5 de julho de 2018

Os principais candidatos num Tour em que poucos faltaram à chamada

(Fotografia: © ASO/Alex Broadway)
A Volta a França chama sempre os melhores. É nesta grande volta que todos querem estar. Que todos querem ganhar. O Giro e a Vuelta podem até ser corridas que nos últimos anos têm proporcionado mais espectáculo, mas o Tour continua com o seu grau incomparável de importância e mediatismo absolutamente intocável. A 105ª edição não será diferente, mas o lote de candidatos não só é forte, como é mais alargado, comparativamente com anos recentes, por várias razões, como por exemplo: Mikel Landa surge com liberdade para lutar pela vitória e não estará preso a trabalho de gregário; Nairo Quintana pensou somente no Tour; Vincenzo Nibali surge de ambição renovada e Rigoberto Uran está como um dos favoritos, depois do que fez em 2017. A maioria dos principais voltistas estarão na corrida, com Thibaut Pinot e Fabio Aru a serem as principais ausências (o primeiro está a recuperar de uma pneumonia e o segundo optou antes por ir à Vuelta depois do falhanço no Giro) Aqui ficam aqueles que se espera estar na luta pela vitória, pódio ou, no mínimo, o top dez.

Chris Froome (33 anos, Sky)
Passado que está o susto de ser excluído da Volta a França por vontade da organização e aliviado que está pelo processo do salbutamol estar finalmente concluído, o britânico aparece como vencedor confirmado das últimas três grandes voltas, podendo alcançar a quarta consecutiva. Será preciso perceber como toda esta incerteza afectou a preparação do ciclista, que esteve ainda no Giro, o que nos últimos tempos tem significado uma performance menos positiva para quem depois quer ganhar o Tour. Froome está à distância de três semanas de entrar no grupo dos vencedores de cinco Voltas a França e se ganha quebra ainda o enguiço que dura desde 1998: ganhar o Giro e o Tour no mesmo ano. Ainda assim, se já no ano passado sofreu mais do que nas conquistas anteriores para vencer, espera-se que as dificuldades vão aumentar ainda mais. É favorito, mas não tão destacado como no passado.

Romain Bardet (27 anos, AG2R)
O francês realizou uma fase de clássicas muito positiva, com pódios na Strade Bianche e Liège-Bastogne-Liège. Pelo meio foi preparando o Tour em provas por etapas e quando chegou o Critérium du Dauphiné, Bardet apareceu muito bem, terminando na terceira posição. Depois de um segundo e terceiro lugar no Tour - este último segurado por apenas um segundo - Bardet quer estar definitivamente na luta pela vitória e ser ele quem entrará para a história como o sucessor de Bernard Hinault, o último francês a ganhar o Tour, em 1985. A equipa está forte e se na montanha não se duvida que Bardet pode fazer frente a qualquer rival, já o contra-relógio... A equipa tem trabalhado muito esta vertente até porque este ano há um colectivo, o que obrigou Bardet a ter também ele de treinar mais esta especialidade, depois de no ano ter dito que não iria preocupar-se muito mais. A atitude quase lhe custou o pódio. Porém, se se conseguir defender, os franceses podem certamente sonhar.

Richie Porte (33 anos, BMC)
Aquela queda... Há um ano o australiano chegou numa forma sensacional ao Tour e apresentava-se talvez como o mais forte dos adversários de Froome. Porém, uma queda mandou-o para casa mais cedo e ficou-se sem perceber se o antigo companheiro da Sky teria mesmo razões para estar preocupado. Este ano Porte tem andado mais discreto. Uma infecção respiratória limitou-o no início da temporada e ainda tem de pensar no seu futuro dada a incerteza da continuidade da BMC. No entanto, na Volta à Suíça Porte deixou a mensagem que podem contar com ele, ao vencer a geral. A ver vamos se teremos o ciclista com capacidade para discutir a corrida, como parecia em 2017. Se assim for está garantido espectáculo.

