6 de dezembro de 2018

Mais investimento, novas figuras, mas o mesmo velho problema e um Aru irreconhecível

(Fotografia: © BettiniPhoto/UAE Team Emirates)
Há dois anos pairava a incerteza quanto ao futuro de uma estrutura com história no ciclismo. A Lampre saiu e do Médio Oriente chegou a salvação. Primeiro com o investimento necessário, por assim dizer, mas que evoluiu até um poderio económico que lhe permite contratar ciclistas mais caros e até convencer aquele que é um dos melhores sprinters do mundo a quebrar contrato e que não saiu da Quick-Step Floors por tostões. A UAE Team Emirates tem dinheiro, mas na temporada em que investiu forte, os resultados desiludiram. E não fosse as vitórias de Dan Martin e Alexander Kristoff no Tour e teria sido uma época perdida. A maior das desilusões chamou-se Fabio Aru, que esteve irreconhecível. Rui Costa não foi feliz, com uma queda no Paris-Nice a afectá-lo grande parte da temporada. Contudo, o contrato foi renovado e irá se o "padrinho" dos dois novos portugueses que em 2019 chegarão ao World Tour.

Ter dinheiro traz estabilidade e a possibilidade de reforçar a equipa. Porém, contratar três estrelas do ciclismo não chega, principalmente se as individualidades não têm um colectivo forte e coeso no seu apoio. A UAE Team Emirates sofreu muito de um problema que vem do tempo da Lampre-Merida - que o diga Rui Costa -, com os seus líderes a ficarem muito sós, muito cedo, nos momentos decisivos das corridas. Já se sabe que há corredores com especial talento para sozinhos conseguirem, ainda assim, alcançar resultados. Contudo, são poucos os fora-de-série e se Aru, por exemplo, não esteve nada bem, também a equipa como um todo demonstrou que continua a não funcionar, apesar da qualidade de muitos dos seus ciclistas.

A fraca prestação de Aru foi uma das lições que teve de ser muito bem estudada, na esperança de recuperar o melhor do italiano para 2019. Apesar da equipa querer colocar as suas três novas estrelas - Aru, Martin e Kristoff - no Tour, Aru concretizou o desejo de estar no Giro. Uma queda na Volta a Catalunha acabaria por ser um primeiro indicativo que o esperava uma época complicada. Corrida após corrida foi um Fabio Aru em esforço sempre que a alta montanha chegava. Aquele movimento que lhe é típico de se mexer muito de um lado para o outro na bicicleta quando sobe, foi muito intenso, revelando um corredor em constante dificuldade.

Num momento de união, Aru foi escoltado pela sua equipa no Giro quando quebrou, numa imagem que não deixou de ser de um ciclista derrotado. Reapareceu no contra-relógio, mas foi sancionado por aproveitar o cone de vento de um carro. Passou completamente ao lado da época. Nem na Vuelta, que conquistou em 2015, teve capacidade para se mostrar, com uma queda e o momento de fúria misturado com frustração que se seguiu a ser o principal destaque. Para um ciclista que deixou a Astana à procura de um ordenado mais alto e de outros ares, foi uma aposta perdida da UAE Team Emirates, que espera um Aru bem diferente em 2019.

Dan Martin também não começou bem. O próprio admitiu que estava a colocar demasiada pressão em si mesmo. Quando relaxou e voltou ao sentimento mais básico de simplesmente aproveitar todos os momentos em que está a fazer o que mais gosta, Martin apareceu. Ganhou uma etapa no Critérium du Dauphiné e foi ao Tour ganhar no Mûr de Bretagne. Foi ainda nono na Lombardia depois de uma Vuelta que abandonou para acompanhar a mulher grávida de gémeas.

Ranking: 12º (5495 pontos)
Vitórias: 12 (incluindo duas etapas no Tour)
Ciclista com mais triunfos: Alexander Kristoff (5)

Kristoff recuperou a alegria após um ano difícil na Katusha-Alpecin. Ganhar nos Campos Elísios faz a época de qualquer sprinter. No entanto, apesar dos cinco triunfos, é mais do que claro que o norueguês não é aquele sprinter de quem se pode esperar muitas e grandes vitórias. A contratação de Fernando Gaviria é a prova que os responsáveis da equipa, pensam precisamente isso. A Kristoff pode restar a possibilidade de ainda ser aposta em algumas clássicas.

