15 de maio de 2019

Sunweb sem Dumoulin e sem soluções

(Fotografia: Giro d'Italia)
Quando em 2017 José Mendes participou na Volta a Itália, um dos pormenores do relato da experiência que ficou na memória, foi a sua menção à meteorologia, que fez o ciclista pensar no que poderia ter de enfrentar. "Colegas que fizeram o Giro falam horrores daquilo", salientou então. Aquele ano acabou por ser algo atípico, pois o bom tempo acompanhou o pelotão o durante as três semanas e José Mendes falou mesmo em "tempo de Verão". Sorte para os que fizeram aquele Giro, ganho por Tom Dumoulin. Esta quarta-feira foi um daqueles dias de Inverno em pleno Maio, com chuva e frio a tornarem os apenas 140 quilómetros da quinta etapa em metros penosos. Ainda assim, nada que se comparasse com a dor que assolou Dumoulin. Não tanto naquele joelho que não o deixou continuar em prova, mas principalmente na alma de um ciclista que se viu derrotado por uma queda.

Foi no meio do temporal que Dumoulin entrou desolado no carro da equipa. O holandês não queria ir para casa e foi por isso que ainda tentou arrancar para a quinta etapa. "Teria sempre perguntado a mim mesmo, agora perguntei e sei a resposta", desabafou, explicando que queria ter a certeza que não aguentava continuar em prova e não ir para casa e achar daqui a dois dias, se o joelho melhorasse, que talvez devesse ter ficado em Itália. A queda na quarta tirada deixou o ciclista com uma ferida no joelho, que entretanto inchou. Fez um raio-X que revelou não ter uma fractura, mas com o Giro102 a já fazer parte do passado, é altura de olhar para o futuro. Dumoulin vai realizar mais exames para ter a certeza da extensão do problema e começar a pensar na Volta a França, que sempre foi o outro objectivo da época.

Dumoulin queria mesmo ficar. Disse que tinha boas pernas, ainda que no contra-relógio inicial não tenha estado ao nível esperado. Porém, tinha tempo para ir melhorando. De manhã fez uns exercícios para testar o joelho e resolveu começar a etapa. 1500 metros depois do arranque (mais os quilómetros neutralizados até ao início oficial) Dumoulin foi ao carro e assumiu que nada havia a fazer. "Vim aqui para uma aventura de três semanas e queria acabá-la. Não queria ir para casa", disse.

Mas foi e a Sunweb está sem soluções para uma grande volta que ambicionava alto. Ficou de tal forma centrada num só homem que acabou por sacrificar todos os restantes ciclistas quando Dumoulin caiu. O holandês estava a 28 segundos de Primoz Roglic (Jumbo-Visma) antes da queda. Robert Power era o corredor seguinte da Sunweb, a 1:13 minutos, com mais dois abaixo dos dois minutos: Jan Bakelants, a 1:41 e Sam Oomen a 1:47. Depois da escolta de honra feita a um ferido Dumoulin, todos os gregários ficaram a mais de cinco minutos.

Fica por perceber como foi possível sacrificar todos, não deixando pelo menos uma opção. A decisão é ainda mais difícil de entender quando um Sam Oomen já demonstrou que pode ser mais do que um homem de trabalho. Aos 23 anos é uma das principais esperanças do ciclismo da Holanda e em 2018 foi essencial no Giro, ajudando Dumoulin na luta por nova vitória. O líder ficou de tal forma agradecido que, mesmo que o seu resultado fosse um segundo lugar, retribuiu a lealdade de Oomen com uma ajuda para que o colega ficasse no top dez. Oomen foi nono.

Louis Vervaeke foi hoje para a frente, numa fuga condenada ao insucesso. Mas a Sunweb tem de fazer algo. Ganhar etapas é o objectivo mais óbvio, pois um top dez será difícil e a escolha de deixar Oomen ao lado de Dumoulin, claudicou também a possibilidade de lutar pela juventude.

No entanto, isto é o Giro. Se há grande corrida de três semanas com reviravoltas é esta, pelo que desistir só quando tem mesmo de ser, como demonstrou Dumoulin.

Ackermann, o senhor do sprint


(Fotografia: © Bora-Hansgrohe/Bettiniphoto)
Sam Bennett? Segunda vitória de Pascal Ackermann e o alemão já justificou a chamada da Bora-Hansgrohe em detrimento de um dos ciclistas mais ganhadores em 2019 e que foi uma das figuras do sprint no Giro há um ano. Aquela disputa entre Ackermann e Fernando Gaviria (UAE Team Emirates) pode muito bem ter sido a primeira de muitas. E que sprint se assistiu!

Estamos perante dois jovens sprinters. Gaviria só tem 24 anos apesar do currículo que já apresenta, enquanto Ackermann tem 25 e está a construir também um bem interessante. E é a sua estreia numa grande volta. O que se passou em Terracina foi pura classe. Gaviria parecia estar a sprintar para mais uma daquelas vitórias em que deixa a concorrência a vê-lo pelas costas e até um pouco ao longe. Mas não. Ackermann é um rival à altura do colombiano.

Quando ambos arrancaram só um ciclista da Groupama-FDJ ia estragando o espectáculo. Estava a lançar Arnaud Démare, que nem estava na sua roda, quando acabou o trabalho e foi para o meio da estrada. Gaviria foi obrigado a desviar-se. Na sua roda ia Ackermann que teve de travar e recomeçar o sprint. O próprio salientou como teve de fazer dois sprints e mesmo assim bateu Gaviria. Nas declarações finais até disse que não podia pedir um melhor lançador, referindo-se como ao ir na roda do colombiano conseguiu fazer um excelente sprint.

Ackermann esclareceu ainda dúvidas se pretenderia ficar até ao fim no Giro que não tem uma última etapa para os sprinters para aliciar passar as duras montanhas que haverá pela frente. É o líder das classificação dos pontos e garantiu que quer ficar com a maglia ciclamino. Soma 121 pontos, Gaviria 93, Démare 86 e Caleb Ewan (Lotto Soudal) 66. Elia Viviani é o grande ausente da lista. O ciclista da Deceuninck-QuickStep sofreu tanto com as condições meteorológicas, que quando chegou a altura de sprintar, nem conseguiu levantar-se da bicicleta. Continua sem vitórias (foi desclassificado na terceira etapa) e ficar com a ciclamino como em 2018, será uma missão muito difícil.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

6ª etapa: Cassino - San Giovanni Rotondo, 238 quilómetros



Depois de uma etapa mais curta, mas quase tão complicada como as longas tiradas anteriores devido ao mau tempo, eis que o pelotão tem mais um dia extenso pela frente. A maioria dos quilómetros não terão dificuldades de maior, apesar de algum sobe e desce. Porém, a cerca de 30 quilómetros do fim surge a subida de Coppa Casarinelle. Serão 15 quilómetros com pendentes a rondar os 5%. Até à meta haverá uma outra ascensão, curta e não categorizada.

Primoz Roglic continua de rosa, mas sabe que não pode distrair-se em etapas como esta, para garantir que mantém a vantagem já conquistada, pelo menos até ao contra-relógio de domingo, quando até poderá aumentá-la. Agora até perdeu o maior rival com as características mais parecidas com as suas, mas o Giro está apenas a começar.




»»Dumoulin, Roglic, Carapaz e um Landa a ter de pedir desculpa««

»»Dia para limpar a imagem e com a acção a ficar guardada para o fim««

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