25 de julho de 2018

Froome "é humano", Thomas o mais forte, Bernal o futuro a pedir para se tornar no presente

(Fotografia: © ASO/Alex Broadway)
Aconteceu mesmo. Lá estava Egan Bernal, à frente de Chris Froome, a olhar para o seu líder (um deles), à espera que este "apanhasse" a sua roda. Não foi o mesmo que Froome fez a Bradley Wiggins em 2012, quando então quis mostrar que era o mais forte. Naquele momento Bernal apenas estava à espera do britânico para o ajudar, mas ficou mais do que claro que o colombiano podia fazer muito mais e melhor se tivesse liberdade para tal. Assistiu-se a uma passagem de testemunho? Até parece injusto começar por Bernal tendo em conta que quem demonstrou enorme força foi Geraint Thomas, que está mais próximo de uma vitória inesperada, mas, pelo que fez até ao momento, será totalmente merecida se se confirmar. Mas Bernal... Que ciclista está a tornar-se.

"[Froome] é humano", disse Bernal à rádio COPE, depois de ter ajudado o britânico a segurar um lugar no pódio, por agora. No ano passado Froome tinha já mostrado esse seu lado menos mecanizado, por assim dizer. Os adversários perceberam que era mesmo possível bater o britânico e até a Sky, apesar de em Paris a história se ter repetido pela quarta vez com Froome, quinta em seis anos, se contarmos com a vitória de Bradley Wiggins. A equipa reapareceu em 2018 novamente forte, coesa e só Gianni Moscon estragou a harmonia ao agredir outro ciclista, sendo expulso da corrida. Já Froome está a pagar o preço de alguém que vai em três vitórias consecutivas em grandes voltas. E talvez toda a polémica do salbutamol também tenha a sua influência, mas esse pormenor psicológico só o ciclista poderá dizer se assim é.

Froome pode ter cedido, mas quem está a aproveitar é um companheiro e não um rival de outra equipa. Era o seu braço direito até este Tour. Geraint Thomas afastou todas as desconfianças. È um voltista para discutir as corridas e não apenas para ser gregário. O Tour não está ganho, mas a liderança da equipa é dele nos próximos dias. Até Froome garantiu que irá ajudar Thomas, um amigo que sempre esteve lá por ele. É altura de ser humilde e ser ele o braço direito. Só lhe fica bem e mantém também intacta a união na Sky.

Thomas está a ter o seu momento. Terá um enorme poder de negociação numa altura em que o seu contrato está a terminar. Porém, há um Bernal pronto para se tornar também ele num líder de três semanas. É o seu primeiro ano no World Tour, esta é a sua estreia numa grande volta e o jovem colombiano está a impressionar. Está a confirmar todo o potencial que lhe era apontado. Froome (33 anos) e Thomas (32) são o presente, mas o futuro da Sky já está à vista e promete continuar a manter esta equipa como dominadora nas corridas de três semanas.

O dia foi de Thomas e um pouco de Quintana

Bernal mostrou-se, mas não tirou o protagonismo a quem mais merece. Geraint Thomas não ganhou a sua terceira etapa neste Tour, mas pode muito bem ter dado um passo decisivo rumo a um triunfo em que ele terá sempre acreditado. O resto do mundo do ciclismo... não tanto. Manteve-se frio quando Primoz Roglic (lotto-Jumbo) atacou e Froome foi atrás do esloveno. Antes não se preocupou minimamente com Nairo Quintana (Movistar). Steven Kruijswijk (Lotto-Jumbo) também não fez Thomas tremer. Quando foi necessário agarrou-se à roda de Tom Dumoulin (Sunweb), deixou o companheiro Froome para trás e no momento certo arrancou. Em poucos metros ganhou cinco segundos a Dumoulin e Roglic, mais os quatro de bonificação. Froome perdeu quase um minuto e até a presença no pódio está tremida, com apenas 16 segundos a separá-lo de Roglic.

