23 de junho de 2018

"Eles trabalham muito. As pessoas nem imaginam"

Rui Oliveira sagrou-se campeão nacional de fundo de  sub-23,
um dia depois do irmão ter ganho o título no contra-relógio
Quando um gémeo ganha, o outro não costuma deixar-se ficar! Tem sido assim na ainda curta carreira de Ivo e Rui Oliveira, primeiro na pista e agora a conquista de títulos começou a ter currículo também na estrada. Na sexta-feira Ivo sagrou-se campeão nacional de contra-relógio de sub-23. Um dia depois, Rui vestiu a camisola de campeão de fundo, na mesma categoria. Dois dias perfeitos acompanhados sempre de perto pela família. Hélder é o irmão mais velho, também ele já com passado na modalidade, mas há ainda o "pai dos gémeos", como é tratado. Fernando Oliveira assistiu a mais uma vitória e acredita que os filhos irão muito longe. Porquê? "Eles trabalham muito. As pessoas nem imaginam. Eles trabalham mais do que os outros. Eu sempre lhes disse: 'Nós para sermos campeões temos de trabalhar mais do que os outros.' E eles fazem isso e, por isso, estas coisas estão a acontecer naturalmente."

Rui não conseguia esconder a emoção da difícil conquista em Belmonte, nuns Nacionais marcados pelo muito calor. "Ele tem sido muito regular na Hagens Berman Axeon, com lugares no top 10 e eu sempre pensei que um dia o Rui iria vencer. Aconteceu no campeonato nacional. É ouro sobre azul! Estou muito feliz e feliz pelos meus filhos terem conseguido este objectivo de fazer uma dobradinha", contou ao Volta ao Ciclismo. A festa do São João ganhou outra cor para os ciclistas de Gaia, mas nem tudo tem sido fácil para os gémeos de 21 anos. Com a família a viver intensamente a carreira dos dois ciclistas, Fernando Oliveira confessou que ele e a mãe de Ivo e Rui passam por momentos difíceis. "Eu e a minha mulher passámos por muito. Sofre-se com as emoções todas. Ficamos com a adrenalina toda quando as coisas correm bem. Quando correm mal, temos de saber suportar isso e não é nada fácil. Não podemos nada ir abaixo", referiu.

O pódio: João Almeida, Ivo Oliveira e André Carvalho
E se há alguém que tem tido alguns azares, Ivo e Rui podem colocar o braço no ar. Quedas, fracturas, algumas paragens mais prolongadas já os afastaram de certas corridas: "Não é fácil lidar com esses azares. É muito complicado para nós e muito mais para eles. Eles têm tido muitos azares. Eu costumo dizer que Deus é grande e disse-lhes que lutai sempre que Deus vos vai ajudar. E as coisas têm acontecido, umas más, umas boas e hoje e ontem aconteceram coisas muito boas."

Fernando Oliveira recordou que os filhos sempre gostaram de ciclismo. "Nós só acompanhámos. Gastámos muito, tivemos muita despesa... Esta modalidade não é nada barata! Mas investimos e valeu a pena." O pai dos gémeos acrescentou que desde cedo percebeu que todo o esforço para dar as melhores condições aos filhos não seria em vão: "Quando eles começaram a andar de bicicleta vi que tinham grande talento. Sempre tive confiança neles e por isso é que eu e a mãe investimos."

A mudança para a Hagens Berman Axeon, de Axel Merckx, tem tido um papel preponderante na evolução destes dois ciclistas. "Sem dúvida nenhuma. O maior veículo disto tudo foi a pista, foi o que os lançou. A Hagens Berman Axeon estava atenta e viu que eles tinham talento e podiam ir mais além e foi uma evolução tremenda. Eles têm dado saltos lentos, mas de grande evolução", disse. E Fernando Oliveira não tem dúvidas que a margem de progressão ainda é grande.