Nairo Quintana (28 anos, Movistar)
Tem apenas uma vitória em 2018, mas é o senhor regularidade nas classificações gerais. O pior foi o quinto lugar na Volta ao País Basco. Este ano voltou a ser tudo pelo Tour, pelo que fez uma época mais ao seu género, com menos dias de competição, tudo pensado em chegar a França o mais fresco possível. A edição de 2017 foi para esquecer, com o peso do Giro a estragar-lhe o "sueño amarillo". Quintana não precisa que se fale das suas qualidades como voltista, contudo, esta co-liderança com Mikel Landa lança algumas dúvidas sobre se a Movistar não vai acabar por ser prejudicada por uma eventual luta de egos dentro da equipa. O entendimento com Landa e também com Valverde será crucial. Se os três funcionarem, então a vitória poderá muito bem ficar na equipa espanhola. Senão... haverá muito a discutir depois da competição. A Quintana só falta o Tour para fechar as vitórias nas três grandes.

Mikel Landa (28 anos, Movistar)
O outro "galo" da equipa, contratado este ano à Sky. Landa até ia dizendo que gostava muito do Giro e que era a corrida que queria ganhar. Depois veio o Tour de 2017 em que o ciclista surgiu forte, mais forte que Froome, mas foi impedido de tentar ele um resultado pessoal. Ficou a um segundo do pódio e ficou com a certeza que poderia ganhar a corrida mais importante de três semanas. Apesar de ter Quintana como líder, Landa foi para a Movistar com o mesmo estatuto, mas sua prestação estará dependente, como foi dito no caso de Quintana, como o trio (não esquecer Valverde) irá funcionar e como irá funcionar a equipa no apoio. Se Landa e Quintana estiveram na discussão estará alguém disposto a abdicar para o outro garantir a vitória?

Tom Dumoulin (27 anos, Sunweb)
O holandês tenta afastar alguma pressão, afirmando que quer testar-se, fazendo duas grandes voltas consecutivas com o objectivo de lutar pela geral. É credível que Dumoulin aponte tudo a uma vitória no Tour apenas em 2019, ainda assim não é ciclista para ir passear. Os seus "testes" passarão por tentar estar pelo menos no pódio e de como reagirá agora que enfrentará os rivais mais fortes. Não que já não tenha encontrado alguns no Giro ou na Vuelta, mas é no Tour que o leque de favoritos é sempre o mais forte. Este é um teste que Dumoulin quer passar com distinção, nem que seja para deixar uma mensagem para o próximo ano.

Rigoberto Uran (31 anos, EF Education First-Drapac p/b Cannondale)
Já ninguém cairá no erro de menosprezar o colombiano. Quando parecia que o melhor de Uran já tinha passado, eis que surgiu como ameaça a Chris Froome no ano passado, terminando num surpreendente segundo lugar. Agora irá receber toda a atenção. Estará preparado para tal? Experiência em lidar com pressão não lhe falta, mas se há um ano chegou ao Tour sem que houvesse grandes expectativas, neste sábado partirá com elas bem altas. É um segundo fôlego numa carreira que Uran quer abrilhantar com mais uma grande exibição, mesmo que nem todos gostem da sua maneira de correr mais conservadora (ou seja, mais na roda, mexendo-se apenas pela certa), como aconteceu em 2017. Resultou, pelo que cada um joga a táctica que melhor se lhe adapta, goste-se ou não.

Adam Yates (25 anos, Mitchelton-Scott)
Depois do que o irmão gémeo, Simon, fez no Giro, agora é a vez de Adam mostrar que também ele é capaz de estar na luta por uma grande volta. É preciso salvaguardar as devidas diferenças entre as duas corridas, naturalmente, mas ambos os britânicos estão na fase de afirmação como candidatos sérios a vitórias nas maiores corridas, depois de andarem a dividir classificações da juventude. Adam apanhou um valente susto na Volta à Catalunha, quando numa queda fracturou a pélvis. Um enorme percalço na preparação para o Tour, mas a sua recuperação foi incrível. Dois meses depois apareceu a disputar a Volta à Califórnia e foi fazer segundo no Critérium du Dauphiné. Portanto, fisicamente não há problemas. A equipa deu-lhe o voto de confiança, escolhendo apenas ciclistas para o ajudar, deixando de fora o sprinter Caleb Ewan. A expectativa para os Yates é muita desde há uns três/quatro anos, mas com Simon a ter ficado a três etapas de garantir o Giro, agora é Adam quem vai à procura de pelo menos ficar no pódio do Tour.

