19 de dezembro de 2018

Que ninguém comece mal esta Vuelta

Ter capacidade para se reinventar não é fácil, ainda mais quando se encontrou uma fórmula de sucesso. A Volta a Espanha passou nos últimos anos a ser maioritariamente montanhosa, com muitas chegadas em alto, etapas duras e curtas, pouco espaço para sprinters e muito para espectáculo. Se está bem, porquê mudar? Porque se pode fazer melhor! Se se está habituado a ver as grandes voltas irem em crescendo em dificuldade, até um final muito aguardado, a Vuelta de 2019 vai obrigar a uma entrada bem diferente dos ciclistas. Não há cá ir melhorando ao longo das três semanas. É entrar forte e não fraquejar, pois a primeira semana não vai perdoar quem comece mal.

Em números: a Volta a Espanha terá oito chegadas em alto (menos uma do que em 2018), seis etapas para os sprinters (algumas poderão ser apetecíveis para as fugas triunfarem), um contra-relógio colectivo de 18 quilómetros e um individual de 36 e zero etapas acima dos 200 quilómetros. A 17ª fica a 300 metros dessa marca, mas, ainda assim, fica a nota para uma outra corrida que tanto gosta destas etapas que nunca mais acabam em terreno plano...

A Vuelta tem sido dura logo desde a primeira semana, mas para 2019 a organização resolveu dificultar mais nos primeiros dias. Logo ao segundo dia há média montanha e no quinto uma chegada em alto, que se repete na sexta etapa. Mas há já uma tirada que vai ficar na agenda daquelas a não perder. Antes do dia de descanso, serão 96,6 quilómetros com cinco subidas categorizadas, duas primeiras, uma especial e duas segundas. Um inferno entre Andorra la Vella e Cortals d'Encamp (gráfico em baixo da nona etapa). Andorra em todo o seu esplendor e com uma parte em terra batida antes da subida final, só para animar um pouco mais o dia.


Mas antes, atenção à quinta etapa, que será a primeira chegada em alto. Serão 12 quilómetros até ao Observatorio Astrofísico de Javalambre, com uma pendente média a rondar os 7%, mas os últimos quatro quilómetros aproximam-se dos 10%. No dia seguinte, nova chegada em alto, mas será uma terceira categoria.

A segunda semana abre com o contra-relógio, que, não sendo completamente plano, também não será uma dor de cabeça muito grande, a não ser para quem não se dá bem com os dias a seguir ao descanso. Será uma visita a França dos ciclistas. Seguem-se dias de pouco descanso, até à 13ª etapa, na qual haverá novo final em alto em Los Machucos. Na 15ª e 16ª, no fim-de-semana, muito se jogará na Vuelta. Os gráficos dizem quase tudo, a estrada dirá muito mais.

Primeiro na chegada ao Santuário de Acebo, com uma subida inédita na corrida, a rondar os 8% de pendente.



Depois o Alto de la Cubilla, uma subida que parecerá interminável - qualquer coisa como 27 quilómetros - e, tendo em conta que no dia seguinte se poderá descansar, não será altura para jogar pelo seguro. É um perfil a pedir espectáculo, mas espera-se que o vento não se faça sentir em demasia em certas zonas, porque poderá prejudicar os planos de alguns ciclistas.



Na última semana não faltarão dificuldades, mas aquelas rampas que se tornaram a imagem de marca da Vuelta e que fazem os mais fortes fraquejar, terão ficado para trás. Ainda assim, há quem já tenha perdido a corrida na Serra de Guadarrama, numa altura em que Madrid já estará à vista. Será a 18ª etapa, num dia parecido com um de 2015, em que Tom Dumoulin viu o sonho de conquistar então a sua primeira grande volta se desmoronar por completo, perante um Fabio Aru que se continua à espera de ver de novo...

A última etapa de montanha, no sábado, trará duas primeiras categorias, uma segunda e duas terceiras, uma no final. Será a subida a Puerto de Peña Negra, a penúltima da Vuelta, em que ainda se poderá fazer alguma diferença, mas se estas forem grandes, já pouco decidirá. Se forem curtas, então será indefinição até final.

A derradeira meta mantém-se intocável, com o centro de Madrid à espera de consagrar o vencedor no dia 15 de Setembro. A 24 de Agosto tudo começará em Torrevieja, na zona de Alicante.

