10 de dezembro de 2018

Época com muitos quase, mas com uma certeza chamada Latour

(Fotografia: Facebook AG2R)
Tal como a Groupama-FDJ, a AG2R joga quase tudo na Volta a França. É o que se exige a uma equipa francesa, com patrocinadores fortes daquele país, a quererem a maior exposição possível numa corrida sem comparação mediática. Ao contrário da rival, a AG2R foi praticamente na máxima força para o Tour, com um Romain Bardet a apontar a mais um pódio no mínimo, mas a querer a vitória. Apesar da temporada interessante e de ter-se dedicado mais ao contra-relógio, o seu enorme handicap, Bardet ficou longe do que pretendia do Tour, ao contrário de Pierre Latour. Quanto aos seus companheiros, enquanto Tony Gallopin iniciou uma transformação, Geniez aproveitou para obter mais uma grande vitória. Enquanto Silvan Dillier quase alcançou algo inédito, Oliver Naesen ficou aquém do que ambicionava.

E começa-se por aqui. Pelo dia em que a AG2R alimentou uma pequena esperança de, inesperadamente, conquistar o Paris-Roubaix. Apesar de Oliver Naesen ser um candidato, depois do que fez em 2017, o belga não conseguiu repetir as performances, falhando nos momentos que acabariam por ser decisivos, com alguns azares pelo meio. Porém, surgiu Silvan Dillier, o reforço oriundo da BMC, que se agarrou à roda de Peter Sagan, fez o que poucos fazem ao ajudar o eslovaco da Bora-Hansgrohe na fuga e entrou no velódromo de Roubaix em condições de sprintar com o tricampeão do mundo. Era claro quem era o favorito entre os dois, mas no ciclismo o favoritismo tem muito de teoria que não se confirma na prática. Por instantes a AG2R esteve numa posição de alcançar algo inédito: um monumento. Sagan desta feita confirmou o favoritismo, mas Dillier dava continuidade a uma época de clássicas que tinha já visto outra surpresa.

Romain Bardet, o voltista de excelência, foi à enlameada Strade Bianche fazer também segundo, atrás de Tiesj Benoot (Lotto Soudal). Como francês, Bardet está habituado em competir em terrenos nem sempre de alcatrão, mas, ainda assim, não se esperava um Bardet a apostar tanto neste tipo de corridas, ele que ganhou a Classic de l'Ardèche Rhône Crussol. Bardet está de facto cada vez mais focado nas clássicas e na Liège-Bastogne-Liège foi novamente ao pódio, depois do nono lugar na Flèche Wallonne. Dois pódios em monumentos... nada mau para uma AG2R que tanto aposta em ser ela a quebrar o jejum de triunfos de ciclistas franceses no Tour, numa luta particular com a Groupama-FDJ.

Naesen não teve o protagonismo que se esperava, com o próprio a assumir que 2018 ficou aquém - apesar de ter ganho a Bretagne Classic/Ouest-France, que não o deixou com o sentimento de missão cumprida - e que há que mudar os acontecimentos em 2019. O belga quer estar definitivamente na luta por Roubaix e pela Flandres.


Ranking: 11º (6397 pontos)
Vitórias: 15 (incluindo duas etapas na Vuelta)
Ciclista com mais triunfos: Alexandre Geniez (4)


E quem já mudou foi Tony Gallopin. Falhou no papel de ajuda a Bardet, mas reapareceu na Vuelta e para a tentar discutir. Mais magro, com muito trabalho feito para melhorar na alta montanha (sempre foi bom trepador até à média montanha), ganhou uma etapa e só na última grande dificuldade acabou por ceder o suficiente para deixar escapar o 10º lugar (foi 11º). Ainda assim, foi um Gallopin que quer tornar-se numa opção para as três semanas, ainda que no Tour a sua mudança, será sempre uma mais valia mas na ajuda a Bardet.

