4 de julho de 2018

"Estar aqui, no ciclismo profissional, exige mais de mim"

Ainda não tinha completado 19 anos e Fábio Mansilhas concretizava o sonho que um jovem ciclista mais deseja: assinar por uma equipa profissional. A experiência na Rádio Popular-Boavista acabou por ser curta e na época seguinte, o corredor regressava ao nível amador. Uma desilusão? Nem pensar. Para Mansilhas foi a decisão mais do que correcta, que lhe permitiu continuar a trilhar o seu caminho e até a ganhar corridas. Este ano foi chamado para o novo projecto da LA Alumínios e tem sido dos ciclistas que mais se tem mostrado, principalmente no início de temporada, em que apareceu muito forte e obteve resultados positivos.

Se há algo que rapidamente se percebe sobre Mansilhas é que um bom desafio é sempre bem-vindo. A presença na Volta ao Algarve, por exemplo, foi encarada como uma forma de aproveitar a montra que a corrida portuguesa de categoria mais elevada proporciona, ainda mais quando conta com a maioria das principais equipas mundiais. Quando se fala de objectivos além de 2018, o ciclista coloca desde logo a Algarvia de 2019, mas claro que a Volta a Portugal também está entre aquelas provas em que quer aparecer bem e é já no dia 1 de Agosto que terá a oportunidade de se mostrar numa corrida em que não há equipa portuguesa que não queira estar bem. Ou melhor, muito bem.

"Terminar a Volta a Portugal é um objectivo importante para mim e para a equipa. Se conseguir a um pódio... A época está feita! Para o ano, quero estar bem na Volta ao Algarve, que é uma boa montra", salientou ao Volta ao Ciclismo. A LA Alumínios é um patrocinador já com muitos anos no ciclismo nacional. No entanto, esta época a equipa reformulou-se e começou praticamente do zero. Apostou nos jovens (é do escalão Continental, mas sub-25), tendo Nuno Almeida como o ciclista mais experiente, com passagens na Efapel e na então Louletano-Hospital de Loulé.


"Não foi difícil descer de escalão. Até acabou por ser bom porque tive a oportunidade de ganhar corridas"

Para Mansilhas este está a ser um ano de adaptação para a maioria dos ciclistas da LA Alumínios. São atletas que estão a fazer a estreia a este nível. Assegura que ele próprio está a passar por esse processo, apesar de já ter tido a experiência na Rádio Popular-Boavista. "Falhou muita coisa... Às vezes é melhor dar um passo atrás e depois dar dois em frente. Agora estou na LA, para o ano posso estar noutra equipa ou continuar aqui, por isso, tem sido um percurso positivo", realçou o ciclista. Tem agora 23 anos e esteve no São João de Ver, Anicolor e Miranda-Mortágua antes de aceitar a proposta da LA Alumínios: "Vamos crescendo e ficando mais maduros. Há quatro anos se calhar não pensava da mesma maneira que penso agora."

O corredor recordou um pouco mais da altura em que teve de deixar a Rádio Popular-Boavista, considerando que acabou por ser algo muito positivo. "Não foi difícil descer de escalão. Até acabou por ser bom porque tive a oportunidade de ganhar corridas e se calhar no Boavista isso não teria acontecido. Foi bom e fui à selecção... Fiz coisas bonitas", afirmou.

Evoluir tem estado sempre no pensamento de Mansilhas e estar numa equipa que lhe dá acesso a corridas mais importantes tem sido essencial para que neste 2018 note a diferença. Porém, destaca tudo o que rodeia uma equipa como a LA Alumínios e não apenas a evolução física: "Há outra responsabilidade. A estrutura é maior, os patrocinadores puxam por nós... Mesmo toda a conjuntura do ciclismo, a família, os amigos começam a falar da Volta ao Algarve, da Volta a Portugal... Então trabalha-se mais." Mansilhas acrescentou que há um método diferente de trabalho e, naturalmente, mais profissional de encarar a preparação das corridas, como por exemplo, fazer treinos em altitude. "Nunca tinha feito. É tudo diferente. Estar aqui, no ciclismo profissional, exige mais de mim", garantiu.

Realçou como tem os pés bem assentes na terra, recusando colocar a fasquia muito alta nesta fase da sua carreira. Quer ir passo a passo e assim reforçar a sua confiança e conquistar também ainda mais a confiança dos responsáveis da LA Alumínios, que tem como director desportivo Hernâni Brôco. "É preciso ter noção da realidade para no futuro conseguir alcançar mais coisas bonitas", disse.


"Tenho de ganhar experiência e maturidade. Tenho de ir aprendendo. Depois, mais tarde, vamos ver como me vou guiar"

Construir um projecto sólido e dar espaço para o desenvolvimento de jovens ciclistas são dois dos planos da LA Alumínios. Contudo, uma vitória é algo que todos na equipa ambicionam, sendo que até ao momento o prémio mais importante conquistado foi a classificação da montanha na Clássica da Primavera, por intermédio de David Ribeiro. Mansilhas tem aparecido muitas vezes na disputa de sprints, mas um triunfo ainda não lhe sorriu.

Mesmo sem vitórias, o corredor afasta o cenário de haver pressão para as alcançar. "A pressão às vezes vem mais de nós próprios [ciclistas] do que da equipa. Nós queremos ganhar, a equipa também, claro, e dão-nos as condições para isso. Temos a noção que a maior parte destes ciclistas estão no primeiro ano como profissionais e muito dificilmente alguém de primeiro ano ganha corridas."

Apesar de se ter mostrado bastante em sprints, Mansilhas não quer ficar desde já preso a essa definição como ciclista. "Tenho de ganhar experiência e maturidade. Tenho de ir aprendendo. Depois, mais tarde, vamos ver como me vou guiar. Penso que as chegadas ao sprint serão sempre um factor bom para mim. Em grupos pequenos já consegui fazer pódios. É preciso acreditar e dar tempo ao tempo", afirmou, deixando assim aberta a possibilidade de se tornar num ciclista com mais características, até porque em Portugal, o chamado sprinter puro tem sempre vida difícil, dado o terreno que de plano pouco tem.

Estar na LA Alumínios "é uma oportunidade única" que quer agarrar, nas palavras de Mansilhas e, por isso, aquilo que mais deseja é "simplesmente" trabalhar. Trabalhar muito.

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