(Fotografia: © EF Education First-Drapac p/b Cannondale) |
Ter um último classificado da Volta a França a ser quase tão falado como o vencedor deve ser algo quase inédito. Mas nem tudo é competição, nem tudo são vitórias que ficam na história e a que se tem direito a um bonito troféu. Por vezes, a atitude, a força mental e a solidariedade também têm espaço na alta competição. É por tudo isto que Lawson Craddock, o número 13 deste Tour, pode dizer que foi orgulhosamente último da corrida, do primeiro ao último dia.
Só durante 100 quilómetros não sofreu com as dores de quem fracturou a omoplata logo na primeira etapa. Uma queda que o deixou ainda com um rosto ensanguentado devido a um corte no sobrolho. Uma das imagens desta Volta a França. Poderia ter abandonado ao saber que tinha fracturado a omoplata, mas decidiu continuar e tornar a sua presença no Tour uma forma de angariar dinheiro para a reconstrução do velódromo de Alkek, em Houston, muito afectado pelo furacão Harvey, há um ano. Craddock comprometeu-se a doar 100 dólares (cerca de 85 euros) por cada etapa que terminasse. Apelou a que mais também ajudassem com o valor que quisessem.
O seu esforço não foi inglório. Na campanha criada na página Go Fund Me pode-se ver que vai em mais de 233 mil dólares, quase 200 mil euros. Mais do dobro do inicialmente pretendido. "Sem a campanha, eu se calhar teria ido para casa há duas semanas", admitiu Craddock, no comunicado da equipa EF Education First-Drapac p/b Cannondale. "Fui além dos meus limites. Muitas vezes durante a corrida não sabia se conseguiria, mas as palavras de encorajamento e a generosidade que todo o mundo mostrava, motivaram-me. Cortar a meta em Paris é algo extremamente emotivo", salientou.
Com o líder Rigoberto Uran a abandonar, a equipa não conseguiu obter nenhum resultado de nota neste Tour, depois do segundo lugar do colombiano na edição passada. Porém, o último lugar de Craddock foi um feito que até o director da equipa destacou. "O que o Lawson fez foi muito altruísta", referiu Jonathan Vaughters, que contou como toda a equipa o apoiou. Pierre Rolland, por exemplo, abria-lhe os géis durante a corrida.
Para aguentar as 21 etapas, incluindo a do pavé - que se foi infernal para muitos, ninguém a fez com uma fractura na omoplata -, Craddock foi submetido a três sessões de quiroprática por dia, além de ser constantemente acompanhado pelos médicos da equipa, directores e sempre pelos companheiros.
Muitas vezes se viu aquele número 13 no final do pelotão e até pode ter ficado com o título de lanterna vermelha, no entanto, quando se olha para os resultados nas etapas, há um que salta à vista: no Alpe d'Huez. Dos 153 ciclistas que nesse dia terminaram, Craddock foi 42º a "apenas" 23:39 de Geraint Thomas (Sky). De resto terminou sempre entre os últimos, mas é mesmo caso para dizer que Craddock foi orgulhosamente último: 145º, a 4:34:19 horas do camisola amarela, Geraint Thomas.
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