12 de dezembro de 2018

Sky deixa de patrocinar equipa após 2019. O fim de uma era?

(Fotografia: Facebook Team Sky)
Patrocinadores eternos no ciclismo é algo utópico. Há alguns de longa data, a Lotto (belga), a Quick-Step, a FDJ, mas nada dura para sempre, mesmo que se fale de um nome como a Sky. Com a renovação de cinco anos de Egan Bernal, ou a de três anos de Geraint Thomas, apesar das mudanças na estação televisiva, parecia que o futuro próximo estaria garantido. Esta manhã, tudo mudou. De repente, começa-se a pensar se se está perante o fim de uma era.

A Sky vai deixar de patrocinar a equipa no final de 2019 terminando assim com uma ligação de uma década, que se transformou numa estrutura toda poderosa, provocando sentimentos de amor/ódio. Por um lado foi uma equipa que revolucionou o ciclismo, com os chamados "ganhos marginais", trazendo novos métodos, novas tecnologias, tudo pensado ao mais ínfimo pormenor e as vitórias alcançadas, principalmente as oito grandes voltas conquistadas, demonstram o sucesso da Sky.

Por outro lado, as desconfianças alimentadas pelos casos do "pacote suspeito" de Bradley Wiggins e do uso de salbutamol de Chris Froome, não ajudaram à imagem da equipa. E, depois, há a forma como passou a dominar o Tour, com o seu estilo controlador, sem que ninguém tenha até agora encontrado a solução para o quebrar. Uma forma de correr que retirou algum espectáculo à corrida - não é a única razão -, originando algumas críticas e desgosto, principalmente entre os franceses. Contudo, ninguém pode argumentar que não é o estilo mais acertado, dado os resultados.

No comunicado e na carta aberta aos fãs, fica a garantia que a equipa quer continuar, mesmo com outro nome, iniciando-se agora o processo que bem se conhece de procurar um novo patrocinador. "Enquanto a Sky irá seguir o seu caminho no final da próxima época, a equipa está de espírito aberto quanto ao futuro e à hipótese de trabalhar com um novo parceiro, caso a oportunidade certa surja", afirmou o director Dave Brailsford. Porém, entre o querer e a realidade, poderá haver um abismo.

Com um orçamento acima dos 30 milhões de euros, o mais alto do World Tour, a Sky tem-se dado ao luxo de basicamente escolher quem quer para a equipa, não dando hipótese à concorrência quanto a ofertas monetárias. Se quer um ciclista, só se este recusar é que não o contrata ou mantém na equipa. Haverá alguém com esta capacidade financeira para a Sky manter esta postura dominadora? Ou melhor. Haverá alguém interessado em investir tanto dinheiro numa equipa que não está isenta de suspeitas? Há que referir ainda que a equipa anunciou também a saída da 21st Century Fox, que tinha uma expressão menor, mas tinha.

Em Setembro foi confirmado que a Comcast adquiriu a Sky, num negócio que rondou os 33 mil milhões de euros. Este projecto de ciclismo teve James Murdoch, filho do magnata Rupert Murdoch, como um dos seus principais impulsionadores. Quando deixou o cargo de director executivo da Sky e da 21st Century Fox, logo se falou da possibilidade da longa ligação poder terminar. No entanto, com Jeremy Darroch, director do grupo, a ser também um dos mentores da equipa, o futuro pareceu menos incerto.

O pior confirmou-se mesmo e a Sky News relatou que até Brailsford ficou em estado de choque com a notícia. O director irá agora enfrentar o enorme desafio de, em pouco tempo, encontrar um substituto que possa manter a equipa com nível elevadíssimo que apresenta. Os ciclistas, sem certeza quanto à continuidade da estrutura, vão querer respostas rapidamente, para definir o seu futuro. O caso da BMC este ano é exemplo do que acontece quando demora a aparecer um novo patrocinador: a maioria das principais figuras saíram. Brailsford tem até Junho, antes da Volta a França, para apresentar garantias.

Falta também saber se o investimento de um eventual novo patrocinador, ou patrocinadores, for inferior ao actual, será que Brailsford quererá manter o projecto na estrada em moldes diferentes ao que está habituado? Estamos a falar de alguém que começou logo em grande, com uma ambição que se pensou ser demasiada e que nunca se contentou com algo menos que não fosse ser o melhor e o mais poderoso.

O projecto que parecia aspirar a muito em tão pouco tempo - o objectivo foi desde o primeiro momento colocar um britânico a vencer o Tour - dez anos depois, a ambição quase parece ter sido pequena, pois a Sky colocou três britânicos a vencer a Volta a França (Wiggins, Froome e Thomas) e um a ganhar o Giro e a Vuelta (Froome), além de muitas mais vitórias de nível, que fazem desta equipa que marcou profundamente a história da modalidade, aconteça o que acontecer em 2019.

Sendo uma referência do ciclismo, tal não significa que a missão de encontrar um novo patrocinador, ainda mais do mesmo calibre, seja mais fácil. Todas as dúvidas criadas com os casos de Wiggins e Froome podem revelar-se um peso grande, mesmo tendo sido ambos arquivados, pois nenhum patrocinador quer ver o seu nome relacionado com doping, nem sequer com tanta desconfiança. Mesmo que Brailsford encontre um patrocinador forte, se houver redução de orçamento e o responsável prossiga com o trabalho até agora realizado, também haverá uma nova forma de gerir a equipa.

Egan Bernal, Tao Geoghegan Hart, Pavel Sivakov, Jonathan Narvaéz e em princípio também Iván Ramiro Sosa foram todos ciclistas contratados a pensar na era pós-Froome e Thomas. Porém, o que vai se vai assistir é ao início de uma nova novela na Sky, inesperada, mas que poderá mudar novamente a face do ciclismo. Será mesmo o fim de uma era? Haverá várias equipas muito atentas ao que se irá passar nas próximas semanas, ou mesmo meses, na Sky.

Pode ler aqui a carta aberta dirigida aos fãs da Sky (em inglês).

»»McLaren entra no ciclismo««

»»O passo seguinte. W52-FC Porto confirmada no segundo escalão ««

Sem comentários:

Enviar um comentário