24 de maio de 2019

O espectáculo chegou ao Giro e Nibali já se irritou com Roglic

(Fotografia: Giro d'Italia)
Foi preciso esperar meia Volta a Itália, mas o espectáculo dos últimos dois dias já começam a compensar uma primeira fase algo aborrecida, com excepção dos contra-relógios. O Giro está a aquecer, tanto na estrada como na guerra de palavras, o que só significa que as emoções começam a aquecer. A 13ª etapa foi tão espectacular como se previa e começou a colocar os candidatos nos seus lugares. Enquanto uns apresentam-se mais fortes do que se pensaria, outros acabaram derrotados e a precisar de um milagre ao estilo Chris Froome 2018 ou Vincenzo Nibali 2016.

E o italiano era um homem pouco satisfeito no final de um dia com duas primeiras categorias - a última a coincidir com a meta e foram 44 quilómetros de subida com poucos pontos de descanso - e uma segunda pelo meio. Nibali nem perdeu tempo para Primoz Roglic, o ciclista que se pode dizer que é o líder virtual já que Jan Polanc é o real, mas detém a camisola rosa a prazo. Porém, Nibali foi "vítima" de uma marcação cerrada de Roglic, com o esloveno a não se importar de ver a maior parte da concorrência atacar, só respondendo a Nibali.

"Disse-lhe: Se quiseres também vir e tirar uma fotografia da minha casa, eu mostrou-te a minha colecção de troféus quando quiseres", afirmou um Nibali, que terá insinuado que a Jumbo-Visma nunca lhe perdoou por ter atacado no dia em que Steven Kruijswijk caiu, acabando por perder o Giro, em 2016, ano de uma recuperação milagrosa de Nibali para vencer a sua segunda Volta a Itália. O ciclista da Bahrain-Merida considera que se Roglic continuar com esta atitude não vai ganhar o Giro e deixou bem claro que não vai "puxar" o rival: "Eu não ganho, mas ele também não." Haverá outro ciclista a agradecer se assim for...

Foram um casal bem unido na última subida do dia, mas fica claro que vai ser uma relação difícil e uma rivalidade que, após estas palavras, só ganhou ainda mais interesse. Na perspectiva de Roglic, estará tudo bem, pois continua apenas com Polanc na frente e já recuperou cerca de minuto e meio, estando a 2:25 da rosa. Já Nibali foi ultrapassado por Ilnur Zakarin e Bauke Mollema. Que grande etapa dos dois, com o russo a vencer, num triunfo que a Katusha-Alpecin estava desesperadamente a precisar.

Houve uma aproximação de vários ciclistas a Roglic, que não vai conseguir estar tão descansado nos próximos dias. O destaque para um Mikel Landa endiabrado pelo segundo dia consecutivo. Mas as etapas de alta montanha estão apenas a começar e começa também o teste para se perceber quem recupera melhor de dia para dia.

Com poucas razões para sorrir está Miguel Ángel Lopez. Simon Yates era um homem destroçado. Aqui ficam os pontos a destacar da 13ª etapa: Pinerolo - Ceresole Reale, 196 quilómetros.

Jan Polanc (UAE Team Emirates) sobreviveu. Soube agarrar-se a outros ciclistas para não perder a camisola rosa. Perdeu contacto com o grupo de favoritos na segunda categoria e com a ajuda de Bob Jungels (Deceuninck-QuickStep) recuperou posição. Enquanto o luxemburguês disse adeus ao top dez - ficou a 17:22 do líder -, Polanc aproveitou depois o trabalho da Mitchelton-Scott para Yates, da Astana para López, foi seguindo as rodas de ciclistas que lhe iam aparecendo pela frente, fazendo sozinho os últimos cinco quilómetros, minimizando assim as perdas. Foi muito sofrimento, mas que deixou Polanc ainda de rosa e com ambição de não querer ceder facilmente a liderança.

(Fotografia: Giro d'Italia)
➤ Ilnur Zakarin sofreu uma queda traumatizante no Giro de 2016, quando lutava pelo pódio. Foi numa descida. A 13ª etapa teve uma descida perigosa, mas o russo aguentou-se como pôde e, desta vez, não perdeu contacto. Na subida foi aquele Zakarin que infelizmente se tem visto tão pouco, mas ao perceber-se a forma do líder da Katusha-Alpecin, não foi surpresa vê-lo ganhar de forma autoritária. Desde o Tour de 2016 que não ganhava uma etapa numa grande volta, mas mais do que o triunfo, subiu ao terceiro lugar a 2:56 de Polanc, ou seja, a 31 segundos de Roglic. O discurso já é lutar pelo pódio e tentar vestir a camisola rosa, ainda que dê o favoritismo todo ao esloveno.

