5 de julho de 2018

Uma segunda linha de muita ambição na Volta a França

(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
Nem todos vão ao Tour com sonhos de vencer a grande corrida. Pelo menos não para já, com a excepção de Alejandro Valverde (os 38 anos podem não se notar nas vitórias, mas não permitem pensar a longo prazo). O que não vai faltar na corrida são ciclistas ambiciosos e desejosos de ir à procura de outras glórias. Dos mais novos até ao muito experiente há muito por onde escolher entre aqueles que não querem passar despercebidos, quando o terreno começar a subir. A Volta a França começa já neste sábado.

Warren Barguil (26 anos, Fortuneo-Samsic)
O próprio admitiu recentemente que está a realizar uma temporada a roçar o miserável. O francês (na fotografia) foi uma das figuras do Tour no ano passado, com duas vitórias de etapa, a camisola das bolinhas (montanha) e muitas exibições de grande nível. Porém, no melhor pano cai a nódoa e Barguil acabou expulso pela equipa, Sunweb, da Vuelta por ter desrespeitado ordens para ajudar um companheiro. Barguil estava decidido a ser ele a estrela de uma equipa, pelo que quebrou contrato e foi para a Fortuneo-Samsic, do escalão profissional. As poucas vezes que se tem visto o ciclista é quando está a ficar para trás. Ser líder tem muito que se lhe diga e Barguil tem uma responsabilidade acrescida que terá de assumir com bons resultados no Tour se não se quiser tornar num estrela fugaz do ciclismo gaulês.

Alejandro Valverde (38 anos, Movistar)
Há um ano, o espanhol sofreu uma queda no contra-relógio inaugural e chegou-se a temer o pior. Porém, não só a carreira de Valverde não acabou, como o espanhol regressou ao ritmo impressionante de vitórias, ainda mais tendo em conta a idade: sete triunfos, mais a conquista da Volta à Comunidade Valenciana, da Volta a Abu Dhabi, da Catalunha e da Route d'Occitanie. Apesar de na Movistar ter um papel essencial de ser uma voz de comando numa equipa com um Nairo Quintana e um Mikel Landa a apresentarem-se mais como rivais do que com companheiros, perante a forma de Valverde, irá alguém negar-lhe a possibilidade de ir mais além do que estar na ajuda aos dois colegas? Isto se se proporcionar, claro. O próprio não descarta que caso se apresente a oportunidade, então poderá tentar de novo ganhar uma corrida que quis pouco com ele quando se apresentou para lutar pela camisola amarela.

Bob Jungels (25 anos, Quick-Step Floors)
Chegou o momento de começar a provar do que é realmente capaz numa grande volta. Tem evoluído, com a equipa a dar-lhe o espaço para tal. No Giro dominou na juventude, mas aos 25 anos tem de se mostrar entre os "adultos". No que diz respeito a três semanas, Jungels quis pensar em 2018 apenas no Tour, pelo que será interessante de ver como se irá comportar. A Quick-Step Floors quer ver Fernando Gaviria ganhar sprints, o que deixará o luxemburguês com Julian Alaphilippe quando o terreno começar a subir. Jungels quererá desde já procurar uma boa classificação, mas não haverá problema de maior caso acabe antes à procura de uma etapa. Ficaria mesmo bem junto da conquista da Liège-Bastogne-Liège, em Abril

Julian Alaphilippe (26 anos, Quick-Step Floors)
Ainda é difícil ver este talentoso francês como um voltista de elevado nível. Já se sabe como é nas clássicas  - "tirou" a Flèche Wallonne a Valverde - ganha etapas e com um pouco mais de trabalho poderá tornar-se num ciclista para disputar corridas de uma semana. Agora as três?... Terá de ser Alaphilippe a mostrar que tipo de evolução vai procurar. Para este Tour é de esperar um ciclista ao ataque, à procura de etapas. De grandes etapas e bons espectáculos.

Tiesj Benoot (24 anos, Lotto Soudal)
É um daqueles ciclistas que pode ser o que quiser. A épica vitória na Strade Bianche confirmou (finalmente) toda a sua aptidão para certas clássicas. No entanto, também sabe andar muito bem em provas por etapas e há um ano, na estreia numa grande volta e logo no Tour, Benoot foi 20º. Esta será uma Lotto Soudal à caça de etapas, como tem sido habitual. Thomas de Gendt é o crónico candidato a animar os dias de montanha e até procurar lutar por essa classificação. Também Benoot poderá ter esse papel, mas depois do que fez em 2017, espreitar a classificação da juventude não seria de descurar. Talvez ainda não seja nesta Volta a França que se perceba se o belga poderá pensar em desenvolver as suas capacidades de voltista, mas é, para já, um potencial ciclista a procurar um bom lugar.

