18 de maio de 2019

Um contra-relógio para mexer com o Giro

(Fotografia: Giro d'Italia)
Está aí o segundo de três contra-relógios individuais e espera-se que traga alguma emoção a uma luta pela maglia rosa muito fria até ao momento. Depois de um dia de algum nervosismo - todos passaram incólumes os sete quilómetros finais técnicos, em descida - é altura dos ciclistas se concentrarem na etapa que acabou por estar na mente dos principais candidatos basicamente desde o primeiro contra-relógio... no primeiro dia do Giro. Tirando essa etapa e a quarta, marcada por uma queda, não se fizeram diferenças, pois pouparam-se forças para os 34,8 quilómetros de domingo. E estes podem ser bem mais decisivos do que a etapa inaugural.

A grande preocupação com Primoz Roglic por parte dos seus rivais é precisamente como o esloveno poderá colocar-se numa posição mais confortável. É que mesmo sendo um contra-relógio com uma subida nos últimos 12 quilómetros (mas 10 antes o terreno já começa a inclinar), o ciclista da Jumbo-Visma dá-se bem com qualquer tipo de terreno.

Mas antes do foco ir para os candidatos é justo que se envolva Valerio Conti (UAE Team Emirates) nas contas. É o camisola rosa e tem tudo para assim continuar não só até ao dia de descanso, mas provavelmente até pelo menos quinta-feira, quando chegar a alta montanha. Conti não é um especialista no contra-relógio, mas quem está mais próximo também não. José Joaquín Rojas (Movistar) e Giovanni Carbonni (Bardiani-CSF) têm menos de dois minutos de desvantagem, mas em condições normais não assustarão Conti. Nans Peters (AG2R, a 2:09) até pode ser quem mais se equipara, mas a vantagem de Conti é boa para o francês.

O que faz com que se volte a Roglic. Tem 5:24 para recuperar e por mais que seja muito (mas mesmo muito) melhor do que Conti no contra-relógio, sair de San Marino de novo com a camisola rosa parece improvável, em condições normais (há que ressalvar sempre um daqueles momentos inesperados que o Giro é pródigo em dar).

Roglic quererá aumentar a diferença para os rivais, mas também irá tentar reduzir ao máximo esta desvantagem para Conti. A perda da rosa foi propositada, mas esta diferença foi um pouco exagerada e há que garantir que após o contra-relógio não fica demasiado trabalho para fazer na montanha. Já terá de se preocupar com Simon Yates, Miguel Ángel López e Vincenzo Nibali, por exemplo, e há que começar a tirar ideias a Conti de se tornar num daqueles ciclistas que se acha que vai perder a rosa, mas que depois a vai segurando.

Vem à memória um Thomas Voeckler no Tour de 2011 que todos os dias se dizia que deveria perder a liderança e só na décima tentativa é que lhe tiraram a camisola amarela.

E sendo um Giro uma corrida muito mais propícia a surpresas do que o Tour, Roglic quer evitá-las. Fala-se de Roglic por ser o melhor classificado entre os favoritos, pois o que pensa o esloveno, pensarão os restantes pretendentes à rosa. Um dos grandes pontos de interesse será o que irá fazer Simon Yates (Mitchelton-Scott). O contra-relógio já não é uma dor de cabeça para o britânico e se não se espera que bata Roglic, mas é bem possível que não fique assim tão longe.

A subida tem uma média de 6,5%, com máximas a rondar os 10%, algumas zonas de descanso, nada que assuste Yates. Aliás, até o motivará. O facto de não ser um contra-relógio plano faz com que o vencedor da Vuelta esteja desde o início muito confiante que este Giro pode ser seu.


E Miguel Ángel López? O colombiano tinha como objectivo perder mesmo de dois minutos no primeiro dia. Perdeu 28 segundos! Mas oito quilómetros são bem diferentes de 34,8. Mesmo com a subida, o líder da Astana sabe que terá explorar todas as suas características de trepador, como se de uma etapa de montanha se tratasse. Há que ir a fundo e garantir que não complica umas contas que estão bem simpáticas para ele, pois nem ele esperava estar a 44 segundos de Primoz Roglic, sempre a referência devido aos contra-relógios e na ausência de Tom Dumoulin, que abandonou na quinta etapa.

