3 de dezembro de 2018

Ambiente nos bastidores não afastou Lotto Soudal das vitórias

(Fotografia: © Photo News/Lotto Soudal)
A querer dar um salto qualitativo na sua estrutura, a Lotto Soudal acabou por viver uma guerra de bastidores que levou à saída de uma das maiores referências da equipa e a um ambiente que os ciclistas não gostaram, ainda que tenham reagido com vitórias, algumas marcantes,. Mas não foi fácil digerir a anunciada saída de André Greipel. O alemão foi um líder durante oito temporadas, um vencedor. Contudo, a conturbada relação com o novo director geral acabou com a longa ligação e ameaçou a estabilidade da Lotto Soudal.

Apesar de ser uma equipa por norma ganhadora, principalmente em sprints, etapas e em algumas clássicas, a Lotto Soudal não é das equipas economicamente mais poderosas, mas a contratação de Paul de Geyter para o cargo de director geral tinha como objectivo angariar mais patrocinadores e construir uma equipa mais forte. Porém, enquanto na estrada Tiesj Benoot, Tim Wellens, Thomas de Gendt e o próprio Greipel iam somando bons resultados, longe dos olhares públicos a equipa não vivia uma fase estável.

A negociações para renovar o contrato de Greipel terminaram com o alemão a acusar Geyter de ser mentiroso e o sprinter assinou antes pela francesa Arkéa-Samsic (actual Fortuneo-Samsic), optando por descer ao escalão Profissional Continental a continuar na equipa em que viveu os melhores momentos da carreira. Apesar de Greipel já estar a demonstrar alguma dificuldade para bater os grandes nomes do sprint nas principais corridas, o peso do alemão continuava a ser grande na equipa, mesmo aos 36 anos. Este ano conquistou oito das 25 vitórias da Lotto Soudal. Já não ganha tanto, mas terá sempre de ser visto como um dos melhores. O seu currículo assim exige.

O ambiente era de tal forma pesado, que um ciclista terá mesmo avisado o director desportivo Marc Sergeant - que com a chegada de Geyter ficou apenas dedicado à vertente desportiva da equipa - que a família se estava a desfazer. "O Paul está a olhar para isto como um negócio, mas isto não é um negócio", terá dito.

Mas enquanto se procurava alguma tranquilidade nos bastidores, a verdade é que a Lotto Soudal teve uma temporada positiva, sem ser fenomenal, tendo ganho uma etapa na Volta a Itália (Tim Wellens) e uma na Vuelta (Jelle Wallays), como Thomas de Gendt a tornar-se no primeiro belga a ser o rei da montanha na grande volta espanhola.


Ranking: 15º (4700,01 pontos)
Vitórias: 25 (incluindo a Strade Bianche e uma etapa no Giro e na Vuelta)
Ciclista com mais triunfos: André Greipel (8)

Outro dos grandes momentos da temporada aconteceu na fase das clássicas da Primavera. Uma das contratações tinha sido a de Tom Boonen, que se tornou num conselheiro na equipa rival da Quick-Step Floors, que representou praticamente toda a sua carreira. Pouco depois da sua chegada, coincidência ou não, Benoot finalmente confirmou créditos nas clássicas com um daqueles triunfos com contornos épicos, numa Strade Bianche que se vai consagrando como uma das corridas mais espectaculares do calendári. Benoot escapou à companhia de Romain Bardet (AG2R) e de Wout van Aert (Vérandas Willems-Crelan) - um nome que ainda teria a sua influência no desenrolar de certos acontecimentos na Lotto Soudal -, para chegar à meta com aquele aspecto enlameado, que tanto ajudou a dar um efeito ainda mais dramático a um grande momento deste ciclista belga.

Benoot acabou por se apagar um pouco após o Critérium du Dauphiné, pois uma queda no Tour prejudicou a sua condição física, que nem para a Vuelta recuperou. Também Tim Wellens realizou uma primeira fase de temporada muito forte. Venceu a Ruta del Sol, foi quinto no Paris-Nice, foi ainda ganhar a clássica De Brabantse Pijl-La Flèche Brabanconne e esteve bem nas Semana das Ardenas. Aos 27 anos, o belga confirmou com boas vitórias a sua capacidade para corridas de uma semana e de um dia.