Primoz Roglic (28 anos, Lotto-Jumbo)
Steven Kruijswijk é o número um. Porém, é impossível afastar a ideia que o holandês deixou escapar a sua grande oportunidade naquele Giro de 2016. É para Roglic que mais se olha. O esloveno deu definitivamente o salto para se tornar num ciclista para as três semanas. O Tour será o seu grande teste, depois de este ano ter ganho a Volta ao País Basco, a Volta à Romandia e ainda foi a casa ganhar a Volta à Eslovénia. Foram as três últimas corridas que fez rumo a França. Roglic não estará preso a trabalho de apoio. Terá liberdade na prova mais desejada por todos. É mesmo caso para dizer que chegou o momento de Roglic.

Bauke Mollema (31 anos, Trek-Segafredo)
Sim, já tem top dez. Sim, já ganhou etapas (no Tour e na Vuelta). Sim, é um ciclista que se espera andar na frente da corrida. Mas não, não se espera que por lá fique até ao fim. Ou o holandês aparece a um nível inesperado, ou a Trek-Segafredo não poderá ambicionar mais do que um top dez e talvez uma etapa. O que não seria nada mau. Mollema não conseguiu tornar-se no líder que queria, apesar de a equipa até já ter apostado nele. Quando em 2017 contratou Alberto Contador, Mollema perdeu de imediato espaço. Já o tem novamente, mas ou faz algo de extraordinário (e surpreendente) ou irá perdê-lo. Talvez até para um ciclista que é mais velho que ele, se os rumores de que Richie Porte poderá estar a caminho da Trek-Segafredo se confirmarem.

Jakob Fuglsang (33 anos, Astana)
Em 2017, este dinamarquês estava com o moral em alta. A equipa prometeu-lhe a liderança do Tour, com Fabio Aru apontado ao Giro. Porém, tudo se desmoronou quando o italiano caiu e falhou a corrida italiana e foi então apontado para França. Fuglsang quis tentar manter-se como líder, mas era óbvio que não o seria, mesmo que tivesse ganho o Critérium du Dauphiné. Com a saída de Aru e sem a entrada de nenhum grande nome, Fuglsang recuperou o estatuto e tem estado em crescendo durante a temporada. Terminou praticamente sempre entre os primeiros, acumulou pódios e procura um bom resultado no Tour, a começar pelo top dez. Uma vitória não é de descartar, até porque esta Astana está com um espírito ganhador em 2018. Mais do que isto, seria uma surpresa. Mas será sempre bem-vinda para animar a corrida!

Lilian Calmejane (25 anos, Direct Energie)
Mesmo já longe do seu melhor, Thomas Voeckler sempre teve capacidade para roubar as atenções. Porém, retirou-se no final do Tour de 2017 e ficou estendida a passadeira para Calmejane começar a conquistar de vez a atenção dos franceses. É um ciclista de enorme potencial e não podemos deixar-nos enganar só porque está numa equipa Profissional Continental e não no World Tour. Se continuar a demonstrar a evolução que tem tido nos últimos dois anos, Calmejane terá à sua espera outros voos. Na edição passada ganhou uma etapa e é candidato a fazer o mesmo nesta. Algo mais... Talvez no futuro próximo, noutra equipa. Por agora, será um bom animador de etapas.

Jesús Herrada (27 anos, Cofidis)
Fez-se ciclistas na Movistar, mas percebeu que para ser algo mais do que um gregário, tinha de procurar outro caminho. A Cofidis acreditou no espanhol e irá dar-lhe a possibilidade de lutar por vitórias neste Tour. A equipa quer regressar aos tempos em que os seus ciclistas atacavam na montanha, animavam etapas e apareciam constantemente na frente. Se houver alguma vitória, ainda melhor. Para alcançar estes objectivos, a Cofidis deixou Nacer Bouhanni em casa, ainda que tenha Christophe Laporte para os sprints. No entanto, a responsabilidade de Herrada é grande. Terá mesmo de se mostrar.

Tejay van Garderen (29 anos, BMC)

Será que assumir um papel de gregário poderá mesmo ser uma ajuda para Van Garderen ainda vir a ser um bom líder? O americano tenta tudo para recuperar a confiança perdida nele, depois de ano após ano não ter confirmado as expectativas, ainda que também tenha sido perseguido por algum azar. Com o futuro da BMC por definir, este ciclista tem de mostrar algo, nem que seja em ser um bom apoio para Richie Porte. Porém, caso haja liberdade, então uma fuga para tentar conquistar uma etapa será algo que não poderá desperdiçar. Van Garderen arrisca-se a ir caindo no esquecimento se não encontrar forma de se mostrar, mesmo que seja como gregário.

Egan Bernal (21 anos, Sky)
É irresistível colocar aqui Bernal. Já se sabe como a Sky quer todos a trabalhar em prol do líder, pelo que Bernal não terá liberdade e irá mesmo estrear-se numa grande volta a trabalhar para Chris Froome. O que é honroso para qualquer jovem ciclista. Mas depois do que fez no seu primeiro ano no World Tour, que culminou com a vitória na Volta à Califórnia, deseja-se ver um pouco daquele colombiano fenomenal e que estará em França para continuar o seu trabalho de sucessor do rei Froome.

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