18 de julho de 2018

Mister Thomas, que grande etapa!

(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
Geraint Thomas a atacar quando Chris Froome está no grupo? Froome a responder e a tentar apanhar o companheiro? Se alguém há um ano dissesse que algo como a etapa de hoje pudesse acontecer na Sky, pensar-se-ia que era uma ideia de loucos. Mikel Landa tentou algo parecido em 2017 e levou um puxão de orelhas, mas 12 meses passaram e claramente muito mudou. Nos Alpes, Thomas não deixou dúvidas que é mesmo um co-líder e já está de amarelo. Costuma ser Froome que por esta altura gosta de estar no controlo das operações, mas se a Sky está na posição que tanto gosta em França, desta feita haverá algo diferente, algo impensável: Froome não é, por agora, tão chefe-de-fila como normalmente acontece.

Esta quinta-feira é dia de Alpe d'Huez e tudo pode mudar naquelas míticas 21 curvas. Thomas andava desejoso de vestir a amarela. Tem 1:25 minutos de vantagem sobre Chris Froome, com Tom Dumoulin a saltar para a terceira posição, a 1:44. Vão os homens da Sky unir-se até ao final desta semana e manter a amarela? Vai Froome atacar? Vai Thomas tentar alargar vantagem? E se alguém tiver dificuldades, terá ajuda, ou a equipa protege o líder do Tour ou opta por Froome, vencedor de quatro Voltas a França, um Giro e uma Vuelta?

Tanta questão que não se esperaria de colocar sobre uma equipa que tem alcançado o seu sucesso ao apostar num só líder e não deixando ninguém desafiar essa posição. Mesmo quando Froome "brincou" com Bradley Wiggins no Tour de 2012, nunca deixou o britânico sem apoio. Froome só deixará de lutar pela quinta Volta a França se não tiver capacidade para tal. Mesmo tendo feito o Giro - e ganho -, o ciclista demonstra estar, nesta altura, bem fisicamente, algo que não aconteceu quando Alberto Contador e Nairo Quintana tentaram a dobradinha. Porém, Thomas também já foi dizendo que quer ganhar e se conseguir manter esta forma, a Sky que agora tem duas armas a jogar, poderá ver-se com o problema de lidar com dois egos. É difícil não considerar que se for preciso escolher e se a diferença for mínima, Froome terá sempre vantagem.

É ele quem está a fazer história e a conseguir dobradinha Giro/Tour torná-lo-á no primeiro a alcançá-la desde Marco Pantani, em 1998. E há ainda que pensar que na Sky até já se pensa em levar Froome à Vuelta para tentar a tripla no mesmo ano.

Em último caso, a equipa pode tentar levar os dois ciclistas na frente até ao contra-relógio da penúltima etapa e, depois, que ganhe o melhor! Mas falta tanto Tour e o Alpe d'Huez poderá ajudar a responder a algumas questões.

Este Tour ganhou um interesse extra, depois de uma excelente etapa de montanha que deixou claro que a Sky está por cima e que a Movistar pode ter bons ciclistas, mas tacticamente acabou por falhar. Já Tom Dumoulin, outro ciclista que fez o Giro (foi segundo) esteve em excelente plano. O líder da Sunweb apresentou uma séria candidatura a pelo menos um pódio, num dia em que todos os outros candidatos falharam.

Depois de uma primeira etapa de alta montanha com pouca ou nenhuma história a nível de geral, a desta quarta-feira (108,5 quilometros entre Albertville e La Rosière Espace San Bernardo, com duas categorias especiais, uma segunda e uma primeira para terminar) foi curta e espectacular... bem ao estilo da Vuelta! E Geraint Thomas foi um senhor. Se é ou não capaz ganhar de uma grande volta, pode ser que seja desta vez que se perceba.

Valverde animou, mas a Movistar saiu derrotada

Foi o ataque de Alejandro Valverde que mexeu definitivamente com uma etapa que estava a ter aquele habitual ritmo da Sky, com uma fuga de muitos ciclistas na frente. Valverde distanciou-se, tinha Marc Soler à sua espera e até chegou a ser camisola amarela virtual (Greg van Avermaet finalmente cedeu). No entanto, a movimentação do espanhol apenas serviu para partir o grupo, pois Valverde acabaria apanhado e perdeu 3:30 minutos para Thomas. A Sky não se assustou com a movimentação e até teve a ajuda da Bahrain-Merida de Vincenzo Nibali.

