21 de julho de 2018

Thomas e Roglic começam a convencer

Roglic está na luta pelo pódio e talvez mais... (Fotografia: Twitter Lotto-Jumbo)
De Geraint Thomas já se sabe que é capaz de estar bem nas grandes voltas, mas como gregário. Como líder teve uma oportunidade e foi para casa mais cedo, ainda que não por culpa sua. Primoz Roglic chegou ao Tour para mostrar que está feito num voltista capaz mais do que um top dez. Ambos têm em comum serem dos melhores em provas por etapas de uma semana. Porém, partilham também a desconfiança se realmente têm capacidade para estar na luta por uma grande volta. Até ao momento, o Tour de 2018 está a ajudar a esclarecer estas dúvidas. A resposta é que temos ciclistas para a disputar a vitória. Pelo menos, para já.

A questão com corridas de três semanas é que é preciso estar bem durante os 21 dias. Há quase sempre um dia menos bom (um dia mau não é permitido a este nível) e como ainda faltam os Pirenéus, afirmar com toda certeza que Thomas e Roglic podem ganhar o Tour, pode ser cedo. Basta recordar o que aconteceu com Simon Yates no Giro. Parecia que estava mais do que encaminhado para uma vitória e depois lá veio aquele dia terrível de Bardonecchia (nem foi mau, foi mesmo um filme de terror, com quase 40 minutos perdidos). Se recuarmos a 2015 temos um Tom Dumoulin na Vuelta a também não aguentar quando as mais difíceis das subidas apareceram na última semana, no que foi um sinal que ainda havia muito a melhorar (e melhorou e bem!).

O que já ninguém lhes tira é que com a segunda semana a terminar, são duas das principais figuras da Volta a França. Geraint Thomas comprovou que não andou a falar de mais, quando se assumiu como co-líder e com condições de disputar o Tour. Não é só o estar de amarela que o demonstra (ainda que quase que seria suficiente), mas ganhou ainda as duas etapas com chegada em alta montanha e foi convincente nessas vitórias e também nas etapas seguintes, em que tem aproveitado para aumentar a vantagem, inclusivamente ao seu colega e líder número um da Sky, Chris Froome.

Thomas está a ser um senhor. Não mostra debilidades e se não fosse ter Froome como companheiro, estaria perto do topo nas apostas nesta fase. Com 1:39 minutos de vantagem - e se assim manter este domingo -, quando chegarem os Pirenéus, a Sky não irá pedir a Thomas para ajudar Froome se este tiver alguma dificuldade. Seria simplesmente mau de mais. O contrário também não acontecerá, certamente, não fosse Froome um vencedor de seis grandes voltas. Se Thomas mantiver o nível, então poderemos mesmo estar perante uma decisão que será feita no contra-relógio, no qual estará cada um por si.

Em final de contrato e com 32 anos, uma vitória seria brilhante, mas mesmo que se fique pelo pódio, ou na pior das hipóteses um top dez, pelo que fez até agora, Thomas ganhou poder de negociação. Se aguentar bem a última semana, o galês afastar qualquer desconfiança. É um voltista e se lhe deram condições, pode disputar uma grande volta. Mas vamos esperar pelos Pirenéus.

Quanto a Roglic (Lotto-Jumbo), este ano ganhou a Volta ao País Basco, Volta à Romandia e a "sua" corrida, Volta à Eslovénia. E não nos esquecemos como em 2017 foi primoroso na Volta ao Algarve. Para quem iniciou a carreira de ciclista apenas em 2013, a progressão é simplesmente fantástica. Este antigo saltador de esqui foi visto como talentoso e muito bom no contra-relógio. Chamou a atenção quando ganhou o contra-relógio no Giro, em 2016. Agora é um ciclista completo. Há imagem de um Tom Dumoulin, por exemplo, pode não ser exímio na montanha, como um Chris Froome ou um Alberto Contador (pode já se ter retirado, mas é inevitável ser um alvo de comparações), no entanto, Roglic faz-se valer das restantes características - como contra-relógista sabe também rolar bem -, para equilibrar as forças.