Dos ciclistas que já eram da casa, Diego Ulissi foi regular, mas sem entusiasmar e sem estar muito na luta por vitórias, tendo alcançado uma na Volta à Suíça. Este italiano é capaz de muito melhor, pelo que foi mais uma desilusão. Também Rui Costa esteve muito abaixo do esperado, com uma lesão no joelho a limitá-lo durante muito tempo. Queria regressar ao Tour depois de em 2017 ter apostado no Giro e Vuelta. Em Abril, apesar de se mostrar nas Clássicas das Ardenas sem entusiasmar, fez uma grande Volta à Romandia (foi quinto) e parecia estar a subir de forma, até que anunciou que não iria à Volta à Suíça devido ao problema no joelho. Falharia depois o Tour. Também não foi à Vuelta e pela primeira vez desde que chegou ao World Tour, o campeão do mundo de 2013 não fez nenhuma grande volta.

Na recta final da época surgiu mais forte, foi 10º nos Mundiais e finalmente chegou a confirmação que ficaria mais um ano na UAE Team Emirates, em mais uma oportunidade para mostrar o que pode dar, mesmo com a equipa a contratar cada vez mais estrelas.

Ben Swift e John Darwin Atapuma foram dois nomes que quase deu para esquecer que estavam na equipa e ambos estão de saída. Jan Polanc e Valerio Conti foram algo irregulares, enquanto Sven Erik Bystrom confirmou credenciais, ainda mais quando ficou perto de ganhar uma etapa na Vuelta.

A UAE Team Emirates quer ser uma equipa de topo rapidamente, mas sabe que 12 vitórias num ano não chega. Fabio Aru vai continuar a ser a aposta para as grandes voltas e um dos reforços poderá ser uma preciosa ajuda para o italiano. Sergio Henao deixa a Sky e tem tudo para ser o novo braço direito do italiano. Dan Martin não desiste de perseguir o sonho de um pódio no Tour, mas é em Aru em quem está a maior esperança de um bom resultado numa corrida de três semanas.

No entanto, é em Fernando Gaviria que se aposta praticamente tudo para aumentar o número de vitórias e, claro, que sejam além de muitas, nas principais corridas. A UAE Team Emirates vai colocar rum comboio à disposição do colombiano, com Kristoff esperançoso que não seja reduzido a esse papel, mas poderá não conseguir escapar a tal se quiser estar, por exemplo, no Tour. A vida não tem sido fácil para muitos dos ciclistas que deixam a Quick-Step Floors. A ver vamos se Gaviria quebra esse enguiço.

A UAE Team Emirates também já olha para o futuro. Quase se esquece que Gaviria tem apenas 24 anos dada as vitórias que já alcançou, pelo que o sprinter é o presente e o futuro. Já Ivo e Rui Oliveira, Jasper Philipsen e Tadej Pogacar são ciclistas que vão estrear-se no World Tour, pelo que terão a sua oportunidade para se adaptar, antes da pressão de resultados e boas exibições começar a pesar.

Joxean 'Matxin' Fernández, é um dos directores desta equipa. Com uma enorme experiência na modalidade, antes de se juntar à UAE Team Emirates em 2018, foi olheiro para a Quick-Step Floors, pelo que teve a sua influência na escolha de Gaviria. É um profundo conhecedor de jovens ciclistas e muito atento ao que se passa em Portugal. A evolução dos gémeos não lhe passou naturalmente despercebida, na pista e na estrada. Depois de dois anos numa das melhores estruturas para jovens, a Hagens Berman Axeon, Ivo e Rui, campeão nacional de contra-relógio e de fundo de sub-23, respectivamente, dão o salto mais do que esperado, com Rui Costa à espera de os receber.

O companheiro da formação americana, Jasper Philipsen, segue o mesmo caminho. É um belga de talento para as clássicas, enquanto Tadej Pogacar, tem o potencial para as provas por etapas. Estamos perante um esloveno que ganhou o Tour de l'Avenir e que acumulou muitos e bons resultados em corridas idênticas. Mais um ciclista a ter em atenção, num conjunto de jovens de qualidade que esta UAE Team Emirates assegurou para os próximos dois anos.

Permanências: Fabio Aru, Dan Martin, Alexander Kristoff, Rui Costa, Diego Ulissi, Valerio Conti, Sven Erik Bystrom, Simone Consonni, Roberto Ferrari, Vegard Stake Laengen, Marco Marcato, Manuel Mori, Simone Petilli, Jan Polanc, Edward Ravasi, Rory Sutherland, Oliviero Troia, Kristijan Durasek, Alexandr Riabushenko e Yousif Mirza.

Contratações: Fernando Gaviria (Quick-Step Floors), Ivo Oliveira (Hagens Berman Axeon), Rui Oliveira (Hagens Berman Axeon), Jasper Philipsen (Hagens Berman Axeon), Sergio Henao (Sky) Tadej Pogacar (Ljubljana Gusto Xaurum), Tom Bohli (BMC) Sebastián Molano (Manzana Postobón), Cristian Camilo Muñoz (Coldeportes Zenu Sello Rojo).


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