15 de julho de 2018

Renascer em Roubaix

(Fotografia: ©ASO/Pauline Ballet)
Qualquer vitória no Tour, fosse em que etapa fosse, deixaria John Degenkolb feliz e em lágrimas, como aconteceu este domingo. Porém, ser em Roubaix dá um significado ainda mais sentimental a um momento que o alemão procurava há tanto tempo. Degenkolb estava a desaparecer num pelotão que não perdoa quando não se anda ao melhor nível. Pensava-se se não estaria acabado, ou pelo menos a caminho de o estar. Mas Degenkolb é mais um exemplo como não se deve fazer suposições só porque existem más fases. E depois desta vitória, talvez possa mesmo ter sido isso, uma má fase da carreira deste excelente ciclista.

Não aparecia nas clássicas e nos grandes sprints não conseguia vencer, começando mesmo a mostrar alguma incapacidade para os disputar. O alemão precisava de uma vitória, de uma grande vitória para renascer e foi buscá-la onde em 2015 conquistou um dos seus dois monumentos. Roubaix marcará definitivamente a carreira deste ciclista.

As lágrimas era o mais visível sinal de como Degenkolb procurava e precisava desta vitória. Desde que uma irresponsabilidade de uma condutora deixou Degenkolb e alguns companheiros da então Giant-Alpecin (actual Sunweb) com ferimentos graves, que o alemão não mais tinha sido aquele fenomenal ciclista que no ano antes tinha conquistado a Milano-Sanremo, o Paris-Roubaix e ainda uma etapa na Vuelta, naquela que foi a última vitória numa grande volta, a décima na corrida espanhola. Quase ficou sem um dedo e foi obrigado a aprender a recolocar a sua mão no guiador, a travar... Foi um processo difícil para o alemão.

Mudou-se em 2017 para a Trek-Segafredo para tentar que novos ares pudessem significar um regresso ao seu melhor. Porém, Degenkolb (29 anos) estava a ser uma sombra de si próprio. Só três vitórias de um ciclista contratado para ocupar o lugar deixado vago por um inigualável Fabian Cancellara.

"Todos diziam que eu estava acabado depois do acidente e que nunca voltaria. Eu disse que não estava acabado", afirmou no final da nona etapa do Tour, uma autêntica clássica do pavé, com final em Roubaix, ainda que não no velódromo. "Pura felicidade", foi assim que descreveu o que sentia, a chorar, admitindo que há muito que perseguia esta grande vitória. Degenkolb abriu ainda o coração para dedicar a vitória a um amigo a quem considerava um segundo pai e que morreu no final do ano passado. Percebeu-se então que o sofrimento do ciclista ia muito além da falta de sucesso nas corridas.

Depois de Toms Skujins ter vestido a mítica camisola da montanha, afinal Degenkolb ainda tinha algo nele para dar à Trek-Segafredo. É a ganhar assim que se calam as dúvidas, as críticas e se grita em alto e bom sou: "Não estou acabado."

Resta dizer a Degenkolb, bem-vindo de volta aos grandes momentos! E agora se liberte dos fantasmas para ser tudo o que pode ser.


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