(Fotografia: Giro d'Italia) |
Recuando a 2015, Alberto Contador venceu o Giro com uma ajuda muito reduzida da então Tinkov. Na alta montanha esteve mesmo praticamente sempre sozinho. Porém, por mais qualidade que Roglic tenha, não é nenhum Contador e os ataques que sofreu hoje foram apenas uma amostra do que lhe espera para a última semana. Até agora, "marcar" Vincenzo Nibali parecia ser uma táctica rentável. Mas o imprevisto aconteceu e a atitude calma do esloveno chegou ao fim. A queda a descer foi a prova disso mesmo. Instalou-se alguma ansiedade e o erro aconteceu. A precisar de recuperar terreno, ainda mais numa bicicleta que não era a dele, o esloveno fez mal uma uma curva e acabou pendurado no rail de protecção. Isto tudo devido ao mau timing do seu director desportivo que teve de responder ao chamamento da natureza na altura em que Roglic sofreu o problema mecânico na sua bicicleta, não podendo trocar pela sua suplente...
Apesar de tudo, não foi muito grave fisicamente, mas animicamente terá custado perder 40 segundos para Carapaz, o mesmo tempo que Nibali tirou da sua desvantagem. 47 segundos ainda são recuperáveis no contra-relógio para Roglic e 1:47 minutos de vantagem sobre o italiano da Bahrain-Merida também podem dar um pequeno conforto. Mas este Giro ainda tem muita história para escrever. Roglic pode continuar a ser o mais favorito, mas, no final da segunda semana, já o é um pouco menos. Já Richard Carapaz subiu exponencialmente na lista de favoritismo. O equatoriano está forte e a Movistar já demonstrou que está unida em torno do camisola rosa, ainda que Mikel Landa se mantenha como um joker.
Apesar de tudo, não foi muito grave fisicamente, mas animicamente terá custado perder 40 segundos para Carapaz, o mesmo tempo que Nibali tirou da sua desvantagem. 47 segundos ainda são recuperáveis no contra-relógio para Roglic e 1:47 minutos de vantagem sobre o italiano da Bahrain-Merida também podem dar um pequeno conforto. Mas este Giro ainda tem muita história para escrever. Roglic pode continuar a ser o mais favorito, mas, no final da segunda semana, já o é um pouco menos. Já Richard Carapaz subiu exponencialmente na lista de favoritismo. O equatoriano está forte e a Movistar já demonstrou que está unida em torno do camisola rosa, ainda que Mikel Landa se mantenha como um joker.
As tácticas
Tem sido uma Volta a Itália bem interessante desde que na quinta-feira se entrou na alta montanha. Nem por isso significa que não se esteja perante um forte jogo táctico, mas no Giro uma coisa não está a anular a outra. E ainda bem.
Antes de mais, a classificação.
(Imagem: Twitter Giro d'Italia) |
➤ Esta segunda-feira é dia de descanso e haverá tempo para preparar os dias decisivos. Para Roglic a saída da Gavia do percurso é uma boa notícia. Menos uma defesa a ter de fazer no terreno muito complicado, ainda que não possa fazer uma grande festa. O esloveno está sozinho, sem alianças e também com pouca equipa. Terá de escolher muito bem as suas batalhas e esperar que não tenha mais azares. Mesmo com Carapaz de rosa, é Roglic o principal alvo dos rivais. Por agora.
Roglic é um bom trepador, mas a maioria dos adversários são melhores. O esloveno anda a jogar à defesa, apostando no contra-relógio, mas se for atacado por todos, poderá chegar a altura em que também ele terá de ser um pouco mais audaz, principalmente se Carapaz ganhar mais vantagem. Será interessante ver o que Roglic é capaz se chegar a esse ponto.
➤ O equatoriano conseguiu uma aliança com Vincenzo Nibali neste domingo, mas será difícil manter esta "amizade". Já se percebeu que Carapaz é um candidato forte e também ele verá a sua camisola rosa ser atacada. Parte do sucesso do jovem ciclista poderá passar pelo papel de Mikel Landa. O espanhol poderá atacar em alguma etapa, tentando desgastar rivais, pois Landa não pode ter mais espaço, pois ameaça o objectivo de pódio de Rafal Majka ou Bauke Mollema, por exemplo. Carapaz também parece contar com uma Movistar com ciclistas em forma para controlar e acompanhá-lo grande parte das etapas. O único senão de Carapaz é se Landa for à procura do sucesso próprio.
