Nuno Bico quer reencontrar-se. Deu o salto de sub-23 para a Movistar, mas, dois anos depois, desceu de escalão para uma Burgos-BH que está a ajudá-lo a recuperar a confiança e a alegria de competir. Diz que não consegue encontrar explicações para o que aconteceu, principalmente em 2018. Contudo, considera que foi mais uma lição, algo que tem de saber como lidar para tentar regressar novamente ao mais alto nível, que continua a ser a sua ambição. E Nuno Bico não hesita em admitir o quanto está feliz na Burgos-BH, sonhando com uma presença na Volta a Espanha e apontando também aos Nacionais.
Conquistou o título em sub-23, em 2015, e esteve depois na Klein Constantia, equipa de desenvolvimento da Deceuninck-QuickStep, entretanto extinta. Quando parecia que todas as portas se estavam a fechar, já bem no final de 2016 surgiu a confirmação que Nuno Bico era reforço da Movistar. Um salto para o World Tour e logo para uma das equipas mais fortes e históricas do pelotão. "Eu estava adaptado ao grupo e apto a fazer qualquer tarefa que me pedissem. Correu bem a experiência, mas na Movistar eu não estava contente comigo mesmo", admitiu ao Volta ao Ciclismo.
Não é fácil encontrar explicações para o que falhou, mas Nuno Bico fala de uma segunda temporada na equipa complicada: "Senti alguma falta de motivação no ano passado. Foi da minha cabeça... Alguma perda de vontade de treinar, falta de resultados, achava que uma mudança de ares resolveria o assunto." E acrescentou: "A cabeça é um sistema muito complexo... Ainda hoje gostaria de encontrar uma justificação fácil e rápida para isso, mas são etapas da vida. Coisas que acontecem."
"Depois de ter estado numa equipa que ganha as melhores corridas do mundo e de ver como funciona, acho que a forma correcta de funcionar é poder transmitir o que já aprendi"
Responsabilidade a mais? "Talvez, mas não sou contra isso porque é uma boa maneira de crescer rápido e bem. Mas sim, pode ter sido", respondeu. Certo é que a passagem pela Movistar ajudou e muito Nuno Bico a crescer como atleta, pois aos 24 anos acaba por ter uma missão mais importante na Burgos-BH. É uma equipa com muitos jovens e apesar do português também o ser, tem uma experiência que agora tem tentando transmitir, como por exemplo, na leitura de corrida. "Continuo a ser dos mais novos, mas depois de ter estado numa equipa que ganha as melhores corridas do mundo e de ver como funciona, acho que a forma correcta de funcionar é poder transmitir o que já aprendi", disse.
Durante a conversa, fica bem patente como Nuno Bico se sente bem na Burgos-BH e como está a recuperar as melhores sensações: "Está tudo a correr muito bem. Comecei bem, depois estive doente e tive de parar duas semanas e começar o novo. Custa sempre, mas agora está tudo bem encaminhado. E sim, está tudo bem com a cabeça!"
Apesar de poder ser visto que deu um passo atrás, Nuno Bico já só pensa como pode dar dois à frente. "Certamente que tem de ser esse o objectivo. Acho que no desporto e na vida em geral, a ambição tem de ser de sonhar mais alto", realçou. No entanto, um passo de cada vez. Agora está a recuperar forma e após a Volta à Comunidade de Madrid seguiu-se um estágio em altitude, em Andorra. A nível competitivo, olha para os Nacionais com vontade lutar por uma vitória, ou pelo menos um pódio, ainda que desconheça o percurso de Melgaço. "E claro, gostaria de fazer parte da Vuelta e quem sabe conseguir uma vitória noutra corrida. Isso seria perfeito!"
A Burgos-BH recebeu novamente um convite para a Volta a Espanha, neste seu segundo ano como Profissional Continental. Porém, não foi algo que estivesse garantido depois de um início de temporada marcado por uma auto-suspensão devido aos três casos de doping na equipa. Os responsáveis anteciparam-se à UCI, que acabaria por sancionar a Burgos-BH com 21 dias, falhando o arranque de temporada. Em alternativa, foi organizado uma espécie de retiro para os membros da estrutura. Além dos treinos, todos tiveram assistir a seminários que Nuno Bico explicou que tiveram o sentido pedagógico em redor da ética, código moral e comportamentos.
"Houve uma mudança. É uma Burgos-BH quase completamente nova. Foi uma fase difícil, mas ultrapassámos e estamos num bom caminho"
"Não foi novo para mim ter ouvido aquilo", referiu, explicando como em equipas anteriores já tinha passado pelo mesmo. Contudo, salientou a importância desse retiro para que todos, principalmente os mais novos da Burgos-BH, pois assim tiveram desde cedo contacto com esse tipo de conceitos essenciais.
No entanto, ainda o ciclista de Viseu não tinha começado a treinar com a equipa quando os problemas começaram. Foi um pequeno susto, mas quando chegou à Burgos-BH a realidade era já outra. "Houve uma mudança. É uma Burgos-BH quase completamente nova. Foi uma fase difícil, mas ultrapassámos e estamos num bom caminho."
No entanto, ainda o ciclista de Viseu não tinha começado a treinar com a equipa quando os problemas começaram. Foi um pequeno susto, mas quando chegou à Burgos-BH a realidade era já outra. "Houve uma mudança. É uma Burgos-BH quase completamente nova. Foi uma fase difícil, mas ultrapassámos e estamos num bom caminho."
A Volta a Espanha chegou a estar em risco, mas o convite acabou por se confirmar, o que faz com que três portugueses possam lá estar, pois além de Bico, também José Neves e o muito experiente Ricardo Vilela têm essa possibilidade. Os três portugueses ainda só se cruzaram no estágio inicial.
Os primeiros meses da Burgos-BH após a suspensão não foram fáceis, mas a equipa está a recompor-se, segundo Nuno Bico. "Falta uma vitória", afirmou, numa altura em que os ciclistas da formação espanhola vão aparecendo na frente das corridas. Ainda este fim-de-semana Jesús Ezquerra esteve a 50 quilómetros de conquistar a Volta a Aragão, mas caiu e foi obrigado a abandonar, com uma clavícula partida.
Para Nuno Bico segue-se a Volta à Bélgica e o ZLM Tour antes dos Nacionais, no final de Junho. Para o futuro além de 2019, ficou a garantia que a motivação de chegar alto mantém-se intacta e que voltar a Portugal não está, nem esteve em equação quando as coisas não estavam a correr bem na Movistar. Nuno Bico quer continuar no estrangeiro. Um regresso, talvez numa fase mais tardia da carreira. "Ainda sou demasiado jovem. Há muitas corridas por descobrir. A ambição tem de ser alta, nunca ponderei isso!"
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