7 de dezembro de 2018

"Eles [tio e pai] sabem muito de ciclismo e eu aprendi muito com ambos"

(Fotografia: © João Calado/Federação Portuguesa de Ciclismo)
O apelido não passa despercebido e não é coincidência. Tiago da Silva é sobrinho de Acácio da Silva, uma das principais figuras do ciclismo português, que vestiu a camisola amarela no Tour, a rosa no Giro, vencendo ainda etapas. Tiago é um ciclista diferente do tio, descrevendo-se como sprinter e puncheur, garantindo que passa bem alguma montanha, mais pequena. Não esconde o orgulho que tem tanto do seu tio, como também do pai, Francisco, que é o director desportivo da equipa luxemburguesa Differdange-Losch, que Tiago representa há três temporadas. Aos 21 anos, está a relançar a sua carreira depois de uma operação a uma veia pulmonar. Viajou até Portugal para preparar a nova época, estando a competir no Troféu Internacional Município de Anadia, que decorre no Velódromo Nacional até domingo.

A cirurgia foi em Agosto de 2017 e as semanas que se seguiram foram difíceis. Quando regressou às corridas, enfrentou dificuldades para recuperar o ritmo necessário para a alta competição. "Não foi fácil... Mas tinha a motivação de estar a correr no nível Continental. As primeiras três corridas [já em 2018] foram muito complicadas, mas depois comecei a apanhar o ritmo e, nas últimas, andei melhor", contou ao Volta ao Ciclismo. Está completamente recuperado e já só pensa em discutir os sprints, uma vez que será uma das apostas neste tipo de chegadas da Differdange-Losch na próxima temporada.

Nasceu no Luxemburgo, mas tem dupla nacionalidade. Será que uma chamada à Selecção Nacional seria algo a ponderar? "É uma boa pergunta! Estou muito feliz na equipa nacional luxemburguesa. Não há muitos corredores, mas somos uma família. Quando venho aqui também vejo que são como uma família e isso abre-me o coração. Não fecho a porta. São muito simpáticos... Porque não!"

A ligação a Portugal é naturalmente forte, mas é no Luxemburgo que está a sua vida. Bob Jungels (Quick-Step Floors) é actualmente a grande figura do país no ciclismo, mas os irmãos Schleck marcaram uma era. Tiago da Silva explicou que existem bons jovens talentos, já com resultados interessantes em sub-23, que poderão seguir os exemplos das recentes referências luxemburguesas. No entanto, estamos a falar de uma realidade complicada, com apenas duas equipas Continentais no país. Por outro lado, a geografia favorece e muito o desenvolvimento dos atletas.


"De facto nasci no ciclismo! Mas quando era mais novo corri muito e experimentei o taekwondo e o karate, mas não deu em nada"

Estando no centro da Europa, as equipas facilmente se deslocam a outros países para competir, tendo assim acesso a corridas com pelotões fortes na Bélgica, Holanda, Itália e França, por exemplo. "Temos muitas possibilidades [de escolha de provas] e isso ajuda-nos a progredir como ciclistas", salientou.

Differdange-Losch esteve na Volta a Portugal, mas Tiago da Silva ficou de fora das escolhas devido a ainda a estar à procura de melhorar forma após a operação. E numa corrida com uma exigência elevada, ficou adiada a presença de Tiago na Grandíssima. "Gostava de a fazer. É uma prova bem dura, mas também há umas etapas para os sprinters em que me posso mostrar", afirmou. Agora é esperar para saber se a equipa regressará à Volta em 2019, num ano em que será mais pequena, passando de 16 para 12 corredores. Para o ciclista, o importante é que todos trabalhem bem juntos, para alcançarem bons resultados.

Bem diferente nas características como atleta do tio Acácio da Silva, para Tiago, tornar-se ciclista foi algo completamente natural, ainda que tivesse passado por outros desportos. "De facto nasci no ciclismo! Mas quando era mais novo corri muito e experimentei o taekwondo e o karate, mas não deu em nada. O ciclismo é uma paixão e há-de ser sempre", realçou.

Tiago com o pai e director desportivo da sua equipa, Francisco da Silva
Nem o tio, nem o pai o acompanham em pedaladas. "Gostam mais de ver", disse, esboçando um grande sorriso. Porém, se Francisco além de pai, mas também como director desportivo, está sempre presente no momento de dar conselhos, Tiago contou que mantém-se em contacto com Acácio da Silva.

As conversas também passam por histórias do passado e comparações com a realidade do ciclismo actual. Tiago recordou como o tio lhe conta como competiu no meio de neve no Giro de Itália, em disputas intensas com outros ciclistas, por exemplo. Essas histórias também o inspiraram a querer tornar-se profissional e ambicionar chegar ao World Tour. "Eles [tio e pai] sabem muito de ciclismo e eu aprendi muito com ambos."

O Luxemburgo tem um terreno muito propício para treino de sprinter, com algumas subidas para treinar. Porém, quando se fala de alta montanha, então a conversa muda para Portugal. Nunca subiu uma Serra da Estrela ou Senhora da Graça, duas das etapas míticas da Volta. Mas já se aventurou noutra serra. "Nunca fiz essas [da Volta], mas temos uma casa mesmo ao pé da Serra do Larouco e já lá fiz uns treinos. Ajuda", admitiu. O terreno, a meteorologia e aproveitar para estar com a família que está cá, são razões que fazem Tiago gostar de vir a Portugal, até porque, como disse, "agora os voos são baratos"!

Tiago da Silva segue assim uma tradição de família no ciclismo, com um apelido de peso de uma figura que marcou profundamente a história da modalidade em Portugal. Na última Volta a Portugal, Acácio da Silva esteve em Montalegre, a sua terra, para apresentar um livro sobre a sua vida: "Acácio da Silva – A carreira excepcional de um ciclista cosmopolita”. Henri Bressler e Rosa Carvalhal são os autores da obra escrita em português e francês.


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