Mikel Landa também se atrasou quase dois minutos, mas ainda está à frente na geral de Nairo Quintana. Mas esta Movistar está a ter uma missão cada vez mais difícil. Será preciso os seus dois líderes (já não há dúvidas que são dois) fazerem algo especial para reentrar na disputa e ambos têm capacidade para tal, pelo que não há razões para entrar em pânico. Landa caiu na etapa do pavé, quando foi tocado por outro ciclista. Caiu no alcatrão. Na terça-feira novo incidente, ainda na zona neutralizada. O espanhol admitiu que sofreu com as dores nas costas. Quintana não mostrou tudo o que pode. Deixou ir Thomas, deixou ir Froome e não conseguiu acompanhar. São 3:16 minutos de diferença para o galês. O colombiano não pode falhar no Alpe d'Huez. Pelo menos, com o ataque de Valverde, ficou claro que esta Movistar não vai ficar à espera de alguma falha da Sky.

Também Romain Bardet (AG2R), a 2:58, tem de se mexar depois de ter ficado com Quintana. Idem para Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida), a 2:14. Primoz Roglic é o outsider que se está a intrometer. Brilhante etapa do esloveno da Lotto-Jumbo, que está a 2:23 de Thomas, com o colega Steven Kruijswijk logo atrás, a 2:40.

Rigoberto Uran (EF Education First-Drapac p/b Cannondale) perdeu mais de 26 minutos. É o adeus ao sonho de ganhar o Tour, ao pódio e até ao top dez. Resta tentar uma etapa. Bob Jungels (Quick-Step Floors). Rafal Majka (Bora-Hansgrohe) e Bauke Mollema (Trek-Segafredo) podem ainda aspirar ao top dez, mas não podem continuar a perder tempo como estão a fazer. O polaco Majka é desde já uma das desilusões e a equipa anunciou que o ciclista irá agora tentar aguentar o melhor que conseguir com os melhores. Talvez esteja para breve a mudança total de táctica e vá antes atrás de vitórias de etapas.

Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) e Jakob Fuglsang (Astana) também não deixaram os melhores sinais, mas mantém contacto com o top dez. A maioria destes ciclistas está a pagar caro a etapa do pavé. As quedas deixaram mazelas que estão a arruinar os objectivos de alguns dos candidatos à partida para este Tour.

(O texto continua por baixo do vídeo.)



Mitchelton-Scott tão diferente

Se no Giro foi uma equipa coesa, forte, capaz de controlar etapas, no Tour tudo está diferente. Adam Yates não só ficou sozinho, como ainda houve a estranha coincidência de ver Mikel Nieve atacar para tentar perseguir a vitória de etapa, enquanto o britânico perdia contacto com o grupo de favoritos. Yates não fará nada de parecido com a exibição do irmão gémeo Simon no Giro (a fase positiva), estando a 5:51 minutos, num inesperado 16º lugar. Nieve foi apanhado por Thomas com a meta praticamente à vista e há que perguntar se valeu a pena sacrificar a ajuda a Yates. Tentou e dada a sua posição é normal que o tenha feito, mas quando Yates precisou de uma ajuda, não a teve.

Os Alpes estão a seleccionar um grupo que até era bastante grande de candidatos. Faltam depois os Pirenéus. Para já, não há vencedores anunciados, mesmo que a Sky esteja em vantagem. Já é algo diferente comparado com outras edições.

Pode ver aqui as classificações.

12ª etapa: Bourg-Saint-Maurice Les Arcs - Alpe d'Huez, 175,5 quilómetros

É o regresso do Alpe d'Huez ao percurso do Tour. É uma das subidas mais icónicas do ciclismo. As 21 curvas, com alguns dos principais nomes da história da modalidade lá gravados para a eternidade, são apenas duas das razões que tornam o Alpe d'Huez tão especial. O ambiente é inacreditável. O público toma conta da subida e a curva dos holandeses estará à espera de Tom Dumoulin, Mas serão muitos mais os franceses à espera de ver Romain Bardet juntar-se aos conquistadores desta subida. O espectáculo costuma estar garantido e que assim seja, pois uma Volta a França com Alpe d'Huez é sempre outra coisa.

Serão 13,8 quilómetros, com uma pendente média de 8,1% e máxima de 11,5% entre o quilómetro nove e dez.



»»Depois da típica etapa de montanha controlada pela Sky que venha uma ao estilo da Vuelta««

»»O espectáculo do caos««

Sem comentários:

Enviar um comentário