(Fotografia: © Photo Gomez Sport/Movistar Team) |
Quando se questiona sobre os objectivos para 2019, Nelson Oliveira, de 29 anos, não hesita nem um milésimo de segundo na resposta: "Ajudar os líderes." Mas quando se está perante um dos melhores contra-relogistas da actualidade, é impossível não pensar que vencer um numa grande corrida não seja um objectivo. "Nos contra-relógios [os responsáveis da Movistar] dão-me sempre liberdade. Mas há momentos em que nos dias anteriores tem-se de trabalhar para os líderes e as forças depois já não são as mesmas. É uma questão que tenho vindo a evoluir e espero continuar. Vamos ver se consigo dar um passo mais à frente e que surja a tão desejada vitória", salientou ao Volta ao Ciclismo. Em 2018 alcançou um quarto e um sétimo lugar nos contra-relógios da Vuelta - há que não esquecer que em 2015 venceu uma etapa em linha - e um quinto nos Mundiais. Recuando dois anos, ao Tour, já tem um terceiro e é tetracampeão nacional.
É no Tour que quer mostrar-se novamente, ele que nesse ano foi dos ciclistas que mais se destacou pela positiva numa Movistar que viu Nairo Quintana ficar aquém do esperado, depois de uma presença no Giro que teve o seu peso na forma do colombiano em França. Nelson Oliveira confessou que estar no Tour é de facto um objectivo seu, estando na lista de possíveis ciclistas a convocar.
Mas até 6 de Julho muito irá acontecer. "À priori começo a época em Maiorca, depois Valência, Abu Dhabi, Tirreno-Adriatico, até aí tenho as coisas mais ou menos definidas", referiu, destacando-se a ausência da Volta ao Algarve do programa. A Movistar não vai rumar ao sul de Portugal este ano. O que virá depois para Nelson Oliveira está a ser estudado, com o Paris-Roubaix a ser uma corrida que o ciclista conversou com os directores para não estar presente em 2019.
"Um dia poderei dizer que corri com estes ciclistas que foram campeões do mundo. É um bom sinal e é um orgulho poder trabalhar com eles"
"Espero não ir. Falei sobre isso, sobre não querer ir este ano. Não vou dizer que foi a última vez que fui ao Paris-Roubaix, mas este ano meti a corrida de lado." De imediato ressalva que não signifique que não acabe por ser chamado, mas admitiu que gostaria de fazer a temporada sem ir ao Inferno do Norte, depois de três anos muito azarados naquele monumento. No entanto, deverá estar presente noutras clássicas do norte, com a Volta a Flandres a ser uma corrida bem mais simpática para Oliveira. Já fechou dois top 20.
A Movistar tem sido uma crónica candidata a lutar por grandes voltas, tendo três ciclistas com capacidade de liderança e com Nelson Oliveira a destacar como Richard Carapaz e Marc Soler já ali estão, preparados para em breve assumirem também eles esse papel. Porém, em 2018 o famoso tridente Quintana/Landa/Valverde falhou na Volta a França, com a dupla Quintana/Valverde a também não conseguir conqusitar a Vuelta (Landa ficou de fora devido a lesão, após queda na Clássica de San Sebastian).
Com Nairo Quintana a dizer publicamente que não lhe agrada a liderança tripartida na Movistar e depois de um Tour aquém do esperado da Movistar, Nelson Oliveira garantiu que o ambiente na equipa "é muito bom" e que "está tudo bem" entre os três líderes da formação espanhola. Oliveira não considera que a Movistar esteja com mais pressão para vencer uma grande volta do aquela que normalmente já tem, considerando que a separação do tridente pode ser benéfico para alcançar esse objectivo, seja qual das três corridas for. "Além do Landa e do Valverde, a equipa vai ter no Giro o Carapaz. Acho que vai ser uma equipa bastante sólida para a montanha e para tentar vencer a corrida", destacou sobre a primeira das grandes voltas, que contará com o regresso de Mikel Landa e Alejandro Valverde a Itália.
O director da Movistar, Eusebio Unzué, decidiu que em 2019 Landa fará Giro/Tour, Quintana Tour/Vuelta e Valverde Giro/Vuelta. Ou seja, se não se verificarem alterações, o campeão do mundo não estará nas estrada de França. Para Nelson Oliveira é a segunda vez na carreira que está ao lado de um ciclista que veste a camisola do arco-íris, depois de ter sido o fiel companheiro de Rui Costa na Lampre-Merida, em 2014.
"Um dia poderei dizer que corri com estes ciclistas que foram campeões do mundo. É um bom sinal e é um orgulho poder trabalhar com eles", realçou, acrescentando ser especial ter estado ao lado de Rui Costa quando este vestiu a icónica camisola e agora poder ajudar Valverde quando é o espanhol quem a enverga. Não se resistiu em dizer que talvez Nelson Oliveira possa também ele vestir uma como campeão do mundo de contra-relógio. "Não seria mau", disse, deixando escapar um grande sorriso perante a sugestão.
Aos 38 anos, Valverde conquistou uma das vitórias que lhe faltava. Quer agora ir atrás do título olímpico em Tóquio, mas essa corrida só será em 2020 e até lá, fica a garantia que o espanhol não vai abrandar o ritmo de vitórias, só porque finalmente foi campeão mundial: "O Valverde quer mais. A camisola de campeão do mundo dá-lhe, de certo modo, um pouco mais de responsabilidade. Ele já está com aquela vontade de sempre de vencer."
A preparar-se para a sua nona época no Word Tour, Nelson Oliveira é já um dos portugueses com mais experiência a este nível. 2019 marcará a estreia de dois jovens talentos e o ciclista de Anadia acredita que os gémeos Ivo e Rui Oliveira têm tudo para singrar. "É um grande passo para eles estarem agora numa equipa World Tour [a UAE Team Emirates]. Espero que estejam bem acompanhados. Ainda têm muito para aprender, são muito jovens e vão cometer erros, mas é com eles que também vão aprendendo", frisou.
"Têm tudo para dar em bons ciclistas no World Tour. A ajuda de um português e ainda mais de um como o Rui [Costa], certamente que será uma ajuda ainda maior", acrescentou. E claro, ficou a garantia que o próprio Nelson Oliveira e os outros compatriotas do pelotão internacional também darão o seu apoio neste início de carreira dos gémeos ao mais alto nível: "Acho que poderemos esperar bastante deles."
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