22 de dezembro de 2018

Mitchelton-Scott finaliza transformação, já ganha grandes voltas e quer mais. Muito mais

(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Reformulação terminada, com um tremendo sucesso. Agora é altura de construir o futuro sabendo que a equipa está consolidada numa de respeito para as grandes voltas e que tem um Yates já com uma grande volta e absolutamente capaz de ganhar mais e outro Yates que não vai querer ficar muito tempo atrás do irmão. A Mitchelton-Scott não abandona por completo os seus primórdios de equipa para tentar ganhar clássicas e alguns sprints, mas esta responsabilidade ficará entregue quase exclusivamente Matteo Trentin, pois o que esta equipa na idade  adulta mais quer é o Giro, o Tour e a Vuelta e as corridas por etapas que foram aparecendo entre elas.

Pretendia-se que os gémeos Yates confirmassem que não eram apenas jovens talentosos, que dividiram entre eles classificações da juventude nos últimos anos. Era responsabilidade dos dois levarem esta equipa ao patamar para que trabalhou nos últimos anos. Na sexta temporada, Simon respondeu ao repto. Parecia que ia ser no Giro, mas em Itália, se se pode dizer que uma corrida passou de um sonho a um pesadelo, este é um dos melhores exemplos. Acabou por ser em Espanha que Simon venceu a grande volta que a Mitchelton-Scott tanto procurava.

Mais do que uma individualidade ter alcançado o desejado sucesso, o que há mais a destacar é a equipa construída em redor do britânico. Esta Mitchelton-Scott reuniu um conjunto de gregários que começam a ser vistos de luxo. Christopher Juul-Jensen, Jack Haig, Damien Howson e Sam Bewley são todos ciclistas que estão praticamente ao nível de importância em manter na equipa, como os gémeos Yates. E precisamente por ter plena noção como os seus companheiros tão bem trabalharam para ele, Simon ficou ainda mais destroçado quando, a três dias de chegar a Roma de camisola rosa, o seu corpo cedeu. Somava três vitórias de etapas, dois segundos lugares, mas quatro top dez e simplesmente estava a ser uma exibição irrepreensível. Mas foi de mais e o trambolhão na geral atirou-o para fora do top 20.

Lição aprendida e muito bem aprendida. Chegou à Vuelta menos espectacular e mais pragmático. Também a equipa controlou o seu ímpeto e até soube ceder o trabalho "pesado" - e a liderança da prova - para poupar força e não quebrar quando as decisões chegassem. Yates venceu uma etapa, foi novamente muito regular, mas menos atacante. Foi cirúrgico e venceu a Vuelta. Era o que interessava e o que merecia.

Ranking: 5º (8660,03 pontos)
Vitórias: 37 (incluindo a Volta a Espanha e uma etapa e mais três no Giro. A vitória de Trentin nos Europeus é contabilizada como ao serviço da selecção)
Ciclista com mais triunfos: Simon Yates (8)

Adam não conseguiu seguir o exemplo do irmão, com a queda na Volta à Catalunha a estragar-lhe a temporada numa fase em que estava em claro ganho de forma. Fracturou a pélvis. Foi ao Tour e tanto na Volta à Califórnia, como no Critérium du Dauphiné deu demonstração que talvez pudesse estar entre os melhores em França. A meio da corrida começou a ceder. Foi atrás de uma etapa e uma nova queda estragou-lhe os planos. O 29º lugar esteve longe de ser algo que o deixou animado. Foi à Vuelta para ser o braço-direito do irmão e foi importante nesta rara união dos gémeos, normalmente separados nas grandes voltas.

Ganhar pela primeira vez uma corrida de três semanas é, inevitavelmente, a marca que fica de 2018 para a Mitchelton-Scott, um projecto que se prepara para a sua oitava época ao mais alto nível do ciclismo e que passará a ser de vez vista como um capaz de discutir qualquer prova por etapas.