E que bem esteve o esloveno. Tentou mexer por duas vezes e acabou por ser decisivo em mostrar que Froome é mesmo humano. Dumoulin e Roglic são uma nova geração de voltistas. Não são aquele trepador puro, mas tornam-se mais completos, pois juntam também o contra-relógio como arma ainda mais letal. Geraint Thomas é um especialista no esforço individual, mas o campeão e vice-campeão do mundo são dois ciclistas que podem ameaçar a sua liderança no sábado. 1:59 e 2:41 minutos de vantagem é muito positivo, mas um azar, um imprevisto e Dumoulin e Roglic podem ser eles a sensação desta Volta a França.

O holandês admite que está difícil ir mais além do segundo lugar que agora ocupa (ultrapassou Froome). Mas não vai baixar os braços. Ainda falta uma etapa de montanha antes do contra-relógio. Esta quinta-feira poderá servir para recuperar o fôlego da tirada de 65 quilómetros, mas na sexta-feira haverá o mítico Tourmalet para subir e perto do final o Col d'Aubisque. A meta não será no topo. Haverá mais uma descida para testar os que ainda querem ameaçar Thomas.

(O texto continua por baixo da imagem.)



Falta falar de Nairo Quintana. Afinal ganhou a etapa, a sua segunda no Tour. A primeira foi em 2013! O colombiano fez o que lhe competia, mas ficou a sensação que ganhou a vantagem que lhe foi permitida ganhar. A sua fuga esteve sempre controlada. Saltou para o quinto lugar, a 3:30 de Thomas. Tendo em conta que à sua frente tem homens tão fortes no contra-relógio, ou consegue algo especial na etapa de sexta-feira, ou nem o pódio pode ser uma aspiração real nesta altura. 

Porém, o Tour está um pouco salvo para a Movistar com esta vitória de etapa e com a classificação de equipas praticamente garantida. São mais de 24 minutos de vantagem para a Bahrain-Merida. Já o colega Mikel Landa foi uma das desilusões do dia, só superado por Romain Bardet que fez ainda pior.  São agora 5:33 para Thomas. Ainda não é desta que a França quebra o enguiço de não ter um seu ciclista a ganhar o Tour.

O susto de Sagan


(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
Com a camisola verde já matematicamente garantida, Peter Sagan só precisa de cortar a meta em Paris para igualar o recorde de Erik Zabel. No entanto, o eslovaco não festejou esse feito e com razão. Ainda há muita corrida pela frente e esta quarta-feira o ciclista da Bora-Hansgrohe sofreu uma queda numa das descidas. Ficou muito mal tratado. Os exames médicos realizados no hospital demonstraram que não tem fracturas, mas a equipa anunciou que só de manhã será tomada a decisão se Sagan irá ou não continuar no Tour.

Quem também tem quase uma camisola assegurada é Julian Alaphilippe. O ciclista da Quick-Step Floors somou mais uns pontos para a montanha, enquanto Warren Barguil (Fortuneo-Samsic) não conseguiu entrar na fuga. São 140 pontos contra 73. A Alaphilippe basta controlar as movimentações de Barguil e assim chegar a Paris com uma das camisolas mais populares do ciclismo.

A grelha de partida

Foi uma ideia engraçada. Foi diferente ver os ciclistas colocados como uma corrida de Moto GP, mas fica-se por aí. Não teve qualquer resultado prático. Rapidamente o bloco da Sky estava formado. Ninguém das principais figuras quis atacar logo ao desligar das luzes. Só na última subida começou a verdadeira acção, sendo que até lá fizeram-se as jogadas tácticas, como a Movistar lançar Alejandro Valverde na frente.

Esta ideia pode ser riscada. Mas que tal experimentar o contra-relógio em estilo de perseguição? Isto é, os ciclistas partirem mediante as diferenças temporais na classificação.

A grelha de partida não funcionou, mas uma etapa curta resultou muito bem, como tem acontecido na Vuelta. Não foi fácil afastar o pensamento que Alberto Contador teria ficado ali tão bem... Quem assistiu à etapa no Eurosport teve a oportunidade de ver o espanhol fazer o reconhecimento da última subida com Juan Antonio Flecha e ainda apresentar algumas análises. E está muito bem na sua nova função.

Pode ver aqui as classificações após a 17ª etapa.

 


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