5 de dezembro de 2018

Um 2018 muito a pensar em 2019

(Fotografia: Facebook Trek-Segafredo)
Sem um líder para as grandes voltas com a saída de Alberto Contador, com um líder para as clássicas que demora a reencontrar-se - John Degenkolb -, a época para a Trek-Segafredo não se adivinhava fácil. Com um plantel a precisar de ser reforçado e, principalmente, renovado, 2018 acabou por ser um ano de transição, muito trabalhado fora da estrada para garantir novos rostos, que possam recolocar a equipa na disputa das grandes corridas e não apenas numa atitude de "fazer o melhor possível".

E em ano de transição, dentro do actual plantel, houve quem demonstrasse que pode mesmo ser o futuro, casos de Ryan Mullen e Mads Pedersen. O dinamarquês, de 22 anos, fez segundo na Volta a Flandres, numa exibição tremenda e que o coloca entre um dos potenciais grandes especialistas das clássicas. Ainda se fica pelo potencial, pois também ficou claro durante a temporada que há muito a evoluir, mas que Pedersen tem tudo para ser um homem do pavé, disso não há dúvidas e terminou 2018 com três vitórias. (uma etapa no Herald Sun Tour, na clássica dinamarquesa Fyen Rundt e no Tour de l'Eurométropole). Já Mullen, irlandês de 24 anos, foi mais discreto ainda que com dois triunfos (contra-relógio na Volta a San Juan e o título nacional da especialidade), mas dentro da equipa ouvem-se ecos de como se acredita que tem as características para também ele evoluir para um ciclista forte nas clássicas e também em provas por etapas de uma semana. E claro, está a tornar-se num caso sério no contra-relógio.

Ainda nas clássicas, a Trek-Segafredo conta com dois ciclistas que são dos melhores na actualidade. Jasper Stuyven teve uma regularidade impressionante, como é normal. Terminou no top dez em praticamente todas as clássicas em que participou, somou duas vitórias, mas não conseguiu uma grande vitória para frustração da equipa, que tanto precisava. Até porque John Degenkolb só apareceu, finalmente, na Volta a França. Venceu a etapa de Roubaix, que teve um significado enorme, já que o alemão venceu ali o monumento em 2015.

Para a equipa americana, o triunfo foi de extrema importância, ainda mais olhando para o 2019. A esperança é que se trate mesmo do renascimento de Degenkolb, que até final da temporada mostrou-se mais competitivo. A Trek-Segafredo mantém a esperança de ver o melhor de um ciclista que não mais foi o mesmo desde o atropelamento na pré-época, em 2016. Será uma expectativa moderada, pois não é a primeira vez que Degenkolb parece estar a recuperar a confiança e condição física e depois não consegue estar ao seu melhor nas corridas.

Gianluca Brambilla, Jarlinson Pantano (venceu uma etapa na Volta à Catalunha), Fabio Felline e Giacomo Nizzolo ficaram aquém do esperado, enquanto Bauke Mollema teve a sua derradeira oportunidade como líder, pelo menos no Tour. Confirmou o que já se sabia: não tem capacidade para mais do que um top dez, talvez já nem isso. Porém, tendo como objectivo lutar por etapas resulta muito melhor. Não conseguiu, mas esteve muito na frente, muito activo, a dar espectáculo, tanto no Tour como na Vuelta, onde fez dois segundos lugares, mas até merecia mais. Com a chegada de Richie Porte, talvez seja mesmo a altura do holandês optar definitivamente por este tipo de objectivos.


Ranking: 13º (5428 pontos)
Vitórias: 20 (incluindo uma etapa no Tour)
Ciclista com mais triunfos: Toms Skujins (4)

Houve ainda um Toms Skujins, um daqueles ciclistas que é difícil não se apreciar. Sempre preparado para uma fuga, para uma ataque que poucos acreditam poder ter sucesso, sempre pronto para dar tudo pela equipa. O letão venceu em quatro ocasiões, com destaque para a terceira etapa da Volta à Califórnia, uma corrida que tanto aprecia, mesmo já lá tendo sofrido uma queda grave. Skujins ainda vestiu a camisola de líder da montanha na Volta a França, num dia marcante para o ciclismo da Letónia.

