22 de maio de 2019

Jumbo-Visma dá uma motivação extra aos jovens gregários agora que chega a alta montanha

(Fotografia: Giro d'Italia)
Finalmente a alta montanha. Esta ano foi preciso esperar até metade da Volta a Itália para que surgissem as primeiras grandes subidas e esta escolha da organização fez com que crescesse bastante a ansiedade de ver os candidatos à geral iniciarem as hostilidades. Até agora preocuparam-se em sobreviver as etapas planas, não perder tempo nas que tiveram média montanha (uma queda estragou os planos na quarta tirada) e em defenderem-se como pudessem nos contra-relógios que comprovaram o esperado: Primoz Roglic é o homem na mira de todos.

Desde que Steven Kruijswijk andou vários dias de rosa em 2016 e só uma queda arruinou um Giro que estava tão bem encaminhado para o holandês, que a Jumbo-Visma não estava tão convencida que pode mesmo vencer novamente uma grande volta, dez anos depois de Denis Menchov ter conquistado precisamente a Volta a Itália, ao serviço da então Rabobank.

Roglic não está de rosa - cedeu a liderança na sexta etapa -, mas, por mais respeito que Valerio Conti mereça, o ciclista da UAE Team Emirates sabe que 1:50 minutos de vantagem não lhe permite ambicionar mais do que tentar prolongar mais um dia ou dois o primeiro lugar. O objectivo do italiano é vestir de rosa até domingo, mas será difícil. Roglic é o primeiro entre os principais candidatos e só Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida) conseguiu resistir a dois contra-relógios avassaladores do esloveno, estando a 1:44 do rival, com Bauke Mollema (Trek-Segafredo) a sonhar alto ao estar a 1:55. Todos os restantes estão a mais de dois minutos, sendo a grande surpresa os 3:46 que Simon Yates (Mitchelton-Scott) tem de recuperar. 

A partir desta quinta-feira vamos perceber se o britânico teve um dia mau no segundo contra-relógio, ou se se passa algo que o vai afastar da luta pelo Giro. E também vamos perceber do que é feita esta Jumbo-Visma. Têm sido anos a preparar líderes fortes, mas também homens de trabalho de qualidade. Muitos até são jovens, mas de enorme talento. Porém, vão enfrentar uma tremenda responsabilidade. Os responsáveis da Jumbo-Visma resolveram dar uma motivação extra. Três dos ciclistas que muito vão ter de trabalhar nas próximas etapas receberam no domingo um novo contrato por mais duas temporadas.

Os holandeses Antwan Tolhoek (25 anos) e Koen Bouwman (25) e o americano Sepp Kuss (24) estão a tornar-se membros de uma espinha dorsal cada vez mais forte de uma Jumbo-Visma que renasceu das cinzas quando a Rabobank deixou de patrocinar a equipa, para estar a tornar-se novamente numa referência. A equipa soma muitas e boas vitórias, mas quer conquistar este Giro para consolidar definitivamente o projecto. Tolhoek e Bouwman têm estado a evoluir dentro da estrutura, enquanto Kuss chegou em 2018 e já se vai vendo que poderá ser muito mais do que um gregário.

Contudo, é nessa função que terá de se concentrar num Giro que depois de dias e dias algo aborrecido, vai finalmente (nunca é de mais dizer "finalmente") entrar numa fase muito mais interessante. É que sem grande espectáculo entre os candidatos - com a excepção de Richard Carapaz (Movistar) que venceu a quarta etapa marcada por uma queda em que praticamente todos perderam tempo, com Roglic a ficar na frente e Tom Dumoulin a abandonar - só os dois contra-relógios fizeram diferenças. E tiveram o condão de garantir que é preciso atacar.

A perda de tempo foi tal para muitos que não vai ser possível esperar. Mikel Landa (Movistar) foi dos primeiros a prometer que não vai estar quieto, o que é normal, já que soma quedas e maus contra-relógios. Está a ser um Giro para esquecer e Landa não está nada preocupado com Carapaz até estar melhor colocado. Luta interna e luta contra os rivais. Vai ser interessante ver se esta Movistar vai funcionar assim, quando tem sempre falhado quando permite lideranças partilhadas.