Enquanto o pai falava sobre as conquistas dos filhos, Rui ia celebrando com o irmão, mas também com o companheiro de equipa João Almeida, que repetiu o segundo lugar na prova do fundo, depois de o ter feito no contra-relógio. Rui não conseguiu esconder as lágrimas, num momento em que a emoção tomou conta deste jovem talentoso ciclista. "Este ano já fiz 15 top 10 e nunca ganhei nada. Foi mais o querer do que a força", afirmou. "Ataquei a 30 quilómetros da meta. Vinha muito cansado. Não sei como tive força para aguentar até ao fim. Tive quase a desfalecer a cinco quilómetros da meta. Já não conseguia ver nada a frente", acrescentou.

O grupo da frente, ainda com Rui Oliveira, na difícil subida
no último 1,5 quilómetro do circuito de Belmonte
A corrida foi muito movimentada desde o início. Rui entrou na fuga inicial, na qual mais tarde se juntaram os companheiros de equipa Ivo Oliveira e João Almeida. O agora campeão nacional de sub-23 salientou o quanto foi importante o trabalho dos dois, quando no grupo estava também Pedro Miguel Lopes e André Carvalho, da Liberty Seguros-Carglass, por exemplo. Com receio de não ter força para sprintar, caso ficasse no grupo até final, Rui atacou e foi uma exibição que não esquecerá. André Carvalho acabaria por ficar com a medalha de terceiro classificado.

"É o nosso último ano de sub-23 e nunca tínhamos feito grandes resultados nos nacionais. Trabalhámos bem para este sucesso. Viemos reconhecer os percursos várias vezes, tendo a sorte de o nosso irmão mais velho, ex-ciclista, nos ajudar, porque sabe ler bem corridas", concluiu Rui Oliveira sobre o seu título e o de Ivo.

Os nacionais encerram este domingo com a corrida de elite (11:30), 181,8 quilómetros, os primeiros 76 pelo concelho e depois será um percurso a passar pelo centro da vila, com o campeão a ser conhecido na quinta passagem pela meta. Há um ano Ruben Guerreiro  (Trek-Segafredo) sagrou-se campeão em Gondomar. Dos ciclistas que competem no estrangeiro, Ricardo Vilela é uma baixa de última hora. O corredor da Manzana Postobón sofreu uma queda este sábado, na derradeira etapa da prova francesa Le Tour de Savoie Mont Blanc. Nelson Oliveira (Movistar) e Rui Costa (UAE Team Emirates), dois ciclistas que já foram campeões nacionais, também não estarão presentes em Belmonte.

Pode ver as classificações completas dos sub-23 por baixo da imagem.


Resultados sub-23 (160,4 quilómetros, a uma média de 38,409 quilómetros/hora):
1º Rui Oliveira (Hagens Berman Axeon), 4:10:34 horas
2º João Almeida (Hagens Berman Axeon), a 59 segundos
3º André Carvalho (Liberty Seguros-Carglass), a 1:35 minutos
4º Hugo Nunes (Miranda-Mortágua), a 3:21
5º Tiago Antunes (Aldro Team), a 3:40
6º Jorge Magalhães (Miranda-Mortágua), a 3:50
7º Pedro Miguel Lopes (Liberty Seguro-Carglass), a 8:31
8º Ivo Pinheiro (ACDC Trofa-Trofense), a 8:34
9º Marcelo Salvador (Sicasal-Constantinos-Delta Cafés), a 8:39
10º Ivo Oliveira (Hagens Berman Axeon), a 10:29
11º Miguel Salgueiro (Sicasal-Constantinos-Delta Cafés), a 11:42
12º Francisco Campos (Miranda-Mortágua), a 11:44
13º Venceslau Fernandes (Liberty Seguros-Carglass), m.t.
14º Leonel Firmino (FGP-CUBE-Bombarral), a 11:47
15º Paulo Silva (Fortunna-Maia), m.t.
16º João Carneiro (Liberty Seguros-Carglass), a 11:49
17º André Evangelista (Aviludo-Louletano-Uli), a 11:52
18º Gonçalo Carvalho (Miranda-Mortágua), 11:56
19º Francisco Morais (Sicasal-Constantinos-Delta Cafés), a 12:15
20º Iúri Leitão (Sicasal-Constantinos-Delta Cafés), a 18:29
21º Marvin Scheulen (Sicasal-Constantinos-Delta Cafés), a 21:04
22º José Sousa (Miranda-Mortágua), m.t.

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