15 de dezembro de 2018

Sunweb entre um senhor Dumoulin e as infelicidades de Matthews e Kelderman

(Fotografia: Facebook Team Sunweb)
A grande questão na Sunweb era: irá Tom Dumoulin confirmar que é um dos principais voltistas da actualidade? A vitória no Giro de 2017 fez crescer a vontade de assistir a um frente-a-frente com Chris Froome (Sky), que acabou por não acontecer primeiro no Tour, como se esperava. Ambos decidiram ir à Volta a Itália. Nesse duelo em particular, Dumoulin perdeu, mas o holandês não deixou qualquer dúvidas. Está feito num senhor ciclista, que pode disputar qualquer grande volta e se não ganhou este ano, não é qualquer um que possa dizer que fez segundo no Giro e no Tour na mesma temporada.

Desde 1998 que ninguém conquista estas duas grandes voltas no mesmo ano, mas Dumoulin foi o único que conseguiu ser competitivo com possibilidade de vitória em ambas. O holandês entra definitivamente na lista de candidatos a ganhar e não "apenas" a um top 10, enquanto a Sunweb completou com sucesso a transformação de uma equipa que apostava em sprints ou fugas para somar triunfos, para uma que quer e pode vencer grandes voltas. É um conjunto que está a ficar mais forte de ano para ano, principalmente devido a jovens que são já garantias de trabalho bem feito, como é o caso de Sam Oomen, um ciclista que também é visto como possível sucessor de Dumoulin, ou mesmo um próximo líder, a par do companheiro.

Sem ser um ciclista de explosão nas subidas, Dumoulin já consegue ultrapassar a mais difícil das subidas (como aconteceu nos Mundiais de Innsbruck), mantendo aquele seu ritmo certinho, com uma ou outra pequena aceleração e, claro, o contra-relógio faz a diferença, mesmo que os organizadores estejam a reduzir o número de quilómetros. É uma decisão que pode não estar a agradar ao holandês, mas também não o afastará da discussão. Dumoulin, com a camisola de campeão do mundo, ganhou no contra-relógio tanto no Giro, como no Tour. Excelente temporada de ciclista de 28 anos, que teve como maior desilusão ter perdido o título mundial da especialidade para o australiano Rohan Dennis e ficou à porta do pódio na prova de estrada.

Dumoulin ainda foi notícia por ter explicado afinal o que tinha provocado a dor de barriga mais famosa do ciclismo! Aquela paragem "técnica" no Giro de 2017 foi provocada por digerir mal a frutose e a lactose. Agora está tudo mais do que controlado e só se pensa em mais frente-a-frente entre Tom Dumoulin e Chris Froome (e não só), com o ciclista indeciso quanto às grandes voltas a realizar em 2019, já que a mudança de mentalidade quanto aos contra-relógios, tornam o Tour menos favorável, mas é também a corrida que mais quer ganhar.*


Ranking: 9º (7266,95 pontos)
Vitórias: 11 (incluindo uma etapa no Giro e no Tour e as clássicas do Quebeque e Montreal)
Ciclista com mais triunfos: Michael Matthews (4)


O holandês acaba por centrar grande parte das atenções da Sunweb, mas Michael Matthews tem igualmente o seu destaque. Nem sempre pelo melhor. Que época tão complicada para o australiano! Depois de um 2017 memorável, com duas vitórias e a camisola verde no Tour, Matthews começou a época a cair e a partir a clavícula. Regressou na Milano-Sanremo, venceu o prólogo na Volta à Romandia, mas foram muitas as frustrações ao ver os rivais ficarem com as vitórias pelas quais lutava. 

Matthews ficava perto, mas faltava sempre algo. Apostou forte no Tour, mas adoeceu e nem partiu para a quinta etapa. Desilusão total. "Vingou-se" no final de temporada, com três triunfos, sendo o rei das clássicas do Canadá, ao vencer as duas. Ainda assim, não ficou completamente satisfeito e rapidamente começou a pensar em 2019 e em regressar em força, ponderando estrear-se na Volta a Flandres.

