2 de dezembro de 2018

Poucos triunfos, mas duas histórias que marcaram 2018

(Fotografia: Facebook EF Education First-Drapac p/b Cannondale)
A EF Education First-Drapac p/b Cannondale foi uma das equipas que chegou à Vuelta a precisar de bons resultados. Foi um 2018 algo frustrante, principalmente pelas expectativas criadas em redor de Rigoberto Uran, mas não só. É um pouco a história desta equipa americana: num ano alcança mais do que se está à espera, no outro, quando se pensa que tem condições para manter o nível, passa ao lado de uma temporada.

Desportivamente, o abandono de Uran no Tour (a etapa de Roubaix foi madrasta para muitos ciclistas), depois de há um ano ter vencido uma etapa e subido ao pódio nos Campos Elísios, foi um rude golpe. O colombiano jogou tudo na Volta a França e foi o primeiro a ser crítico com a sua época. Ganhou uma etapa na Colombia Oro y Paz e na Volta à Eslovénia e foi fazer sétimo na Vuelta, contudo, considerou que foi pouco para o que pretendia alcançar.

Há que não esquecer que 2017 ficou marcado pela incerteza do futuro da equipa, que demorou a encontrar um patrocinador. A EF Education First chegou a tempo não só se salvar a estrutura, mas também de manter corredores como Uran e Sep Vanmarcke. Foram criadas condições para acreditar que com estabilidade poder-se-ia fazer ainda melhor. No entanto, também Vanmarcke não conseguiu a grande vitória que tanto persegue.

É um especialista de clássicas do pavé e foi igual a ele próprio, o que começa a significar que é dos melhores neste tipo de corridas, mas falta-lhe sempre algo para chegar ao tal triunfo. Mais uma série de bons resultados, dois pódios, mas zero vitórias. No entanto, ainda não se perdeu a esperança de ver Vanmarcke alcançar pelo menos uma conquista que premeie a sua qualidade.

Joe Dombrowski, Hugh Carthy, Pierre Rolland são todos corredores que os responsáveis têm depositado a esperança, mas que demoram a afirmar-se. Para o francês já nem há tempo, pois aos 32 anos fechou-se a porta do World Tour e regressará ao seu país, para representar a Vital Concept - B&B Hotels. O americano, de 27 anos, e o britânico, de 24, vão continuar a ser apostas.

A questão é que a EF Education First-Drapac p/b Cannondale não pode apenas esperar que no futuro próximo alguns ciclistas comecem a render. E no presente, se Sacha Modolo, Daniel McLay ou Taylor Phinney também ficaram aquém, Simon Clarke e Michael Woods, dois dos mais experientes da equipa, assumiram a responsabilidade de salvar a temporada com duas vitórias na derradeira grande volta. Dois grandes momentos de ciclismo e que deixaram a equipa a respirar um pouco melhor. Para Woods, Espanha é um país em que se dá cada vez melhor, mas esta foi uma vitória que valeu mais do que um troféu ou uma subida ao pódio numa grande volta.

O canadiano ficou em lágrimas em Balcón de Bizkaia e, em directo, contou que, dois meses antes, o seu bebé tinha nascido morto. A comovente história de Woods foi mais um exemplo como muitas vezes se compete por mais do que a glória pessoal. Na EF Education First-Drapac p/b Cannondale foi o segundo exemplo do ano de como a força mental pode ser tão decisiva como a boa condição física.

Ranking: 16º (4373 pontos)
Vitórias: 6 (incluindo duas etapas na Vuelta)
Ciclista com mais triunfos: Rigoberto Uran (2)

A época da equipa acabou por ir muito além do sucesso, ou falta dele, a nível desportivo. No Tour tinha sido Lawson Craddock o herói. Foi orgulhosamente último do primeiro ao último dia e são poucos que o poderão dizer. Tinham decorrido apenas os primeiros 100 quilómetros da corrida quando Craddock caiu. Foi de rosto ensanguentado, com o corpo muito mal tratado que acabou o dia. Soube depois que tinha uma omoplata fracturada.

