31 de dezembro de 2018

Cinco momentos para recordar da época em Portugal

Em Portugal teremos de esperar até 10 de Fevereiro para ver o pelotão nacional na estrada, com a região de Aveiro a receber mais uma vez o arranque de temporada. Foi precisamente nessa prova que se assistiu a um primeiro grande momento de ciclismo em 2018. Aqui ficam cinco exemplos do melhor que houve nas corridas portuguesas esta temporada. A modalidade por cá é muito mais do que a Volta a Portugal. Se a sexta vitória consecutiva da W52-FC Porto é visto como o ponto alto, vale a pena recordar outros grandes momentos.

Tiago Machado no seu melhor (4 de Fevereiro)
Preso ao trabalho de gregário na Katusha-Alpecin, em anos recentes têm sido poucas as oportunidades para Tiago Machado ser... ele próprio. Ou seja, aquele ciclista sem medo de cometer o que muitas vezes parece ser uma autêntica loucura. De vez em quando, as loucuras são premiadas e no arrancar de época em Portugal, Tiago Machado veio cá mostrar que vale a pena acreditar e arriscar.

Esteve 135 quilómetros dos 155,5 da Prova de Abertura Região de Aveiro em fuga, 80 dos quais sozinho. Chegou à Torreira a olhar para trás, com um pelotão a tentar fechar uma perseguição feroz. Mas Tiago Machado resistiu à concorrência, ao muito vento, ao frio e selou um triunfo com a camisola da Selecção Nacional.

É um ciclista de categoria World Tour e a partir de 2019 poderemos vê-lo a tempo inteiro no pelotão nacional, estando de regresso a Portugal pela mão do Sporting-Tavira. Agora que se libertará novamente do papel de gregário, vamos poder ver mais vezes este lado que tanto caracteriza Tiago Machado.

»»Não digam que está velho e acabado! Eis Tiago Machado««

Ruben Guerreiro quase conquistou o Malhão (18 de Fevereiro)
Quando este ciclista conseguir ter uma temporada sem azares, sejam eles quedas ou problemas de saúde, Ruben Guerreiro vai conseguir certamente mostrar mais vezes e em mais grandes corridas aquela versão do ciclista que subiu ao Alto do Malhão com um nível de quem tem tudo para ser um dos melhores.

Michal Kwiatkowski foi fantástico nessa etapa, numa jogada inesperada da Sky, que lançou o polaco na frente, mesmo que isso significasse que Geraint Thomas perdesse a camisola amarela para o colega. Ruben Guerreiro não baixou os braços. Encetou uma perseguição Malhão acima. Vai apanhar? Não vai apanhar Kwiatkowski? Foram momentos que fizeram suster a respiração. Haveria nova vitória no Malhão um ano depois de Amaro Antunes lá vencer? Por quatro segundos apenas Kwiatkowski ganhou. A etapa e garantiu também a Algarvia. Quatro segundos apenas tiraram a Ruben Guerreiro a primeira vitória no World Tour e logo em território português.

Ruben, o campeão nacional de 2017, vai mudar-se para a Katusha-Alpecin, depois de dois anos na Trek-Segafredo. Para 2019 só se pode desejar que venham mais exibições deste nível de um ciclista de quem muito se continua a esperar.

»»Quatro segundos separaram Ruben Guerreiro de mais um grande momento português no Malhão««

Luís Mendonça conquistou a Alentejana (18 de Março)
Pode ter começado a dedicar-se a 100% ao ciclismo já tarde, mas Luís Mendonça tem, ano após ano, demonstrado que nunca é tarde para concretizar os sonhos. Já estava tinha feito 30 anos quando conseguiu o seu primeiro contrato profissional, com Jorge Piedade a abrir-lhe as portas da equipa de Loulé. Mendonça é um daqueles atletas que acredita sempre ser possível ir mais além. Faltava-lhe uma grande vitória e não fez por menos: conquistou uma das corridas mais importantes em Portugal e uma de categoria internacional.

Em Évora, Luís Mendonça cortou a meta num misto de felicidade extrema e de algum alívio por finalmente ter concretizado o objectivo, depois de quilómetros de algum natural nervosismo, de quem está tão perto de um triunfo. Foram seis etapas intensas, um contra-relógio em que deu tudo e mais um pouco de si, para no dia seguinte selar a vitória que só o fez acreditar ainda mais que tem tempo para alcançar outras conquistas.

Mendonça recompensou assim a aposta feita nele da Aviludo-Louletano-Uli e durante a restante temporada continuou a aparecer sempre na frente de várias corridas, incluindo na Volta a Portugal. Uma etapa na Grandíssima continua a escapar-lhe, mas em 2019 terá outra liberdade numa Rádio Popular-Boavista que vê em Mendonça um ciclista com tudo o que é necessário para ir atrás de vitórias. Na Alentejana o seu triunfo teve ainda um significado especial para o ciclismo nacional, pois desde 2006 que um português não a vencia. Então tinha sido Sérgio Ribeiro o vencedor.