Skujins vai continuar a ser uma das apostas para 2019. Este ano ficou claro que a Trek-Segafredo não podia mais adiar uma renovação dos seus ciclistas. Começou cedo ao garantir Matteo Moschetti, o primeiro ciclista a sair da Polartec-Kometa, equipa de Alberto Contador, que está a funcionar como estrutura de formação da estrutura americana. O italiano, de 22 anos, é uma promessa para as clássicas e para os sprints.

No entanto, a grande preocupação era um homem para as três semanas e neste aspecto, não era possível contratar alguém apenas a pensar que daqui a alguns anos pudesse estar na luta por um Tour ou outra grande volta. Com a indefinição quanto ao futuro da BMC - a marca de bicicletas anunciou que deixaria de ser o patrocinador e demorou a aparecer um substituto -, a Trek-Segafredo fez tudo para contratar Richie Porte. O australiano é um dos melhores voltistas, ainda que não tenha ainda conseguido um pódio ou uma vitória de etapa numa grande volta.

Contudo, percebe-se a confiança nele depositada, visto como se apresenta até a uma queda, um furo ou algo que o afaste dos primeiros lugares ou mesmo da corrida. Aos 33 anos, se conseguir não cair e escapar a aos azares que o perseguem, poderá ser o ciclista que recolocará a Trek-Segafredo na luta por mais do que um top dez.

Mas claro que a idade de Porte tem o seu peso. Por isso a equipa americana foi buscar mais um italiano que promete. Giulio Ciccone foi uma das figuras do último Giro nas etapas de montanha e foi nono na Volta aos Alpes. A Bardiani-CSF rapidamente percebeu que seria impossível segurar o jovem de 23 anos. Enquanto Porte é o homem para o resultado imediato, Ciccone irá ser a aposta para o futuro próximo, mas já com destaque a partir de Janeiro.

O mesmo iria acontecer com Ivan Ramiro Sosa. É mais um puro talento colombiano que Gianni Savio foi buscar para a Androni Giocattoli-Sidermec. Foi anunciado como reforço, o que deixava a Trek-Segafredo numa posição muito favorável na construção de uma equipa forte. Porém, soube-se mais tarde que não havia qualquer contrato assinado e a Sky intrometeu-se. Ainda não é oficial, mas o colombiano terá sido desviado para a formação britânica, num dos episódios insólitos deste mercado de transferências e até já vai falando como um corredor que se prepara para ajudar Chris Froome.

Um rude golpe para a Trek-Segafredo, que deixou escapar um ciclista que promete e muito. Por outro lado, houve quem não desperdiçasse a oportunidade de assinar pela equipa americana. Edward Theuns está de regresso após um ano para esquecer na Sunweb, em mais um reforço para o bloco das clássicas.

Houve várias saídas, principalmente de ciclistas mais velhos, mas também de Nizzolo, por exemplo. Ruben Guerreiro também vai trocar de camisola. O ciclista português nunca alcançou a estabilidade desejada, muito devido aos constantes problemas, como quedas ou questões de saúde. Sempre que se apresentava em boa forma, algo acontecia. Terminou a temporada com um sexto lugar na Volta à Turquia e prepara-se agora para se juntar ao director José Azevedo e ao companheiro José Gonçalves na Katusha-Alpecin, esperando encontrar a regularidade necessária para triunfar a este nível e que este ano, a falta dela, lhe custou uma presença na Volta a Espanha.

Para a Trek-Segafredo foi então um 2018 muito a pensar em 2019, pelo que as expectativas e as responsabilidades vão ser bem maiores. Pelo menos, operou finalmente as mudanças de rejuvenescimento de uma equipa a precisar urgentemente de sangue novo.

Permanências: John Degenkolb, Jasper Stuyven, Bauke Mollema, Ryan Mullen, Gianluca Brambilla, Jarlinson Pantano, Mads Pedersen, Toms Skujins, Fabio Felline, Niklas Eg, Beppu Fumiyuki, Julien Bernard, Nicola Conci, Koen de Kort, Alex Frame, Michael Gogl, Markel Irizar, Kiel Reijnen e Peter Stetina.

Contratações: Richie Porte (BMC), Edward Theuns (Sunweb), Giulio Ciccone (Bardiani-CSF), Matteo Moschetti (Polartec-Kometa), Will Clarke (EF Education First-Drapac p/b Cannondale) e Alex Kirsch (WB Aqua Protect Veranclassic).

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