13 de dezembro de 2018

Lotto-Jumbo atingiu a maturidade

(Fotografia: Facebook Lotto-Jumbo)
Seis anos depois de uma crise que ameaçou o futuro da equipa, a Lotto-Jumbo atingiu a maturidade. As jovens apostas evoluíram e confirmaram o seu potencial. Houve muitas vitórias em corridas importantes, luta por pódios nas grandes voltas, com o Tour a passar a ser um objectivo realista. A formação holandesa está a ver o seu trabalho de anos ser recompensado. Está a ver a sua paciência em esperar que os seus ciclistas chegassem ao ponto em que agora se apresentam para começarem a render ao mais alto nível em várias corridas, das mais importantes e não apenas esporadicamente.

Em 2018, a Lotto-Jumbo deixou de ser uma equipa de segunda linha, com um ou outro ciclista capaz de se mostrar em alguns grandes momentos. Passa a estar na linha da frente para bons resultados e para intrometer-se entre os tubarões. Em 2019, a Jumbo-Visma, como se passará a chamar, será uma equipa adulta e que terá os seus corredores entre os favoritos a algo de muito especial, quer Wout van Aert chegue já, ou só em 2020.

Antes de se falar da novela do mercado de transferências, o destaque tem de ir para um Primoz Roglic que provou ser mesmo um ciclista de três semanas, para um Steven Kruijswijk que comprovou que, afinal, ainda pode repetir exibições como a do Giro que lhe escapou em 2016, um Dylan Groenewegen que está feito num senhor sprinter, dois jovens já deixaram garantias que são o futuro - Sepp Kuss e Antwan Tolhoek -, ficando só um ligeiro dissabor com George Bennett. A época não foi má para o neozelandês, mas esperavam-se exibições mais fortes, principalmente no Giro, mas também na Vuelta.

Esta tem sido uma estrutura que com a saída da Rabobank, aguentou-se uma temporada sem patrocinador principal, muito devido à persistência do director Richard Plugge. A reconstrução foi feita mediante o crescimento sustentável económico da equipa. Sem estrelas, mas a criá-las. Com Dylan Groenewgen a ganhar no Tour (duas vezes) e noutras corridas por etapas (venceu os dois sprints na Volta ao Algarve, por exemplo), a conquistar clássicas (Kuurne-Bruxelles-Kuurne foi a de maior destaque), o holandês de 25 anos está a tornar-se num caso sério de sucesso. Já só se espera mais e cada vez melhor de um Groenewegen, que é um dos lados de uma rivalidade que promete ser intensa com Fernando Gaviria. Só Elia Viviani (Quick-Step Floors) ganhou mais este ano do que o holandês: 14 vitórias.

Com Primoz Roglic a prosseguir a sua capacidade para ganhar corridas de uma semana (mais uma vez a história da Lotto-Jumbo cruza-se com a Algarvia, já que o esloveno conquistou-a em 2017), o que o ciclista de 29 anos mais queria era comprovar que podia mesmo ser aposta também para as três semanas. Antes do Tour, venceu De forma consecutiva a Volta ao País Basco, à Romandia e a do seu país, Eslovénia. Chegou a França, onde começou de forma mais discreta, com Steven Kruijswijk a assumir maior protagonismo. Mas quando Roglic "abriu o livro"... Venceu uma etapa e pregou um enorme susto a Chris Froome, que além de ver Geraint Thomas a vencer o Tour, quase ficou fora do pódio. Porém, Roglic fraquejou numa sua especialidade, no contra-relógio, acusando o esforço do dia anterior.

Ainda assim, o quarto lugar de Roglic foi, a todos os níveis brilhante, ainda mais para quem começou a carreira apenas em 2013, tendo chegado à Lotto-Jumbo em 2016. Antes era um saltador de esqui. E dos bons, até que se lesionou com gravidade. Em 2019, Roglic vai ao Tour para alcançar mais e com a camisola amarela na mira.

Steven Kruijswijk reapareceu ao seu melhor e tem de estar orgulhoso de ter feito um quinto lugar no Tour e um quarto na Vuelta. Uma vitória de etapa não lhe teria ficado nada mal, mas foi importante ver como, aos 31 anos, recuperou a confiança que pode disputar uma grande volta, ainda que agora tenha de partilhar esse protagonismo com Roglic. Se os egos não chocarem, esta poderá tornar-se numa dupla interessante.


Ranking: 10º (7059 pontos)
Vitórias: 33 (incluindo três etapas no Tour, duas na Volta ao Algarve e a Kuurne-Bruxelles-Kuurne)
Ciclista com mais triunfos: Dylan Groenewegen (14)

Onde fica George Bennett? Para quem embateu violentamente contra um carro antes da Volta aos Alpes começar, tendo feito quinto nessa corrida e depois oitavo no Giro, não se pode fazer grandes críticas. Apesar de outros bons resultados, exibições sólidas, um 10º lugar na Lombardia, antes, na Vuelta as expectativas saíram goradas. Não se viu o melhor do neozelandês, contudo, Bennett poderá ser novamente aposta para Giro e Vuelta, mas no Tour, terá de esperar. Claro que se a Lotto-Jumbo quiser surgir forte em França, para discutir com uma Sky - o inevitável termo de comparação - Bennett poderá ser um gregário de luxo naquela corrida, em prol de um bem maior: uma possível luta pela camisola amarela, mesmo que não seja ele o líder.