➤ A Trek-Segafredo mostrou-se afoita e até pareceu estranho ver um Bauke Mollema ao ataque tão cedo na etapa quando está na luta pela geral. Com um irresistível Giulio Ciccone - que recuperou a camisola azul da montanha - e Gianluca Brambilla a ajudar, Mollema encontra-se agora numa posição bem interessante. Não só por estar em quarto lugar, a 3:06, mas principalmente por revelar uma forma física que há muito não apresentava nesta fase adiantada de uma grande volta. Não está só a pensar em etapas como na última Vuelta. O holandês é mais um a olhar bem para cima.

➤ Se esta versão de Mikel Landa fosse a mais vista, então o espanhol já poderia ter um currículo bem diferente. Neste Giro já caiu, fez uns péssimos contra-relógios, mas em dois dias foram cerca de dois minutos recuperados para Roglic, mas ainda tem quase mais três a separá-los. Nada que desmoralize um Landa que já avisou que enquanto tiver pernas vai andar ao ataque. O problema é que tem de recuperar o tempo perdido e ganhar bastante, pois falta um contra-relógio... Destaque ainda para Richard Carapaz. Foi um excelente dia para a Movistar, táctica perfeita ao colocar Hector Carretero e Andrey Amador na frente, mas a rivalidade interna entre Landa e Richard Carapaz é real. O equatoriano claro que não atacou quando o espanhol o fez, mas, mais tarde, aproveitou para também ele ganhar tempo a Roglic e não deixar Landa ultrapassá-lo na classificação.

➤ Simon Yates e a Mitchelton-Scott são uma sombra do que foram há um ano no Giro. Fala-se de uma lesão na anca do britânico, mas o certo é que ficou para trás na derradeira dificuldade. Era um ciclista frustrado - até refilou com um ciclista da EF Education First por não o ajudar -, derrotado e destroçado. São quase seis os minutos que o separam de Roglic. Precisa de fazer o que Chris Froome lhe fez em 2018. O que se passa com Yates? Não há explicações, mas o Giro só terá a ganhar se ainda conseguir mostrar o seu melhor.

➤ São furos, são avarias mecânicas... Está a acontecer de quase tudo a Miguel Ángel López e hoje, tal como no segundo contra-relógio, acabou por custar tempo. O colombiano não quer atirar a toalha ao chão, depois de na quinta-feira mostrar que poderia recuperar a desvantagem e um dia depois ter voltado a ficar para trás. São mais de cinco minutos para Roglic, mas não lhe chamam o Super-Homem em vão e falta muita montanha.

➤ Rafal Majka (Bora-Hansgrohe) está confirmado como homem para o top dez e Tanel Kangert (EF Education First) quer ser a surpresa entre os melhores, estando na 11ª posição. Pavel Sivakov vestiu a camisola de líder da juventude depois da quebra de Hugh Carthy (EF Education First), num dia em que a Ineos perdeu Tao Geoghegan Hart. O britânico caiu e partiu a clavícula, tal como aconteceu a Egan Bernal, que falhou o Giro pela mesma razão.

➤ E claro que não pode faltar Amaro Antunes (CCC), o único português no Giro. Esta era uma etapa que ajudaria a decidir o que iria procurar numa Volta a Itália na qual, de repente, se viu num top dez. Na quinta-feira já tinha saído desse grupo, ainda que por poucos segundos, mas na 13ª tirada ficou demonstrado que vai regressar ao plano inicial. Ou seja, Amaro Antunes vai à procura de ganhar etapas, depois de perder mais de 20 minutos, estando a 25:21. Liberdade total para entrar nas fugas.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

14ª etapa: Saint-Vincent - Courmayeur, 131 quilómetros


Uma daquelas etapas para quebrar com as maratonas deste Giro. Quase dá vontade de dizer que é um sprint montanhoso. Não vai haver muito tempo para descansar se a tendência atacante se mantiver. Só há 14 quilómetros planos! Será um teste à resistência física de todos. Nibali deixou a dica que Roglic não vai pode estar tão descansado e percebe-se porquê. Esta etapa deve agradar a Nibali, não só pelas subidas, mas pelas descidas que podem ser muito importantes.




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