Em situação idêntica está Rafal Majka, ainda que entretanto tenha aparecido um Davide Formolo que quer disputar a liderança na equipa e é bem possível que a Bora-Hansgrohe não se importe de ter os dois ciclistas ao ataque em etapas e/ou na geral.

Numa luta particular estará Richard Carapaz e Mikel Landa, com Andrey Amador a poder intrometer-se já que é o melhor da Movistar nesta fase. O contra-relógio poderá ajudar a definir de vez que é o líder de uma equipa que não encontra uma união em torno de um só homem.

O futuro de Amaro Antunes

O contra-relógio será também importante para Amaro Antunes. Depois daquela reviravolta na classificação que levou Conti à liderança e o português ao sexto lugar, o ciclista do CCC poderá mudar um pouco os seus planos. Ganhar uma etapa era o objectivo, mas poderá ser tentador não deixar escapar uma possibilidade de ser top dez e logo na estreia numa grande volta.

O contra-relógio não é um ponto forte do algarvio, mas tem trabalhado muito desde que assinou pela formação em 2018. O resultado deste domingo poderá ser determinante para escolher se a luta por uma etapa é para manter, ou se começa uma defesa do top dez, o que irá limitar a possibilidade de ir para fugas. Mas claro que um objectivo não anula por completo o outro e também dependerá de como irá evoluir a forma de Amaro Antunes.

Aqui ficam as diferenças dos candidatos para Conti e inclui-se Sam Oomen, o ciclista da Sunweb que, não sendo forte no contra-relógio, vê-se de repente com liberdade para lutar por um bom resultado, devido ao abandono de Dumoulin e da tal etapa da reviravolta na classificação, que também beneficiou o jovem holandês.

1. Valerio Conti (UAE Team Emirates), 35:13.06 horas
6. Amaro Antunes (CCC), a 2:45 minutos
10. Sam Oomen (Sunweb), a 4:57
12. Primoz Roglic (UAE Team Emirates), a 5:24
15. Simon Yates (Mitcheton-Scott), a 5:59
16. Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida), a 6:03
17. Miguel Ángel López (Astana), a 6:08
18. Rafal Majka (Bora-Hansgrohe), a 6:13
20. Bauke Mollema (Trek-Segafredo), a 6:19
21. Bob Jungels (Deceuninck-QuickStep), 6:26
25. Richard Carapaz (Movistar), 6:45
26. Pavel Sivakov (Ineos), a 6:48
27. Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin), a 7:00
29. Mikel Landa (Movistar), a 7:13
32. Tao Geoghegan Hart (Ineos), a 7:43

Finalmente uma vitória de Caleb Ewan

(Fotografia: Giro d'Italia)
A etapa começou com um Tony Gallopin (AG2R) a questionar se os ciclistas eram "animais de circo", criticando o final de etapa que se poderia tornar ainda mais perigoso se a previsão de chuva se concretizasse. A decisão dos comissários foi de não neutralizar os últimos sete quilómetros e ainda bem. Foi uma descida de nervos, ainda que feita com relativa calma, até porque o piso não estava completamente seco. Mas houve sprint e houve um Caleb Ewan a finalizar o muito trabalho realizado por uma Lotto Soudal a precisar desta vitória.

Pascal Ackermann (Bora-Hansgrohe) arrancou cedo de mais e Elia Viviani (Deceuninck-QuickStep) já não deve perceber o que tem de fazer para ganhar, depois de já ter sido desclassificado numa etapa.

Foi a segunda vitória no Giro do pequeno sprinter (1,65 metros), que tem aquela forma ortodoxa de sprintar, deitado no guiador, mas que vai alcançando os seus sucessos. A primeira vitória havia sido em 2017, na então Orica-Scott. Esta foi quarta vitória do ano para Ewan, que "substituiu" André Greipel na equipa belga.

Sem comentários:

Enviar um comentário