Portugal vai este fim-de-semana procurar somar mais uns valiosos pontos rumo ao objectivo de apurar pela primeira vez atletas de ciclismo de pista para os Jogos Olímpicos. A qualificação é longa e as contas dependem de vários factores. Porém, o seleccionador Gabriel Mendes, que sido um dos mentores do sucesso desta vertente que tem crescido nos últimos anos no país, está confiante que o feito inédito é possível, mas ainda há muito trabalho pela frente.
A quarta etapa da Taça do Mundo realiza-se em Londres, com a Equipa Portugal a marcar presença no madison e no omnium, as duas disciplinas em que procura a qualificação olímpica. Maria Martins também terá a oportunidade de estar presente, no que poderá ser o início de um feito também no feminino.
Mas afinal, como se processa esta qualificação? Está tudo interligado, ou seja, há que estar bem nas Taças do Mundo, para reforçar os rankings, para assim se estar nos Mundiais, que têm o maior peso quando se quer estar em Tóquio2020. O Campeonato do Mundo é a competição que dá mais pontos, pelo que haverá dois: o que finaliza esta temporada de 2018/19 e o de 2019/20 para influenciar o ranking olímpico.
O Campeonato da Europa também entra nas contas, enquanto as Taças do Mundo, são as melhores três de cada temporada que vão ser contabilizadas no ranking olímpico. De salientar que as selecções têm obrigatoriamente de fazer uma fora do seu continente, ou seja, Portugal não pode fazer apenas as Taças do Mundo na Europa, se assim fosse, só contariam duas.
Para se conseguir o apuramento para as Taças do Mundo, interessa o ranking indivual dos atletas, que entra depois para o ranking nações, com as pontuações dos três melhores ciclistas.
Apesar do objectivo de qualificação dos Jogos Olímpicos ser um dos principais, Gabriel Mendes fala em Tóquio2020 como algo a alcançar a médio prazo, porque salientou ao Volta ao Ciclismo como a Equipa Portugal entra nas competições para as discutir, sejam disciplinas olímpicas, ou não (a perseguição individual, na qual Ivo Oliveira é vice-campeão europeu e mundial, não está no programa olímpico). Portanto, há Mundiais e Europeus para se preparar antes dos Jogos.
Mas continuando com o processo de qualificação para Tóquio. Portugal procurar agarrar uma vaga no madison e omnium, ou pelo menos nesta última disciplina. Se conseguir no madison, automaticamente terá um ciclista no omnium.
São 16 as vagas no madison, sendo que oito são preenchidas pelas nações que se apurarem na perseguição por equipas. Ou seja, Portugal olha para as restantes oito vagas. "Está a correr bem. Temos dois oitavos lugares na prova de madison, no omnium temos um 11º e o Rui fez 16º na última Taça do Mundo [em Berlim] e ainda temos três Taças do Mundo para melhorar resultados", referiu Gabriel Mendes, que realçou a necessidade de melhorar no omnium. "É um processo passo a passo", referiu quanto à qualificação.
No ranking olímpico, Portugal é neste momento, antes do início da Taça do Mundo de Londres, 15º classificado, com 1550 pontos, não estando longe dos adversários imediatamente acima, como Irlanda (1620) e Bielorrússia (1720), por exemplo. Já no omnium, Portugal ocupa a 23º posição no ranking olímpico, com 515 pontos.
De referir que competições como o recente Troféu Internacional Município de Anadia também têm pontos em jogo, mas menos do que os dados em Taças do Mundo, Europeus e Mundiais.
O seleccionador está confiante que a qualificação pode mesmo ser uma realidade, ainda que se esteja numa fase inicial: "Estamos a fazer o nosso trabalho e estamos a fazer bem." Os gémeos Oliveira têm uma vital importância neste processo, sendo o rosto do ciclismo de pista que, no entanto, tem outro elemento essencial. João Matias é já um valor mais do que confirmado, com César Martingil a ser aposta constante, preparando-se para a estreia em Taças do Mundo este fim-de-semana.
Ivo e Rui estão a cerca de 15 dias de vestir pela primeira vez o equipamento de uma formação do World Tour. Os gémeos vão representar a UAE Team Emirates, mas a pista irá continuar a ser aposta para ambos. Gabriel Mendes garantiu que não haverá problemas em conciliar a pista e a estrada. "É uma questão de planeamento e nós trabalhamos com a equipa para podermos lutar por este objectivo. Eles são fundamentais. A equipa está a colaborar nesse plano trabalho. Não vejo problemas", disse. O seleccionador deu o exemplo do que aconteceu com o italiano Elia Viviani, que conciliou a pista e a estrada e tanto a equipa como a selecção ficaram a ganhar. O mesmo pode acontecer com a UAE Team Emirates, pois, para Gabriel Mendes, também sai valorizada com o sucesso de Ivo e Rui na pista.
Maria Martins com oportunidade de ouro
Com o ciclismo feminino a anos-luz do masculino em Portugal, Maria Martins é neste momento a grande referência no que a pista diz respeito. Aos 19 anos vai quebrando barreiras, tentando ser uma pioneira nesta vertente. Apesar da idade, já compete em elite e recebeu a oportunidade de ouro de ir à Taça do Mundo de Londres.
Voltamos a fazer contas. "Não obtivemos qualificação por vaga para a Taça do Mundo, somos a reserva número cinco na prova de omnium e a Maria tem a possibilidade de competir, uma vez que houve países que não fizeram uso da quota", explicou Gabriel Mendes. Isto significa que Maria Martins tem a possibilidade de pontuar para o ranking olímpico, no qual já tem um nono lugar conquistados nos Europeus. Por outro lado, um bom resultado permite subir no ranking individual e ambicionar estar nos Mundiais. A maior parte da quota é preenchida por quem se apura via ranking das nações, mas, como afirmou o seleccionador, 1/3 é preenchida pelo ranking individual e é aí que entra Maria Martins.
Numa ambição maior, se conseguir um lugar no Campeonato do Mundo, podem começar a abrirem-se as portas para uma possível qualificação olímpica, o que seria mais um feito inédito. Nesta caso, estamos a falar numa presença na disciplina do omnium, com Maria Martins a ocupar a 36ª posição no ranking, com 900 pontos, mas também com algumas adversárias acima da ciclista portuguesa na tabela a estarem muito perto.
Taça do Mundo de Londres
César Martingil e Maria Martins vão então fazer a sua estreia nestas competições este fim-de-semana. O ciclista da Liberty Seguros-Carglass e que irá mudar-se para o Sporting-Tavira em 2019, vai formar dupla com Miguel do Rego (CM Aubervilliers) no madison, numa prova marcada para as 18:45 de sábado.
João Matias (Vito-Feirense-BlackJack) vai competir no omnium no domingo: scratch às 9:45, corrida tempo às 12:20, eliminação às 15:10 e corrida por pontos às 17:05.
Quanto a Maria Martins é no sábado que estará em acção no omnium: scratch às 9:45, corrida tempo às 12:20, eliminação às 15:10 e corrida por pontos às 17:05.
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