Três outros pormenores: a Vuelta não irá ao sul de Espanha e passará a ter a camisola da juventude, seguindo o exemplo do Giro e Tour. Até 2018, a camisola branca era o símbolo do prémio combinado, uma distinção para o ciclista mais regular entre todas as classificações. A partir de 2019 será então para o melhor sub-26, que era consagrado através de um prémio do jornal oficial da prova, o As, mas que agora terá a merecida camisola. Mudança ainda mais significativa se se recordar que em 2018 a Vuelta teve o seu pódio mais jovem, com Simon Yates a ser o "veterano" de 26 anos. Enric Mas tem 23 e Miguel Ángel López 24.

O terceiro pormenor é a passagem por Toledo, onde termina a 19ª etapa. Celebrar-se-á o 60º aniversário da vitória de Federico Bahamontes na Volta a França. O ciclista ficou conhecido como El águila de Toledo (a Águia de Toledo).

E por falar no recente pódio, López tem a Vuelta no seu calendário para 2019, além do Giro e quer lutar pela vitória. Enric Mas sonha com o Tour, mas ainda nada está decidido. O espanhol elogiou o percurso da Vuelta, admitindo que lhe agradou. O vencedor Simon Yates vai ao Giro tentar concluir o que não conseguiu este ano, mas não está certo se irá regressar a Espanha ou se apostará no Tour. Foi parco em palavras, realçando como é uma Vuelta com a dificuldade que já lhe é habitual.

Sendo a última das três grandes voltas, a Volta a Espanha demora, por vezes, a ter um grupo de líderes das equipas que a coloca a corrida como prioridade. Alejandro Valverde já o fez, tendo o campeão do mundo realçado as muitas chegadas em alto, a muita montanha e a muita altitude. Depois do que aconteceu este ano, com Valverde a quebrar no final, o discurso é cuidadoso. Há muito para ganhar e para pensar antes da Vuelta. Mas que já entusiasma, isso é verdade!

Percurso (3272,2 quilómetros):
  • Etapa 1: Salinas de Torrevieja - Torrevieja, 18 quilómetros (contra-relógio por equipas)
  • Etapa 2: Benidorm - Calpe, 193 quilómetros (média montanha)
  • Etapa 3: Ibi Ciudad del Juguete - Alicante, 186 quilómetros
  • Etapa 4: Cullera - El Puig, 177 quilómetros
  • Etapa 5: L'Eliana - Observatorio Astrofísico de Javalambre, 165,6 quilómetros (média montanha, final em alto)
  • Etapa 6: Mora de Rubielos - Ares del Maestrat, 196,6 quilómetros (média montanha, final em alto)
  • Etapa 7: Onda - Mas de la Costa, 182,4 quilómetros (alta montanha, final em alto)
  • Etapa 8: Valls - Igualada, 168 quilómetros (média Montanha)
  • Etapa 9: Andorra la Vella - Cortals d'Encamp, 96,6 quilómetros (alta montanha, final em alto)
  • 2 de Setembro, dia de descanso
  • Etapa 10: Jurançon - Pau 36,1 quilómetros (contra-relógio individual)
  • Etapa 11: Saint-Palais Urdax - Dantxarinea, 169 quilómetros (média montanha)
  • Etapa 12: Circuito de Navarra - Bilbao 175 quilómetros (média montanha)
  • Etapa 13: Bilbao - Los Machucos. Monumento Vaca Pasiega, 167,3 quilómetros (alta montanha, final em alto)
  • Etapa 14: San Vicente de la Barquera - Oviedo, 189 quilómetros
  • Etapa 15: Tineo - Santuario del Acebo, 159 quilómetros (alta montanha, final em alto)
  • Etapa 16: Pravia - Alto de La Cubilla. Lena, 155 quilómetros (alta montanha, final em alto)
  • 10 de Setembro, dia de descanso
  • Etapa 17: Aranda de Duero-Guadalajara, 199,7 quilómetros
  • Etapa 18: Comunidad de Madrid. Colmenar Viejo - Becerril de la Sierra, 180,9 quilómetros (alta montanha)
  • Etapa 19: Ávila - Toledo, 163,4 quilómetros
  • Etapa 20: Arenas de San Pedro - Plataforma de Gredos, 189 quilómetros (alta montanha, final em alto)
  • Etapa 21: Fuenlabrada - Madrid, 105,6 km

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