Tal como acontecerá com Pierre Latour. O jovem francês já tinha uma etapa na Vuelta no currículo (2016), mas esta foi uma época de afirmação nas provas por etapas, com top dez na Romandia, no Critérium du Dauphiné, tendo começado a senda de sucesso com o pódio na Catalunha (terceiro). No Tour, a camisola branca da juventude e com Bardet a não demonstrar poder estar na discussão com Geraint Thomas (Sky), Latour tudo fez para garantir que estaria no pódio nos Campos Elísios como o melhor jovem.

Porém, a sua ambição pessoal também prejudicou, por vezes, o trabalho colectivo da AG2R. Isto é, na ajuda ao líder. Contudo, fica o resultado final: ganhou a classificação da juventude no Tour, o que acabou por ser muito importante para a formação francesa. Latour poderá ganhar o seu espaço na equipa noutras grandes voltas. Porém, nem Gallopin, nem Latour escaparão à função de gregário, por mais liberdade que tenham noutras corridas.

O problema da AG2R não foi em vencer nas corridas caseiras, nem em conquistar alguns bons resultados a nível do World Tour, no entanto, foi na Vuelta que conseguiu finalmente duas grandes vitórias, que foram muito bem-vindas. Além de Gallopin, Alexandre Geniez confirmou a boa temporada pessoal com a sua terceira etapa da Volta a Espanha. Foram quatro triunfos em 2018 para Geniez.

A época da AG2R ficou muito marcada pelo "quase". Nans Peters e Nico Denz foram mais dois ciclistas que provaram isso mesmo, ainda que Denz tenha contribuído com mais uma vitória por França.

Continuidade é a palavra de ordem. No que é uma tendência das equipas francesas do World Tour, não se mexe no que se acredita, apenas se tenta aprimorar. A equipa de 2018 passa quase toda para o próximo ano, com três reforços confirmados: Larry Warbasse (Aqua Blue Sport), Dorian Godon (Cofidis) e o campeão nacional de ciclismo amador Geoffrey Bouchard (CR4C Roanne), que somou ao todo 11 vitórias em 2018 e assim mereceu a confiança para estrear-se como profissional na AG2R.

Bardet ainda lançou alguma confusão ao falar na possibilidade de ir ao Giro, mas a AG2R meteu tudo na ordem esperada e o seu líder vai só concentrar-se no Tour e em trabalhar o contra-relógio, que bem precisa. Mas as clássicas vão continuar a ser a sua aposta, pois nos Mundiais de Innsbruck demonstrou novamente que podem contar com ele para corridas de um dia. Aquele segundo lugar atrás de Alejandro Valverde não foi fácil de digerir, mas Bardet está mais do que convencido que pode ganhar, por exemplo, uma Liège-Bastogne-Liège, além de andar a lutar por um Tour, onde não está fácil encontrar a solução para bater a Sky (já foi segundo e terceiro).

E com o Tour a ser uma missão tão complicada, conquistar mais algumas vitórias noutras corridas, além das do calendário francês, poderá ter de ser uma aposta maior, pois após tantos "quase" ficou a vontade por alcançar mais. Bardet que o diga!

Permanências: Romain Bardet, Oliver Naesen, Tony Gallopin, Silvan Dillier, Alexandre Geniez, Pierre Latour, Nans Peters, Alexis Vuillermoz, Gediminas Bagdonas, François Bidard, Geoffrey Bouchard, Mickaël Cherel, Clément Chevrier, Benoît Cosnefroy, Nico Denz, Axel Domont, Samuel Dumoulin, Hubert Dupont, Julien Duval, Mathias Frank, Ben Gastauer, Alexis Gougeard, Quentin Jauregui, Aurélien Paret-Peintre, Stijn Vandenbergh e Clément Venturini.

Contratações: Larry Warbasse (Aqua Blue Sport), Dorian Godon (Cofidis) e Geoffrey Bouchard (CR4C Roanne).

»»Mais investimento, novas figuras, mas o mesmo velho problema e um Aru irreconhecível««

»»Um 2018 muito a pensar em 2019««

Sem comentários:

Enviar um comentário