29 de dezembro de 2018

A Sky de grandes vitórias, da revelação do ano e da polémica

(Fotografia: Facebook Team Sky)
Ano de exibições memoráveis que irão marcar a história do Giro e do Tour, mas que não apagam toda uma polémica que rodeou a Sky e que também não será esquecida. Falou-se praticamente tanto do caso do salbutamol de Chris Froome, como da sua épica vitória em Bardonecchia e no Giro e da enorme conquista da Volta a França por parte de Geraint Thomas. Talvez só Egan Bernal tenha conseguido mudar o tom do discurso de desconfiança que acompanhou a Sky. Este jovem colombiano é um puro talento de quem muito se esperava antes de começar a temporada e de quem agora se espera... o mundo!

Mas não há forma de contornar o ciclista que marcou novamente a temporada da Sky. Foi Chris Froome, mas não pelas razões das últimas épocas. O positivo por salbutamol, o dobro do permitido da substância para a asma, detectado na Vuelta de 2017, foi um caso que deu uma mais machadada na reputação da equipa. Ainda a tentar recuperar do "pacote suspeito" de Bradley Wiggins e das desconfianças que praticamente sempre acompanharam a Sky e os seus ganhos marginais, a equipa viu inclusivamente outros ciclistas e directores desportivos criticarem a escolha de manter Froome em competição enquanto decorria o processo. As regras assim o permitiram, pelo que o ciclista viveu tempos difíceis. Mas foi ao Giro ganhá-lo, vencendo assim as três grandes voltas de forma consecutiva, ainda que em anos diferentes.

Ficou a faltar o quinto Tour, só que foi mais um ciclista que pagou o esforço da Volta a Itália e ainda não foi Froome que quebrou o enguiço que dura desde 1998, quando Marco Pantani fez a dobradinha Giro/Tour. O arrastar do processo - só no final de Junho ficou resolvido - não ajudou em nada em abrilhantar aquela exibição que foi uma das mais marcantes da história centenária do Giro. Como Froome foi absolvido pela UCI e os seus resultados mantiveram-se, então, aquele 25 de Maio será sempre o dia em que o britânico concluiu uma fuga solitária de 80 quilómetros, que começou no Colle delle Finestre e só terminou em Bardonecchia, na meta. Uma etapa de montanha em que Froome, então já quase afastado de poder vencer a corrida, tirou este autêntico coelho da cartola para vestir a camisola rosa. E quando veste uma camisola de líder, raramente a perde.

Foi também o dia em que Simon Yates (Mtichelton-Scott) quebrou e que Tom Dumoulin (Sunweb) não conseguiu acompanhar Froome nas descidas, que fizeram mais diferenças do que as subidas. Mas o mérito é todo do britânico. De Froome continuou-se a falar muito de salbutamol, enquanto, quase pela calada, Geraint Thomas cumpriu o prometido: preparou o Tour para o disputar, mesmo que a Sky tenha durante a corrida mantido a aposta em Froome. Mais uma vez foi deste ciclista que muito se falou, quando a organização tentou impedi-lo de estar na prova francesa. A UCI fechou o processo e Froome foi mesmo ao Tour. Thomas roçou a perfeição, mesmo com o companheiro a querer atacá-lo, como o galês admitiu e com a equipa a dizer que o deixava para trás no contra-relógio colectivo se tivesse algum problema.

A única oportunidade que tinha recebido para liderar numa grande volta havia sido no Giro em 2017. Uma queda, após choque com uma moto da polícia mal parada, forçou o seu abandono. Continuava por responder a questão se Thomas tinha capacidade para ser líder e discutir ainda mais um Tour. A resposta: sim, tem toda a capacidade e mais alguma. Demonstrou ser sempre o mais forte até que na 11ª e 12ª etapa partiu para duas vitórias, incluindo no mítico Alpe d'Huez. A quinta conquista de Froome teria de esperar. Era o ano do galês e merecidamente. Um excelente triunfo e um Tour até a preferir que, a ter de ser a Sky a ganhar (outra vez), então que fosse Thomas, um ciclista mais afastado de polémicas e com melhor imagem nesta altura.

Na Vuelta, a Sky esteve com uma atitude diferente. Michal Kwiatkowski acusou o esforço de uma longa temporada de muito sucesso. Além do eterno gregário de luxo, venceu a Volta ao Algarve pela segunda vez, o Tirreno-Adriatico e a Volta à Polónia. Já David de la Cruz foi dos poucos ciclistas que até apontou a corrida espanhola como principal objectivo. Teve a oportunidade e desperdiçou-a.


Ranking: 2º (10.213 pontos)
Vitórias: 43 (incluindo Giro, Tour, Critérium du Dauphiné, Tirreno-Adriatico, Volta à Califórnia e Volta ao Algarve)
Ciclista com mais triunfos: Michal Kwiatkowski (10)

Quem não desperdiçou rigorosamente nada foi Egan Bernal, a revelação de 2018 no World Tour. Há muito que um ciclista não entusiasmava tanto logo no seu primeiro ano no principal escalão. Este colombiano de 21 anos tem à sua espera um futuro muito, muito promissor. Começou bem no Tour Down Under e foi sempre a melhorar, até que venceu peremptoriamente a Volta à Califórnia. Foram seis vitórias em 2018. A Sky não esperou mais e levou-o ao Tour, onde foi essencial para garantir que Chris Froome ficasse pelo menos no pódio.