Vincenzo Nibali (33 anos, Bahrain-Merida)
Apesar da estadia do Giro na "sua" Sicília, Nibali abdicou da grande volta italiana porque acredita que não terá muitas mais oportunidades para ganhar o Tour pela segunda vez. Apesar de ter já ter no seu currículo as três grandes voltas e três monumentos (duas vezes a Lombardia e este ano surpreendeu os sprinters ao escapar para vencer a Milano-Sanremo), Nibali vive com o estigma de ter conseguido algumas das principais vitórias na ausência dos melhores rivais. O Tour é um dos exemplos mais claros, pois em 2014 Alberto Contador e Chris Froome abandonaram depois de sofrerem quedas. Por tudo o que conseguiu, Nibali já pouco ou nada tem a provar, mas vencer este Tour, recheado de praticamente todas as principais estrelas da actualidade, não só seria uma brilhante vitória, como calaria de vez alguns dos seus detractores. Esteve muito abaixo do esperado no Critérium du Dauphiné, mas teve tempo para melhorar e é de esperar que apareça bem quando chegar a montanha, além de ser dos candidatos que melhor passa o pavé, na temida etapa nove.

Rafal Majka (28 anos, Bora-Hansgrohe)
Já tem top dez no Giro e Vuelta, sabe-se que tem qualidade, mas o Tour não tem sido simpático para com o polaco, salvando-se as três etapas já conquistadas. Apesar de Peter Sagan ser uma presença que ofusca qualquer ciclista, a Bora-Hansgrohe não deixa de dar algumas condições para que Majka possa tentar pelo menos um lugar entre os dez primeiros. O próprio corredor estará desejoso de finalmente aparecer bem e não sofrer azares neste Tour e assim afirmar-se definitivamente como um dos melhores voltistas e, talvez, começar a pensar em ir mais longe nas próximas grandes voltas.

Ilnur Zakarin (28 anos, Katusha-Alpecin)
2017 foi um bom ano para o russo, com uma prestação convincente no Giro e depois o pódio na Vuelta. Portanto, não restavam dúvidas que estava na altura de apostar tudo no Tour. Porém, a época tem sido marcada pela discrição. Se o corredor for analisado pelos resultados alcançados - o melhor foi no Grande Prémio Miguel Indurain - ou pelas exibições, então não se pode esperar muito de Zakarin. No entanto, é melhor não afastar desde já o russo de se intrometer entre os primeiros. O top dez é mais do que possível para este ciclista, agora falta saber se poderá ir mais além e estar na luta pelo menos pelo pódio. O senão é que a Katusha-Alpecin contratou um Marcel Kittel para somar vitórias, o que faz que os ciclistas escolhidos para estar no Tour se dividam entre o comboio para o alemão e o apoio a Zakarin. Isto poderá significar que o russo estará muitas vezes só na montanha.

Daniel Martin (31 anos, UAE Team Emirates)
De completa desgraça ao bom velho Martin. Foram exibições sofridas no arranque da temporada, nas Ardenas esteve muito abaixo do que é normal nas corridas que tanto gosta, mas Martin reagiu a tempo. No Critérium du Dauphiné viu-se aquele ciclista inconformado, sem medo de mexer na corrida, a atacar de longe... Um corredor espectáculo! O que mudou? Martin explicou que passou a tentar divertir-se mais a andar de bicicleta, o que lhe permitiu tirar um peso dos ombros de quem queria mostrar à sua nova equipa que não tinha falhado na aposta. Dizer que o irlandês é um candidato à vitória final é algo difícil (para não dizer impossível), contudo, é ciclista para mais do que o top dez. Tem um problema que partilha com outros líderes: a falta de equipa quando os momentos decisivos chegarem. Se conseguir ficar no um para um, então temos ciclista para ganhar etapas e depois, quem sabe apontar ao pódio. Mas não será nada, mesmo nada fácil numa UAE Team Emirates que continua a agir muito pouco como equipa.

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