Também Wilco Kelderman teve uma época que não trará grandes recordações. O objectivo era afirmar-se definitivamente depois de um 2017 muito positivo, principalmente com o quarto lugar na Vuelta. Entre ser gregário de Dumoulin e ter as suas oportunidades, o holandês viu duas quedas estragarem-lhe a temporada. Em Março partiu a clavícula, em Junho, nos Nacionais, lesionou-se no ombro e falhou o Tour. Foi a Espanha tentar salvar algo de 2018, mas não conseguiu atingir o pico de forma pretendido. Ainda assim foi 10º, mostrando que a Sunweb pode acreditar que, sem azares, Kelderman é ciclista para dar muitas alegrias e ser uma ajuda preciosa para o líder Dumoulin.

Sam Oomen (23 anos) foi um gregário de luxo no Giro (e até foi nono na geral) e venceu a classificação da juventude na Volta ao Algarve, sendo um ciclista com um futuro muito, muito promissor. Mas mais dois jovens deixaram as suas credenciais. O dinamarquês Soren Kragh Andersen (24) e o alemão Max Walscheid (25) realizaram boas provas e somaram duas vitórias cada.

Outro germânico Lennard Kämna (22) teve uma época mais de evolução, esperando-se que vá assumir maior responsabilidade em 2019. É um corredor interessante para as provas por etapas. Max Kanter realizou um estágio que convenceu os responsáveis a promovê-lo à equipa principal depois de passar pela de desenvolvimento. O mesmo aconteceu com Marc Hirschi, o suíço que foi a Innsbruck ser campeão do mundo de sub-23 e de quem já muito se espera muito. Joris Nieuwenhuis (22) é o terceiro atleta que será promovido. Os jovens vão tendo cada vez mais preponderância numa Sunweb a ambicionar no presente, mas sempre a olhar para o futuro.

O australiano Robert Power (Mitchelton-Scott) será, aos 23 anos, um corredor que reforçará o bloco das clássicas, à espreita da primeira oportunidade que lhe surja para tentar ganhar.

Com Dumoulin a destacar-se, não foi, ainda assim, uma época fácil para a Sunweb principalmente pelos infortúnios que atingiram alguns ciclistas, além de Matthews e Kelderman. Para 2019 a ambição vai continuar a crescer, com a equipa a não temer apostar cada vez mais num grupo de jovens de enorme potencial, não se assustando com o adeus de ciclistas que foram o grande apoio nesta evolução de Dumoulin ao estatuto de um dos grandes corredores de nível mundial.

As saídas de Laurens ten Dam e de Simon Geschke, ambos vão para a CCC, terão desiludido um pouco Dumoulin, já que foram dois fiéis gregários. Rumam ainda a outras equipas um Edward Theuns, que passou completamente ao lado da temporada, Lennard Hofstede, Mike Teunissen (ambos vão para a Jumbo-Visma) e Phil Bauhaus (Bahrain-Merida). No entanto, se os jovens são aposta para a renovação da equipa, a experiência também é necessária, pelo que chegarão Nicholas Roche (BMC) e Jan Bakelants (AG2R).

Esta Sunweb deixou definitivamente para trás os tempos de Marcel Kittel e John Degenkolb. Agora quer uma Volta a França, não deixando para trás o Giro e Vuelta. Dumoulin é a estrela, mas a equipa que tem um patrocinador que renovou sem limite de prazo, o que permite apostar numa estrutura de formação e também inclui um conjunto forte de mulheres na equipa feminina, quer ganhar todas as corridas. O Tour é o grande sonho, os monumentos são objectivos... A Sunweb quer ser definitivamente uma das melhores do mundo e passo a passo está a conseguir alcançar o topo.

Permanências: Tom Dumoulin, Wilco Kelderman, Michael Matthews, Sam Oomen, Soren Kragh Andersen, Nikias Arndt, Roy Curvers, Johannes Fröhlinger, Chad Haga, Chris Hamilton, Jai Hindley, Lennard Kämna, Michael Storer, Martijn Tusveld, Louis Vervaeke e Max Walscheid.

Contratações: Jan Bakelants (AG2R),  Robert Power (Mitchelton-Scott), Nicolas Roche (BMC), Marc Hirschi (Development Sunweb), Max Kanter (Development Sunweb), Joris Nieuwenhuis (Development Sunweb), Casper Pedersen (Aqua Blue Sport), Cees Bol (SEG Racing Academy) e Asbjorn Kragh Andersen (Virtu Cycling).

*Nota: Foi revelado na manhã deste domingo que Tom Dumoulin vai apostar novamente na Volta a Itália em 2019.

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