Será preciso perceber como quererá a Lotto-Jumbo jogar as suas cartas, agora que tem garantias de estar a um nível superior. E quem agarrou um lugar entre os gregários de luxo foi Antwan Tolhoek. Tem apenas 24 anos e na sua estreia no Tour... Que nível que apresentou! Impressionou tudo e todos, percebendo-se bem porque no início da temporada recebeu uma segunda oportunidade depois de ter estado envolvido no caso dos comprimidos para dormir. Tolhoek foi um dos ciclistas que tomou medicação sem o conhecimento do médico da equipa, numa situação que levou ao despedimento de Juan José Lobato, com Tolhoek e Pascal Eenkhoorn a serem perdoados, mas a ficarem sob apertada vigilância. Ambos aproveitaram bem o perdão.

Outro jovem que se vai afirmado é Sepp Kuss (24 anos). Foi em casa que se apresentou ao seu melhor, ao conquistar a The Larry H.Miller Tour of Utah. Foi uma das contratações de 2018, pelo que foi um ano de adaptação e para evoluir. O início não foi fácil, com alguns abandonos, mas foi estabilizando e foi chamado para a Vuelta. Tem características que fazem dele um ciclista que a equipa iniciou o trabalho já feito com outros corredores, que agora estão na ribalta. Mais discreto que Tolhoek, mas ambos têm muito potencial a ser explorado.

A juventude de uns é contraposta pela experiência essencial para o equilíbrio que a Lotto-Jumbo encontrou. Jos van Emden, Lars Boom e a locomotiva Robert Gesink, tal como Kruijswijk, estão juntos desde o tempo da Rabobank. Boom até está de saída para a Roompot-Charles, do escalão Profissional Continental, mas a que passará a ser Jumbo-Visma (este último patrocinador foi anunciado há poucos dias), procura apostar na continuidade, mantendo a maioria do plantel e reforçando com nomes bem interessantes.

Claro que à cabeça está Tony Martin, afinal é um pentacampeão do mundo de contra-relógio, ganhou etapas no Tour, conquistou corridas como o Paris-Nice, o Eneco Tour e a Volta ao Algarve. No entanto, também é verdade que nos últimos dois anos andou desaparecido na Katusha-Alpecin. Está naquela lista de ciclistas que sai da Quick-Step Floors e não consegue manter o nível exibicional. A Jumbo-Visma espera ver um pouco do melhor do alemão que, aos 33 anos, vai tentar reavivar a sua carreira.

Porém, é Laurens de Plus quem acaba por ser a contratação de maior destaque, dada a expectativa que poderá reforçar o bloco das grandes voltas. O belga, de 23 anos, estava em fase de evolução na Quick-Step Floors, mas a indefinição da equipa, obrigou o seu director, Patrick Lefevere, a ter de abrir mão de alguns ciclistas, pois o novo patrocinador chegou já tarde na temporada..

Lennard Hofstede é outro jovem talento, da mesma idade que também está a desenvolver-se num bom ciclista para provas por etapas e para algumas clássicas. É de certa forma um regresso a casa do holandês, que esteve na equipa de desenvolvimento da Rabobank, antes de assinar por duas temporadas pela Sunweb. Também desta equipa chega Mike Teunissen. O holandês, de 26 anos, é homem para estar ao lado de Groenewegen nas clássicas e sprints. Taco van der Hoorn (25 anos, da Roompot-Nederlandse Loterij) é ciclista para as clássicas, tal como Wout van Aert.

O belga mais pretendido do momento está envolvido numa questão judicial depois de ter rescindido contrato com a Vérandas Willems-Crelan. A equipa levou a questão a tribunal, enquanto o ciclista recorreu à UCI para lhe permitir assinar já pela Jumbo-Visma, com quem iniciariá uma ligação em 2020 se não o puder fazer já, num acordo que partia do princípio que Van Aert terminaria contrato no final de 2019. A UCI deu luz verde, mas à condição, pois se o tribunal der razão à Vérandas Willems-Crelan, então quem contratar Van Aert poderá ser obrigado a pagar uma indemnização.

A Jumbo-Visma bem gostaria de assinar já a estrela do ciclocrosse e que este ano demonstrou que entre a lama da Strade Bianche e o pavé de Flandres e Roubaix, tem tudo para ser um ciclista de sucesso também na vertente de estrada. Ainda se espera pelo próximo episódio desta novela sem fim à vista e que poderá afastar Van Aert da competição em 2019 (pode ler mais pormenores neste link).

Permanências: Dylan Groenewegen, Primoz Roglic, Steven Kruijswijk, George Bennett, Antwan Tolhoek, Koen Bouwman, Floris de Tier, Pascal Eenkhoorn, Robert Gesink, Amund Grondahl Jansen, Sepp Kuss, Tom Leezer, Bert-Jan Lindeman, Paul Martens, Daan Olivier, Neilson Powless, Timo Roosen,  Jos van Emden, Danny Van Poppel e Maarten Wynants.


Contratações: Tony Martin (Katusha-Alpecin), Laurens de Plus (Quick-Step Floors), Mike Teunissen (Sunweb), Lennard Hofstede (Sunweb), Taco van der Hoorn (Roompot-Nederlandse Loterij) e Jonas Vingegaard (ColoQuick).

»»Época com muitos quase, mas com uma certeza chamada Latour««

»»Mais investimento, novas figuras, mas o mesmo velho problema e um Aru irreconhecível««

Sem comentários:

Enviar um comentário