Quanto muito era visto como um outsider a um top dez neste Tour. Agora... tudo está diferente. O esloveno, de 28 anos, estava a fazer uma corrida até discreta, mas sempre bem colocado. Este sábado mostrou-se e ganhou uns segundos. Mais importante avisou que contem com ele para tentar surpreender e assim confirmar o que tem tentado convencer: está pronto para se tornar num voltista de respeito.

Tom Dumoulin (Sunweb) está a ser quem mais rivalidade impõe à Sky (1:50 de Thomas), mas a 2:38 da liderança, Roglic conquistou definitivamente a atenção dos adversários, até porque olhando para os quatro primeiros, uns são especialistas de contra-relógio - Dumoulin foi campeão do mundo, Roglic segundo, Froome terceiro - e Thomas também sabe o que é ganhar nesta especialidade. O esloveno está a tornar-se na outra dor de cabeça da Sky.

Que venham os Pirenéus para confirmar então Thomas e Roglic como voltistas para ganhar. Certo é que começaram a convencer, o que no caso de Thomas acontece um ano depois. Havemos sempre de ficar na dúvida o que teria acontecido se aquela moto da polícia não tivesse parado tão mal no Giro de 2017. Thomas foi forçado a abandonar. Faz parte do passado, agora é no Tour, no maior palco de todos que o galês se está a afirmar neste novo papel.

Omar Fraile dá vitória à Astana

(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
A época está a ser de grande nível para a equipa cazaque. Já são 22 vitórias. Porém, não vencer no Giro foi um pouco frustrante e com um Jakob Fuglsang a não ser ciclista para ombrear com Froome, Thomas e Dumoulin, Fraile deu um triunfo muito desejado na Astana. Este é um espanhol que Rui Costa conhece bem, pois venceu no Giro, deixando o português em segundo, no ano passado.

É um ciclista (28 anos) de grande qualidade. A nível táctico é dos melhores que neste momento está no pelotão e demonstrou isso mesmo na etapa entre Saint-Paul-Trois-Châteaux e Mende (188 quilómetros). Numa daquelas tiradas em que houve duas corridas - a fuga para vencer a etapa e a do pelotão pela geral -, Fraile soube atacar no momento certo para apanhar Jasper Stuyven (Trek-Segafredo) e depois não deixou Julian Alaphilippe (Quick-Step Floors) aproximar-se. E entretanto garantiu que Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) não recuperaria para discutir a vitória. Foi, portanto, um ataque no timing perfeito e o controlo do desgaste físico ideal para conquistar a sua primeira vitória no Tour.

É mais um daqueles ciclistas completo e que a Astana quererá aproveitar, pois tem potencial para render grandes triunfos.

Na luta particular pela geral, Roglic ganhou sete segundos ao trio Thomas/Froome/Dumoulin, enquanto Nairo Quintana continua a fraquejar e perdeu mais dez segundos para os três primeiros. Mikel Landa perdeu 19. A Movistar quis tanto, mas está a ver tudo escapar-lhe a cada dia que passa. Romain Bardet (AG2R) perdeu 14. Começa a ficar muito difícil para até aspirar ao pódio. Será preciso mexer com a corrida nos Pirenéus, até porque os três vão perder ainda mais tempo no contra-relógio.



15ª etapa: Millau - Carcassonne, 181,5 quilómetros

É o último dia antes do descanso e dada as diferenças que superam os três minutos a partir do quinto classificado, Romain Bardet, deixar tudo para os Pirenéus poderá significar entregar o pódio a quem está lá agora, com Roglic ainda na luta. Esta é uma etapa que tem o nome de Vincenzo Nibali, perante a descida até à recta da meta. Mas o italiano já não está no Tour. É mais um dia para que se possa ter uma fuga na luta pela vitória, enquanto no pelotão alguns ataques poderão verificar-se para recuperar, nem que sejam alguns segundos.




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