4 de dezembro de 2018

De época prometedora, a possível desilusão, mas com um final apoteótico

(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Para uma equipa francesa, realizar uma boa Volta a França tem um peso enorme na temporada. Ganhá-la então... um sonho que tarde em acontecer. Arnaud Démare lá conseguiu uma etapa num Tour em que o sprinter não convenceu e, dificilmente terá de novo o estatuto de líder indiscutível da Groupama-FDJ na grande volta gaulesa. Porém, a equipa saiu de 2018 com a certeza que poderá voltar a aspirar a algo maior na "sua" corrida, pois Thibaut Pinot foi o ciclista que há muito se esperava ver. Só falta saber se conseguirá repetir o mesmo nível de performance perante toda a pressão que sofre quando compete em casa.

A época da Groupama-FDJ centrou-se muito no seu voltista. Pelas melhores e piores razões. A equipa resolveu enviá-lo de novo ao Giro e não se centrar apenas no Tour. Em 2017, a corrida italiana correu-lhe bem, ganhou uma etapa e ficou à porta do pódio. Contudo, pagou o esforço no Tour. Como em 2018 havia mais uma semana de descanso, houve nova tentativa em fazer as duas competições.

Pinot conquistou a Volta aos Alpes na preparação para a grande volta italiana e estava muito bem encaminhado para alcançar o pódio, que seria o seu segundo, depois de o ter alcançado no Tour de 2014. Na derradeira etapa de montanha, Pinot foi mais um dos ciclistas que, de repente, parecia ficar parado na estrada. Foi o descalabro e nem partiu para a tirada de consagração, em Roma. Foi-lhe diagnosticada uma pneumonia. A recuperação foi longa e a Volta a França foi riscada dos seus objectivos de temporada.

Enquanto Pinot via o seu prometedor ano tornar-se num potencial pesadelo, a Groupama-FDJ foi assistindo ao evoluir de um ciclista que começa a entusiasmar. David Gaudu tem 22 anos e nas provas por etapas mostrou ser um valioso gregário, mas, quando lhe foi dada liberdade, também apareceu em fugas e a revelar grande qualidade. É ainda um corredor de talento para corridas de um dia, como se viria no final da temporada.

Arnaud Démare foi vencendo durante o ano. Foram nove triunfos. Mas é um caso que os números não dizem tudo. Seis foram na mesma corrida. Ganhou todas as etapas e a geral da Tour Poitou-Charentes en Nouvelle Aquitaine. Mais uma vez voltamos à questão de competir em casa. Isto é, como equipa francesa, a Groupama-FDJ faz questão de estar nas corridas nacionais, independentemente da categoria UCI, e fá-lo para as tentar ganhar. 

Contudo, um sprinter que se quer apresentar como um dos melhores da actualidade, demonstrou dificuldades em estar constantemente ao nível dos grandes rivais. Venceu no Paris-Nice, na Volta à Suíça e no Tour, sendo que foi na corrida helvética que acabou por bater nomes como Fernando Gaviria e Peter Sagan. No Tour, a concorrência já era menor naquela fase tardia da prova (18ª etapa), devido a abandonos e a um Sagan debilitado devido a uma queda. Não lhe tira o mérito, mas exige-se mais a Démare.

Ranking: 14º (5102 pontos)
Vitórias: 33 (incluindo duas etapas na Vuelta e a Lombardia)
Ciclista com mais triunfos: Arnaud Démare (9)

Regressando a Pinot. Foi à Vuelta para salvar a temporada. Estava a ser regular e Rudy Molard até assumiu o protagonismo quando, surpreendentemente, vestiu a camisola vermelha da liderança. A excelente Volta a Espanha da Groupama-FDJ estava apenas a começar e Molard foi recompensado com um imediato anúncio de renovação de contrato. Pinot apareceu a uma semana do fim. Venceu nos míticos Lagos de Covadonga e foi, dias depois, conquistar Andorra. Subiu na classificação até ao sexto lugar. Aquele sim, foi o Thibaut Pinot que há muito se esperava ver, depois de tanta dificuldade para confirmar as expectativas depois de ter aparecido de rompante no ciclismo em 2012.

Foi um Pinot renascido, que sabe defender-se muito melhor nas descidas, defende-se no contra-relógio e é um trepador temível. Mais parecia ser uma época completamente diferente, quando se recordava o que lhe tinha acontecido no Giro. Foi ao Mundial de Innsbruck fazer nono, com Romain Bardet e Julian Alaphilippe a "roubar" algum protagonismo. Depois regressou a Itália para o conjunto de clássicas de final de época. Foi sempre a melhorar até às vitórias consecutivas na Milano-Torino e no seu primeiro monumento: a Lombardia. Mais dois grandes momentos para juntar aos da Vuelta.

Só mais uma palavra para Gaudu, a quem o próprio Pinot se rendeu. Esteve ao lado do seu líder nestas duas últimas vitórias e na Milano-Torino foi ele quem "rebocou" Pinot e, inadvertidamente, ao abrir caminho para o francês, acabou por provocar a queda de Miguel Ángel López (Astana), que se preparava para atacar. Um insólito para fechar o ano. De referir que quando pôde perseguir o seu resultado, foi segundo no Memorial Marco Pantani. E há que não esquecer que se está perante um vencedor do Tour de l'Avenir (2016).

Não sendo o plantel mais forte do pelotão, a Groupama-FDJ tem uma equipa consistente, que se centra muito em Pinot e Démare. No entanto, Anthony Roux, Steve Morabito ou Marc Sarreau também tiveram os seus momentos. E Sarreau (25 anos) poderá estar a ganhar o seu espaço na equipa, mesmo tendo as mesmas características que Démare.

Para 2019, a palavra de ordem é continuidade e regressar ao Tour com Thibaut Pinot, agora que este renascimento do francês é acompanhado pelo renascimento da esperança que poderá discutir a corrida que mais quer ganhar e quebrar o longo enguiço de um gaulês em vestir a camisola amarela nos Campos Elísios.

A Groupama-FDJ aproveitou a indefinição do futuro da estrutura da BMC para garantir três reforços. Os suíços Stefan Küng, Kilian Frankiny e o australiano Miles Scotson. O primeiro é um dos melhores especialistas no contra-relógio, o segundo pode reforçar o bloco de Pinot, enquanto Scotson tanto pode fazer provas por etapas, como dar uma ajuda nas clássicas.

Permanências: Thibaut Pinot, Arnaud Démare, David Gaudu, Rudy Molard, Marc Sarreau, Bruno Armirail, William Bonnet, Mickaël, Antoine Duchesne, Jacopo Guarnieri, Daniel Hoelgaard, Ignatas Konovalovas, Matthieu Ladagnous, Olivier le Gac, Tobias Ludvigsson, Steve Morabito, Valentin Madouas, Georg Preidler, Anthony Roux, Sébastien Reichenbach, Romain Seigle, Benjamin Thomas, Benoit Vaugrenard, Léo Vincent e Ramon Sinkeldam.

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