Decidiu continuar, criando um crowdfunding para angariar dinheiro para recuperar o velódromo da sua terra, destruído por um furacão. Comprometeu-se a dar 100 dólares (cerca de 85 euros) por cada dia que cortasse a meta e apelou a doações. Chegou aos Campos Elísios! Angariou mais do dobro do pretendido, ultrapassando os 200 mil euros. Os seus companheiros apoiaram-no neste desafio, chegando ao ponto de lhe abrir os pacotes da barras energéticas, por exemplo, porque até isso custava a Craddock fazer. Mas sobreviveu à etapa de Roubaix, subiu o Alpe d'Huez e chegou tanta vez a fechar o pelotão, mas acabou sempre as etapas. Este ano não houve pódio para a equipa americana, mas o que fez Craddock, tornou-o numa das figuras da Volta a França.

Como uma equipa não pode viver apenas de momentos de forte emoção, 2019 foi preparado com um misto de esperança na juventude e de ver um ciclista finalmente atingir o seu potencial, quando já poucos acreditam que o faça. Tejay van Garderen foi um dos dois atletas que foram contratados à BMC (Alberto Bettiol irá reforçar o bloco das clássicas). Uma aposta arriscada e, talvez por isso, tenha sido assinado apenas um vínculo para 2019. Ao contrário de Sean Bennett. 22 anos, muito talento, escola Axel Merckx (Hagens Berman Axeon), este americano é visto como uma estrela em ascensão... tal como foi visto, em tempos, Van Garderen. Assinou por duas temporadas. Sem entrar em comparações, pois cada ciclista segue o seu caminho, certo é que Bennett será um dos ciclistas cuja evolução será seguida atentamente. Já Van Garderen poderá ter a sua derradeira oportunidade como líder.

O equatoriano Jonathan Caicedo (25 anos, Medellin) é uma incógnita. Corredor de qualidade para a montanha, a adaptação a este nível será muito importante. Mas se for boa, poderá ser um atleta interessante. Para o sprint foi contratado um jovem colombiano. Começam a surgir os seguidores de Fernando Gaviria, num país que é cada vez menos visto como apenas de bons trepadores. Sergio Higuita tem 21 anos e esteve os últimos dois na Manzana Postobón.

Mas é outro colombiano que pode ser o presente vitorioso da equipa americana. Daniel Martinez não teve o ano de estreia que procurava no World Tour, muito devido a um incidente com um condutor de um carro durante um treino. O colombiano chegou a perder a consciência ao ser agredido. Recuperou e foi possível perceber que Uran tem um compatriota preparado para ser algo mais do que um gregário. Só tem 22 anos, mas é mais um ciclista de uma geração de ouro da Colômbia e que vai procurar ganhar definitivamente um lugar entre as principais figuras da EF Education First-Drapac p/b Cannondale.

Uma referência a José Neves, que teve a oportunidade de viver o ambiente de uma equipa World Tour. O ciclista da W52-FC Porto - vai para a Burgos-BH - realizou um estágio desde Agosto, participando em oito corridas. Não foi contratado para 2019, mas a experiência e o facto de ter chamado a atenção de uma equipa do escalão principal, são pormenores que poderão fazer a diferença na sua carreira.

Permanências: Rigoberto Uran, Sep Vanmarcke, Michael Woods, Matti Breschel, Nathan Brown, Hugh Carthy, Simon Clarke, Lawson Craddock, ulián Cardona, Mitchell Docker, Joe Dombrowski, Alex Howes, Sebastian Langeveld, Daniel Martinez, Daniel McLay, Lachlan Morton, Sacha Modolo, Logan Owen, Taylor Phinney e Julius van den Berg.

Contratações: Tejay van Garderen (BMC), Sean Bennett (Hagens Berman Axeon), Alberto Bettiol (BMC), Jonathan Caicedo (Medellin), Moreno Hofland (Lottou Soudal), Sergio Higuita (Manzana Postobón), Tanel Kangert (Astana), Lachlan Morton (Dimension Data), James Whelan (Drapac EF Cycling) e Luis Villalobos (Aevolo).


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