Mas Bernal não é para ficar preso a um papel de gregário e a Sky não só renovou de imediato até 2023, como o irá colocar no próximo Giro. Claro que a duração de contrato poderá ser irrelevante já que a Sky vai deixar de patrocinar a equipa no final de 2019, pelo que ainda são muitas as incertezas quanto ao futuro da estrutura. Arrancou a missão de procurar quem queira dar nome à equipa e, de preferência, mantê-la com um poderio financeiro inigualável. Não será nada fácil encontrar quem esteja disponível a ceder tanto dinheiro.

Bernal - que sofreu duas quedas graves durante a época, mas regressou sempre forte - será dos ciclistas que não se terá de preocupar muito com o continuar ou não na Sky. É já um dos ciclistas mais pretendidos e o seu valor até poderá aumentar (e bem) se 2019 for ao nível do que se espera, com mais umas grandes exibições e vitórias a juntar ao seu currículo. Poderá até ser mais pretendido do que Froome e Thomas, cujas idades terão o seu peso e, no caso do primeiro, o desgaste da imagem com o que aconteceu em 2018 não ajudará, mesmo que vença o quinto Tour e se junte ao grupo de recordistas.

Portanto, se 2018 ficou marcado por muito do que se passou fora das corridas sobre Froome, 2019 também não vai ser mais calmo perante a saída do patrocinador. Ainda assim, ninguém duvida que a equipa vai atrás de mais umas grandes voltas e não só.

Além de Bernal, haverá mais uns jovens que poderão assumir maior protagonismo, começando por Tao Geoghegan Hart, o braço-direito do colombiano na Volta à Califórnia. É um ciclista que encaixa perfeitamente na cultura de gregários da Sky, mas que tem algo mais para mostrar. Pavel Sivakov foi, tal como Bernal, um dos reforços de quem muito se esperava. Foi mais discreto na sua adaptação ao World Tour, mas deixou a promessa que se vai mostrar mais em 2019.

Chega outro colombiano, Iván Ramiro Sosa (Androni Giocattoli-Sidermec), desviado da Trek-Segafredo e para fazer parte do que o director Dave Brailsford pensava ser o futuro próxima da Sky, antes de saber que ficaria sem patrocinador para 2020. Junta-se ainda Jhonatan Narváez, que deixou a Quick-Step Floors para assinar por uma equipa que melhor explora ciclistas com as suas características. Ambos os corredores têm 21 anos.

A renovação da Sky está em curso, mas a grande questão para 2019 será se esta se concretizará, ou se em Agosto o mercado de transferências se tornará num dos mais loucos já visto, com os ciclistas da equipa britânica disponíveis para negociar. Brailsford quer resolver o futuro até antes do Tour. Na estrada, fora dela, esta Sky consegue ser sempre muito falada.

Na estrada, também há questões a responder, sendo a principal como irão Thomas e Froome coincidir na Volta a França. É o objectivo principal da época para ambos, com o galês a ter agora uma vitória para se impor como líder e não ser um plano B. Vem aí uma luta de egos que em nada tem beneficiado outros equipas que apostam em mais do que um líder.

E por falar em egos, Moscon tem um bem grande. É outra grande questão para 2019. Como se vai comportar este italiano? O talento está lá, os resultados também e aos 24 anos apenas se poderia pensar que se estava perante um ciclista que dá garantias de vitórias. Porém, o seu comportamento continua a manchar a sua reputação e credibilidade.

Depois de acusações de comentários racistas, de ter sido desclassificado nos Mundiais de Bergen por ter aproveitado a "boleia" do carro da equipa, desta feita foi expulso do Tour ao agredir um ciclista da Fortuneo-Samsic. Primeiro pediu desculpa, depois veio dizer que não tinha atingido Elie Gesber. Ciclista difícil este Moscon, que se se concentrar apenas em competir, então talvez reconquiste o respeito e siga rumo a uma carreira de sucesso.

Permanências: Chris Froome, Geraint Thomas, Michal Kwiatkowski, Egan Bernal, Jonathan Castroviejo, David de la Cruz, Kenny Elissonde, Tao Geoghegan Hart, Pavel Sivakov, Michal Golas, Sebastián Henao, Kristoffer Halvorsen, Vasil Kiryienka, Christian Knees, Gianni Moscon, Wout Poels, Salvatore Puccio, Diego Rosa, Luke Rowe, Ian Stannard, Dylan van Baarle, Chris Lawless, Owain Doull, Eddie Dunbar e Leonardo Basso.

Contratações: Iván Ramiro Sosa (Androni Giocattoli-Sidermec), Jhonatan Narváez (Quick-Step Floors), Ben Swift (UAE Team Emirates) e Filippo Ganna (UAE Team Emirates).


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