➤ Foi uma boa etapa de Nibali num percurso final que tão em conhece, já que foi idêntico ao do monumento da Lombardia. Mas é preciso mais e já se percebeu que afinal não quer nada abdicar de vencer o Giro só para não deixar Roglic ganhar, como insinuou. A experiência pode mesmo ser uma mais valia, ainda mais quanto o italiano está bem fisicamente e vai contando com a ajuda de Damiano Caruso e Domenico Pozzovivo. Ao contrário de Yates que gosta de atacar quando se sente bem, Nibali é mais calculista nos seus ataques e vai procurar o momento certo para tirar a rosa a Carapaz e tentar deixar Roglic a uma distância mais segura para o contra-relógio.
➤ A Simon Yates resta atacar, atacar, atacar. Está a melhorar e porque não pensar tentar um golpe ao estilo de Chris Froome em 2018, quando o homem da então Sky tirou a rosa a um Yates que se afundou na classificação. O líder da Mitchelton-Scott está mais confiante e para quem foi ao Giro para ganhar, o top dez sabe a pouco. Vai tentar o tudo por tudo. No mínimo procurará uma etapa se algo mais se tornar completamente impossível.
➤ Na mesma situação está Miguel Ángel López. O colombiano não quer desistir e talvez uma aliança com Yates fosse benéfica para ambos, na perspectiva de recuperar tempo. Se lutarem por uma etapa, a aliança será difícil. López também ficaria numa posição mais forte se a Astana se mostrasse mais unida. A equipa joga tacticamente, mas López tem acabado muito só. Ainda assim, Dario Cataldo garantiu a segunda vitória de etapa, depois de Pello Bilbao. Se López não for além do top dez, o Giro está salvo para a formação cazaque. López ainda poderá tentar a consolação de ser novamente o melhor na juventude. Contudo, já percebeu que Pavel Sivakov quer ser a sua sombra. São apenas sete os segundos que os separam, com vantagem para o russo da Ineos.
➤ Dos homens que vão começar a terceira semana no top dez, Jan Polanc (UAE Team Emirates) tem o objectivo de aguentar o quanto puder, com Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) ainda à espreita. No entanto, Rafal Majka (Bora-Hansgrohe) e Bauke Mollema (Trek-Segafredo) querem pelo menos o pódio. O holandês já se mostrou no Giro e até pagou logo de seguida o preço por ter andando em fuga numa etapa. Mas continua a resistir. Majka mostra-se um pouco, mas depois volta a esconder-se. Chega de estudar os restantes e de responder a ataques. Está na altura do polaco começar a ser figura se quer mais do que o top dez. Ou seja, há que atacar.
Classificação completa, via ProCyclingStats.
Perder a Gavia é uma desilusão
Se Roglic não terá ficado triste com a saída da Gavia do percurso, López, Yates, Carapaz e o próprio Nibali prefeririam ter a difícil subida, para assim tentar recuperar ou ganhar tempo, principalmente ao esloveno. Os adeptos de ciclismo também certamente que prefeririam o plano original da Gavia e Mortirolo no mesmo dia, numa etapa com 226 quilómetros. Porém, a meteorologia pregou daquelas partidas tão típicas no Giro e se a neve ameaçava a presença da Gavia desde a primeira semana da corrida, o perigo de avalanches, as previsões de o tempo poder piorar e o risco de gelo na estrada durante a descida fizeram Mauro Vegni, director do Giro, anular a passagem naquela que seria a Cima Coppi do Giro, aos 2618 metros de altitude.
Portanto em vez disto...
... teremos isto na terça-feira.
Serão 194 quilómetros com a partida e chegada a manterem-se inalteradas: Lovere - Ponte di Legno. Ainda se falou da possibilidade do Mortirolo ser atacado duas vezes, por diferentes vertentes, mas Vegni explicou que a etapa ficaria excessivamente longa. A solução passa pelo Cevo - uma estreia na Volta a Itália - e Aprica, duas terceiras categorias, mas difíceis, antes de subir o Mortirolo.
A Cima Coppi passará para a 20ª etapa, a penúltima. Serão 2047 metros no Passo Manghen, que será a etapa mais complicada da semana, no papel, ainda que há que ter em conta que na terça-feira, na 16ª etapa haverão subidas não categorizadas e que ajudam a que o acumulado seja de quase de 5000 metros.
Longe vão os tempos em que Andy Hampsten teve de ultrapassar a Gavia debaixo de uma tempestade de neve para conseguir vencer a Volta a Itália em 1988. As regras são hoje bem diferentes e tal é impensável. Segurança primeiro, mas que a Gavia fará falta para o espectáculo e para abrir ainda mais as contas do Giro, lá isso fará.
»»Movistar e a pergunta do costume: afinal quem é o líder?««
»»O espectáculo chegou ao Giro e Nibali já se irritou com Roglic««
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