Miguel Ángel López (Astana) é mais um que tem muito a recuperar, o que deixa em aberto até que ponto poderão verificar-se pequenas alianças, pelo menos nos ataques e contra-ataques para testar Roglic e para ver até onde consegue resistir uma Jumbo-Visma que perdeu Laurens de Plus por doença (abandonou na sétima etapa) e também Robert Gesink que nem chegou a ir a Itália, pois partiu a clavícula na Liège-Bastogne-Liège. Duas baixas importantíssimas, mas que não parecem abalar a confiança de Roglic e companheiros. Além dos três jovens referidos, o esloveno terá a seu lado os experientes Tom Leezer (33) e Jos van Emden (34), ambos holandeses, e o alemão Paul Martens (35)

Diferenças entre os principais favoritos:

2. Primoz Roglic (Jumbo-Visma)
11. Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida), a 1:44 
12. Bauke Mollema (Trek-Segafredo), a 1:55
14. Bob Jungels (Deceuninck-QuickStep), a 2:18
18. Rafal Majka (Bora-Hansgrohe), a 2:53
20. Richard Carapaz (Movistar), a 3:16
22. Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin), a 3:32
24. Simon Yates (Mitchelton-Scott), a 3:46
26. Pavel Sivakov (Ineos), a 4:11
27. Miguel Ángel López (Astana), a 4:29
30. Mikel Landa (Movistar), a 4:52


12ª etapa: Cuneo - Pinerolo, 158 quilómetros



Uma primeira categoria para começar a aquecer a fase da alta montanha. Algum sobe e desce até aos 117 quilómetros e depois começa a doer. São menos de 10 quilómetros, nos quais seis são sempre a 10% ou mais de pendente. O máximo será 14%. Depois da descida, ainda haverá mais umas pequenas rampas, uma delas de 450 metros que chegará aos 20%! Que venham os ataques!

Esta quinta-feira será mesmo o aquecimento. Sexta haverá chegada em alto, numa primeira categoria, que será antecedida de outra e de uma segunda. No sábado haverá duas primeiras, duas segundas e uma terceira para terminar. Domingo será mais calmo, por assim dizer, com duas segundas categorias e uma terceira. Outro pormenor a ter em conta é que as previsões meteorológicas não são as melhores.

E o pior ainda estará para vir na última semana, esperando-se que a neve derreta e permita a passagem pelo ponto mais alto do Giro, em Gavia, logo na terça-feira, a seguir ao dia de descanso. Pode ver neste link para página do blog sobre a Volta a Itália os perfis das etapas que faltam.

Caleb Ewan venceu pela segunda vez e Démare vestiu a ciclamino


(Fotografia: Giro d'Italia)
O pequeno australiano da Lotto Soudal foi novamente o mais forte, conquistando a sua segunda vitória no Giro no sprint de Novi Ligure. Foram 221 quilómetros que ficaram marcados por Arnaud Démare tirar a maglia ciclamino a Pascal Ackermann (Bora-Hansgrohe) logo nos sprints intermédios. De resto, foi esperar pela disputa final.

Elia Viviani (Deceuninck-QuickStep) foi quarto e para ele a Volta a Itália chega ao fim sem vitórias. Não estando na luta pela classificação dos pontos, o italiano vai começar a pensar no Tour, admitindo que o que está mal com ele não são as pernas, mas a cabeça. Há que recuperar confiança. Viviani não deverá ser o único entre os ciclistas com estas características a não estar amanhã à partida da 12ª etapa.

Démare ficou com 11 pontos de vantagem sobre Ackermann e Ewan está a 35, mas é possível que o australiano seja um dos sprinters a ir para casa mais cedo.

Classificações completas, via ProCyclingStats.




»»Démare arrisca ser o único dos principais sprinters a resistir até ao fim««

»»As contas do contra-relógio que obrigam os rivais de Roglic a atacar««

Sem comentários:

Enviar um comentário