A formação australiana nem se coibiu de deixar em casa o sprinter que ajudou a formar como ciclista. Caleb Ewan apostou muito numa ida ao Tour, mas depois do que aconteceu no Giro, mais do que nunca a Mitchelton-Scott acreditou que o seu caminho era lutar pela geral. Ewan ficou devastado e não escondeu que estava num pico de forma naquela altura do ano. Em final de contrato, decidiu sair para a Lotto Soudal e ocupar o lugar de André Greipel. Nada que preocupe a equipa australiana, cujos reforços para 2019 foram escolhidos para aumentar a escolha de blocos para as corridas por etapas.

Se Simon Yates (26 anos) confirmou que já não é o futuro da equipa, mas sim o presente, Daryl Impey demonstrou que aos 34 anos, feitos este mês, não é o passado. Começou a temporada com a conquista do Tour Down Under e juntou mais uns títulos nacionais sul-africanos ao seu currículo. Apareceu várias vezes na discussão de corridas e venceu a segunda etapa do Dauphiné.

A desilusão foi Matteo Trentin. O italiano deixou a Quick-Step Floors depois de uma época com sete vitórias, quatro na Vuelta. Já se sabe que há uma tradição dos ciclistas que saem da formação belga terem dificuldade em reencontrar sucesso idêntico e Trentin teve um 2018 que só não quererá esquecer, porque foi campeão da Europa. Não tendo o pelotão que normalmente aparece num Mundial, não deixa de ser um título e uma vitória que animou Trentin. Ainda se pensou que partiria para um final de temporada forte, mas não conseguiu repetir o sucesso na Vuelta. Foi somar dois triunfos no périplo final pela China, mas já a pensar que em 2019 quer muito mais e melhor.

A equipa até poderá estar mais apostada em ganhar a Volta a Itália - onde irá apostar Simon Yates, que disse ter contas a fechar com a corrida -, contudo, a contratação de Trentin também foi pensada por ser um ciclista que sabe bem correr sem depender em demasia de um apoio de companheiros. Sprints e clássicas vão ser para ele.

Quanto a Johan Esteban Chaves não se pode falar de desilusão, mas sim de incerteza. O colombiano foi o primeiro a fraquejar no Giro, depois de ter ganho no Etna, com Yates a seu lado. Foi uma das imagens do ano e uma das últimas vezes que se viu Chaves. Depois apareceu de vez em quando na televisão na parte de trás do pelotão. Dizer que fraquejou não descreve bem o que aconteceu ao colombiano que esteve irreconhecível. Terminou a corrida, ainda que se suspeitava que algo não estava bem. Chaves não competiu mais em 2018 e depois de meses de espera foi divulgado que o ciclista, de 28 anos, sofria de uma mononucleose.

O objectivo passou a ser apenas recuperar Chaves para que em 2019 possa ir atrás da grande volta que se pensava poder ser dele antes dos Yates afirmarem-se. A dúvida é enorme, tendo em conta os exemplos recentes de problema de saúde idêntico. Mark Cavendish (Dimension Data) não mais foi o mesmo, enquanto Beñat Intxausti competiu 23 dias em três anos na Sky. Se conseguir ser o Chaves que já vez pódio no Giro e Vuelta, então a Mitchelton-Scott aspirará a ainda mais.

Permanências: Simon Yates, Adam Yates, Johan Esteban Chaves, Matteo Trentin, Daryl Impey, Michael Albasini, Jack Bauer, Sam Bewley, Alex Edmondson, Luke Durbridge, Jack Haig, Lucas Hamilton, Michael Hepburn, Damien Howson, Cameron Meyer, Luka Mezgec, Christopher Juul-Jensen, Mikel Nieve e Robert Stannard. Michael Hayman irá retirar-se após o Tour Down Under.

Contratações: Nick Schultz (Caja Rural), Dion Smith (Wanty Groupe-Gobert), Callum Scotson (Mitchelton-BikeExchange), Brent Bookwalter (BMC), Edoardo AFfini (SEG Racing Academy) e Tsgabu Grmay (Trek-Segafredo). 


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