Porém, apesar de alguma expectativa para o Giro, Wellens cedo avisou que não estava interessado em lutar por top dez, nem nada parecido. Não parece ter como objectivo ser um voltista, pelo menos não para já, mas em Itália ganhou uma etapa. Missão cumprida. Mais para o fim da época, ainda conquistou a Volta à Valónia e foi fazer quinto na Lombardia.

Mesmo sem Greipel a ganhar nas grandes voltas, a Lotto Soudal continua a "picar o ponto". Não conseguiu no Tour e já se sabe o peso que tem um triunfo na corrida francesa, mas a prestação de De Gendt na Vuelta, envolvido em tantas fugas e garantindo a classificação da montanha e a vitória de etapa de Jelle Wallays, selaram uma temporada nas provas de três semanas com razões para a equipa ficar satisfeita. De Gendt ainda juntou à sua excelente temporada, vitórias em etapas na Volta à Catalunha e na Romandia.

A pensar no futuro próximo, a Lotto Soudal contratou Bjorg Lambrecht, um dos jovens belgas a quem chamam de novo Merckx, que teve um ano de adaptação ao World Tour, com presença na Vuelta e uma vitória de etapa na Volta aos Fiordes. Tem apenas 21 anos, pelo que ainda há um processo de evolução em curso, mas poderá ser aposta para a equipa.

Chegada de Caleb Ewan e uma frustração chamada Van Aert

A contratação do pequeno sprinter australiano Caleb Ewan, como substituto de Greipel, nem foi mal recebida, numa perspectiva de rejuvenescimento da Lotto Soudal. Porém, o trabalho de Geyter continuava a estar demasiado no centro das atenções. Além de não ter conseguido qualquer novo patrocínio de forma a reforçar o orçamento da equipa, como era a sua função, o enorme desejo dos responsáveis da Lotto Soudal em contratar e emergente estrela Wout van Aert tornou-se numa ainda maior frustração. Geyter nunca terá feito qualquer oferta de contrato ao ciclista, que acabaria por assinar para 2020 pela Lotto-Jumbo, uma equipa holandesa.

Adam Blythe, Roger Kluge e Brian van Goethem são outros dos reforços, mas é a contratação de John Lelangue que mais se espera que traga à equipa a estabilidade muito ambicionada depois da má experiência com Geyter, que recebeu ordem de saída. Lelangue já foi director na BMC e antes na Phonak e era um dos nomes apontados antes de ter sido Geyter a escolha.

A Lotto Soudal quer reconstruir a sua família em 2019, continuar a vencer e retomar o crescimento que procura. Wellens, De Gendt (que pretende fazer as três grandes voltas na próxima época) e Benoot serão os principais líderes, com Ewan a ter a missão de fazer esquecer um Greipel que será sempre uma das grandes figuras da Lotto Soudal. Foram 95 vitórias, incluindo 11 na Volta a França, sete no Giro e quatro na Vuelta. De destacar ainda as 18 no Tour Down Under, na terra de Ewan, com Greipel a contar ainda com duas vitórias na geral da corrida que abre o calendário World Tour.

Permanências: Tiesj Benoot, Tim Wellens, Thomas de Gendt, Victor Campanaerts, Adam Hansen, Armée Sander, Jasper de Buyst, Frederik Frison, Jens Keukeleire, Bjorg Lambrecht, Nikolas Maes, Tomasz Marczynski, Remy Mertz, Maxime Monfort, Lawrence Naesen, Tosh van der Sande, Jelle Vanendert, Jelles Wallays, Harm Vanhoucke e Enzo Wouters.

Contratações: Caleb Ewan (Mitchelton-Scott), Adam Blythe (Aqua Blue Sport), Roger Kluge (Mitchelton-Scott), Brian van Goethem (Roompot-Nederlandse Loterij), Carl Fredrik Hagen (Joker Icopal), Rasmus Byriel Iversen (General Store Bottoli Zardini), Stan Dewulf e Gerben Thijssen (Lotto Soudal sub-23 - estagiaram na equipa principal desde Agosto).

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