(Fotografia: © BORA-hansgrohe/Bettiniphoto) |
Eis uma classificação que surpresa seria se Peter Sagan não ganhasse. Fernando Gaviria ainda tentou assumir algum tipo de concorrência, mas bastou o terreno começar a inclinar, que o eslovaco fez-se valer da sua capacidade de ultrapassar algumas subidas para somar pontos em sprints intermédios nos quais Gaviria não estava, além de ser mais regular nas chegadas. Até nem se chateava muito quando o colombiano era mais forte. Sagan foi pontuando e quando o ciclista da Quick-Step Floors abandonou o Tour - juntamente com Dylan Groenewegen (Lotto-Jumbo) -, já se tinha percebido que a camisola verde estava quase definitivamente no corpo do seu dono pela sexta vez. O recorde de Erik Zabel está igualado e já podia estar ultrapassado. Mas não deverá demorar muito a tal acontecer. 12 meses, talvez...
Sagan fechou esta terça-feira a questão dos pontos, quando ainda faltam cinco etapas. Soma 472, contra os 170 de Alexander Kristoff (UAE Team Emirates) e os 133 de Arnaud Démare (Groupama-FDJ). Os 270 ainda disponíveis já não chegam para ameaçar o eslovaco. Esta é a classificação que fica em aberto até ao último dia. Não há consagração se em Paris uma vitória fizer a diferença. Mas tal não vai acontecer. Sagan só precisa mesmo de cortar a meta nos Campos Elísios e para quem na Volta a França já tem 11 vitórias de etapas (três nesta edição), vai a caminho de garantir a sexta camisola verde e já vestiu também a amarela, vencer em Paris é o próximo objectivo.
Os restantes planos serão retomados em 2019. O tricampeão do mundo vai à procura de ficar sozinho com o recorde das camisolas verdes e, apesar de estar bastante longe, a marca de 34 vitórias de Eddy Merckx é algo que não tem nada a perder em tentar. Mas quanto à classificação dos pontos, comparando com Zabel, Sagan conseguiu seis em sete Tours em que participou. No ano passado foi expulso da corrida após o incidente no sprint com Mark Cavendish, abrindo caminho para Michael Matthews (Sunweb), que até estava a querer rivalizar com Sagan, ao contrário desta edição (entretanto o australiano já abandonou por motivos de saúde).
Zabel estabeleceu a actual marca entre 1996 e 2001. Ou seja, tinha 31 anos quando venceu pela última vez. A primeira vitória veio no seu terceiro Tour. Sagan tem 28 anos. Tendo em conta como tem dominado praticamente a seu belo prazer esta classificação, se não se verificarem mudanças por parte da organização, então será difícil não ver o eslovaco somar mais umas quantas. Zabel terminou a carreira com 14 Tours. Só não concluiu na sua estreia. Até terminar a carreira, em 2008, o alemão nunca deixou de estar na luta por mais uma camisola, mas não conseguiu a sétima. Por curiosidade, foi o australiano Robbie McEwen que quebrou a senda de Zabel.
No que diz respeito a vitórias de etapa, o alemão soma 12, mas neste aspecto é outro número que Sagan tem (ou pode, não é certamente uma obrigação) de pensar. Merckx ganhou as 34 etapas em seis Tours. Tinha 30 anos quando venceu a última. Outros tempos. Sagan tem 11 em cinco Tours. Ficou em branco em 2014 e 2015. Mark Cavendish é quem está mais próximo do belga. Tem 30 triunfos, o último há dois anos, quando tinha 31.
Na era de Merckx os atletas atingiam o pico muito mais cedo. Já a diferença para Cavendish está no facto de estarmos perante um sprinter puro. Foi irrepreensível no seu auge. Sem dúvida nenhuma um dos melhores da última década. Em certos momentos parecia não haver rival, mas eles acabaram por aparecer. Peter Sagan está cada vez melhor no sprint e mede forças com facilidade com aqueles que têm esta características como especialidade. O eslovaco é um homem de clássicas, até já ganhou uma Volta a Califórnia. É um ciclista mais diversificado e o seu melhor pode ainda estar por ver.
Ainda assim, para chegar às 34, Sagan terá de ter um ritmo de vitórias elevado e Cavendish poderá dizer-lhe como é difícil mantê-lo, quando os anos começam a pesar e a nova geração vai ganhando o seu espaço.
Sagan adora desafios, mas também já se sabe como os encara. Se ganhar fica feliz, se não ganhar, tenta outra vez no dia seguinte. Sem pressão, quase se poderia dizer, não se estivesse perante alguém que receberá seis milhões de euros por ano.
Certo é se chegar a Paris, o ciclista da Bora-Hansgrohe terá o seu lugar na história da Volta a França. Para já partilhado com Zabel. No entanto, o próprio tem salientando como não é altura para celebrações antecipadas. Ainda faltam 579 quilómetros até à meta nos Campos Elísios e os 65 desta quarta-feira preocupam ciclistas que até podem passar bem montanhas, mas a perspectiva de ter de os fazer quase em contra-relógio, para garantir que não acabam fora do tempo limite, é algo que fica na mente de qualquer um, até de um ciclista tão confiante como Sagan.
»»65 quilómetros de muita incerteza««
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