedas e outros problemas foram sempre afastando este ciclista de outros voos. Poderia não aparecer numa primeira linha para ganhar o Tour, mas dele era esperado que pudesse estar na luta pelo top 10 e não se vai já colocar de parte a hipótese. Com a capacidade de luta que tem, um pouco mais não seria uma enorme surpresa.

Não é tempo de atirar a toalha ao chão para Zakarin, mas a Katusha-Alpecin vê a frustração aumentar com um Marcel Kittel que anda por ali nos sprints, mas sem estar verdadeiramente na luta. Tem ainda aquela atitude algo derrotista quando furou na segunda etapa, a cerca de sete quilómetros da meta, e rapidamente abdicou de tentar recuperar.

Em 2017 venceu por 13 vezes, mais a geral e classificação dos pontos da Volta ao Dubai. Cinco dos triunfos foram no Tour. Foi aquele super sprinter. Dois anos antes, um problema de saúde fez Kittel quase desaparecer. Mudou-se para a então Etixx-Quick Step, recuperou a sua melhor versão, mas não quis entrar numa batalha pela liderança com Fernando Gaviria e no final da última época quis sair. O resultado da mudança para a Katusha-Alpecin é uma vitória e um conjunto de exibições pouco (ou mesmo nada) convincentes. O Tour não fez, até agora, aparecer o melhor Kittel.

O objectivo da sua contratação foi para garantir mais vitórias. Por esta altura em 2017 a equipa tinha 14. Este ano tem quatro! O último Tour, com Kristoff a ser o líder, foi para esquecer. Este ano, a aposta dupla nos sprints e na geral não está a resultar. Ainda há muita corrida pela frente, mas nem Kittel, nem o seu comboio dão garantias de bons resultados e Zakarin terá de fazer algo de extraordinário. O que poderá valer à Katusha-Alpecin é que o russo é capaz desses momentos brilhantes. A equipa pode ter dinheiro, mas José Azevedo ainda está a tentar encontrar o equilíbrio no seu plantel que eleve a Katusha-Alpecin ao patamar ambicionado. Dividir para apoiar Kittel e Zakarin não está a ter o resultado desejado e o sprinter está a ser uma aposta falhada. A pressão sobre o alemão aumenta a cada dia que passa.

Mais uma para Gaviria

Três etapas ao sprint, duas vitórias. E na que não ganhou, nem esteve na discussão devido a uma queda. Aos 23 anos, Fernando Gaviria está mesmo a confirmar todas as expectativas. Tal como fez no Giro há um ano, está a conquistar os sprints no Tour com tremenda autoridade. Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) é quem mais consegue estar na sua roda, mas quando Gaviria arranca...

Nesta quarta etapa, André Greipel (Lotto Soudal) tentou mudar a táctica e antecipou-se no lançamento do sprint. Ficou perto, mas aos 35 anos, o alemão começa mesmo a ver a nova geração tomar conta de uma especialidade na qual foi uma referência durante muitas temporadas. Mas é excelente ver como não desiste. Com o seu futuro por definir, Greipel ainda tem algo para mostrar.

Na classificação geral, Greg van Avermaet é o primeiro neste Tour a conseguir manter a camisola amarela para um segundo dia.

Pode ver aqui as classificações.

(O texto continua por baixo do vídeo.)




Quinta etapa: Lorient-Quimper, 204,5 quilómetros

Finalmente começa a ver-se um sobe e desce. Duas quartas categorias, mais três de terceira e uma fase final pouco direita começa a pedir a outro tipo de ciclistas para se mostrarem. Será um "aquecimento" para um dos dias mais esperados, pois na quinta-feira será de do Mûr de Bretagne, que terá de ser ultrapassado duas vezes, a segunda para decidir o vencedor.



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