»»Luís Mendonça: muito trabalho, ainda mais dedicação e uma aposta ganha do Louletano««

»»"Sinto-me mais respeitado e que as pessoas acreditam que posso fazer coisas bonitas"««

Dobradinha de Domingos Gonçalves nos Nacionais (22 e 24 de Junho)
Foi um ano sensacional para Domingos Gonçalves. Seis vitórias, vários top dez, com aquele triunfo na etapa de Boticas na Volta a Portugal a ter certamente um sabor muito especial. Porém, houve um fim-de-semana que demonstrou como o gémeo de Barcelos era um dos ciclistas mais em forma em 2018. Os Nacionais foram de Domingos Gonçalves. Forte no contra-relógio, tendo revalidado o título, exímio na prova de estrada. Em 2017 uma queda tirou-lhe a possibilidade da dobradinha. Em 2018 ficou mesmo com as duas camisolas de campeão nacional.

No contra-relógio deixou o irmão, José, a 12 segundos, na prova de estrada - e o percurso de Belmonte de fácil pouco ou nada tinha - partiu para uma fuga solitária, num daqueles ataques cirúrgicos que tão bem sabe fazer e que lhe valeram vitórias em 2018. Joni Brandão, Henrique Casimiro, Tiago Machado, César Fonte, houve um grupo de respeito na sua perseguição. Mas quando Domingos Gonçalves está a 100% é um ciclista difícil de bater.

O gémeo regressou a Portuga em 2016l, vendo a Rádio Popular-Boavista como a equipa ideal para relançar a sua carreira. Ao segundo ano foi o ciclista que se sabe que pode ser, mas que nem sempre aparece. Vai a caminho de uma segunda oportunidade na Caja Rural, com as duas camisolas de campeão nacional para mostrar lá fora e, espera-se, também por cá.

Mais uma referência a uns Nacionais interessantes, com os gémeos Oliveira a conseguirem os títulos de contra-relógio (Ivo) e de estrada (Rui) na categoria de sub-23, eles que vão passar agora a ser ciclistas de elite, tanto na categoria de idade, como a nível de equipa, pois vão para o World Tour. Foram contratados pela UAE Team Emirates de Rui Costa. E nas senhoras foi Daniela Reis quem fez a dobradinha, a primeira ciclista portuguesa a chegar ao nível mais alto do ciclismo feminino e que em Belmonte demonstrou porquê.

»»José Santos tinha razão. "Não há anos iguais". Desta vez, Domingos fez mesmo a dobradinha««

»»"Já digo há algum tempo que o Domingos é o melhor contra-relogista nacional"««

O destemido Joni Brandão na Serra da Estrela (5 de Agosto)
(Imagem: Print Screen)
A Volta a Portugal foi novamente resumida ao domínio de uma W52-FC Porto, que, por momentos, parecia mostrar alguma fraqueza, mas que afinal apenas mudou um pouco a estratégia, com todo o seu poderio a vir eventualmente ao de cima. Raúl Alarcón venceu sem surpresa a sua segunda Volta, mas houve um dia, durante uma subida em que um ciclista deixou alguma esperança que talvez pudesse haver maior indefinição na corrida. Não conseguiu, é certo, mas a atitude de Joni Brandão foi importante, por ter sido o único que encarou de frente e de forma destemida o desafio de fazer algo que ninguém consegue desde 2013, quando começou a senda de vitórias da equipa do Sobrado.

A etapa rainha ficou sem a subida à Torre devido ao calor, numa decisão criticada por Brandão. O ciclista do Sporting-Tavira não percebeu porque não tinha sido assumida postura idêntica quando pelo sul do país os termómetros passaram dos 40 graus. A etapa perdeu alguma da sua espectacularidade e ficar-se-á sem saber o que poderia ter acontecido se a mítica subida tivesse sido cumprida. Assim, fica para a história o ataque de Brandão e a resposta precisa de Alarcón que arruinou o sonho do adversário do Sporting-Tavira e comprovou que seria quase impossível tirar-lhe uma nova vitória.

A Joni Brandão restou-lhe um segundo lugar na Volta, mas naquele dia ofereceu aos adeptos do ciclismo espectáculo. Não conseguiu repeti a performance. Alarcón não deixou, mas este é o Joni Brandão que a Efapel espera ter de novo nas suas fileiras em 2019.

»»É assim mesmo Joni!««

Momentos extra: um russo em Portugal
Por cá houve um russo que andou a somar conquistas e de forma peremptória. Dmitry Strakhov, ciclista da Lokosphinx, de 23 anos, começou por arrebatar a Clássica da Arrábida, depois foi ao Alentejo ganhar duas etapas e a camisola dos pontos e no Grande Prémio Beiras e Serra da Estrela venceu uma tirada e a geral. Por Espanha também somou resultados relevantes, o que o levou a ser chamado para um estágio na Katusha-Alpecin a partir de Agosto. Depois de tanto conquistar em Portugal, Strakhov vai agora ser companheiro de José Gonçalves e Ruben Guerreiro. O director da Katusha-Alpecin, José Azevedo, contratou-o para 2019.

»»Strakhov bate César Fonte por um segundo««

»»Russo Strakhov mantém amor por Portugal««

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