11 de maio de 2019

Roglic avassalador já está de rosa

(Fotografia: Giro d'Italia)
Não perdeu tempo a dar espectáculo. Primoz Roglic quis logo nos primeiros oito quilómetros mostrar ao que já se sabia que vinha: discutir o Giro. Ou melhor, é mesmo para ganhar! Chega a Itália muito forte e nada preocupado por estar num pico de forma bem alto quando faltam três semanas duras de corrida. Deixou clara a sua mensagem e deixou todos a terem de o perseguir.

É cedo para fazer previsões que Roglic entrou forte de mais. Deu espectáculo e para quem assiste é um deleite. Mas para quem compete há que saber gerir muito bem o esforço. O ciclista já está de maglia rosa vestida, o que fará com que se perceba rapidamente como está a Jumbo-Visma colectivamente e como liderá com a responsabilidade da liderança. Pode sempre, eventualmente, perder a camisola para alguém que não seja ameaça e que concretize uma fuga numa etapa por exemplo. Para já, são "ses". Este foi só o primeiro dia de Giro! Mas lá que será um teste, será, mas certamente que já era mais do que esperado que Roglic saísse de Bolonha de rosa vestido.

Roglic foi de uma classe à parte no contra-relógio inaugural da Volta a Itália. Dos oito quilómetros, os últimos 2100 metros foram numa subida nada simpática, com pendentes máximas de 16% (até podem ultrapassar), com a média a rondar os 9%. Tao Geoghegan Hart (Ineos) descreveu que foi como que o diabo chegasse e lhe batesse com um martelo.

A forma como Roglic iniciou a subida, revelou logo como ia "dar cabo" da concorrência. A sua cadência correspondia de facto a uma maior velocidade. Ver 176 ciclistas a competir sozinhos nem sempre é o mais emotivo para se assistir, mas quando há corredores como Primoz Roglic, o contra-relógio torna-se num grande espectáculo. É a palavra do dia para a prestação do esloveno, que chegou ao Giro somando por vitórias todas as corridas que fez em 2019: Volta aos Emirados Árabes Unidos, Tirreno-Adriatico e Volta à Romandia.

Ainda o Giro nem tinha começado e Primoz Roglic já estava a ser questionado se não estava preocupado por estar numa forma muito apurada para quem tem de a manter durante três duras semanas de ciclismo. Sem surpresa, não é nada que preocupe o ciclista e no contra-relógio não só venceu, como já tem uns segundos sobre alguns dos adversários directos.

Ver Roglic assim, faz recordar exemplos recentes. Basta recuar um ano para recordar que também se teve um Simon Yates fabuloso logo na primeira semana, apenas para chegar à terceira e num dia perder a maglia rosa. Nem a discutir o pódio ficou. Chegou a Roma fora do top 20.

O britânico aprendeu de tal forma a lição que na Vuelta deixou-se de espectáculos para ser mais pragmático. Ganhou a corrida. É mais fácil encontrar exemplos de ciclistas que começam mal e acabam bem, do que começam bem e acabam ainda melhor. Novamente no Giro de 2018. Chris Froome foi dado fora da luta e acabou a ganhar. Vincenzo Nibali, em 2016, parecia estar completamente afastado de uma vitória e venceu.

Não é apenas com o contra-relógio que se vai dizer que Roglic está a exagerar, mas tem-se em conta o que realizou até ao momento em 2019. Há que esperar pela montanha no Giro. Para já, fica o show Roglic e a expectativa de ver mais do esloveno, não esquecendo que há mais duas etapas de esforço individual.

Os rivais

Tom Dumoulin (Sunweb) foi a desilusão do dia. Até foi o primeiro a partir, mas rapidamente se percebeu que não seria o primeiro no pódio no final do dia. Devido à previsão de chuva, a maioria dos líderes das equipas preferiram sair cedo, daí Dumoulin ter "aberto" a Volta a Itália. Esteve um sol bem agradável!

Meteorologia à parte, sinal positivo de Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida) que também mostrou estar forte já no início da corrida, mas com Roglic na forma que está, era de esperar que ficasse um pouco atrás. 23 segundos não é nada de preocupante, mas já é tempo perdido.

Sinal ainda mais positivo para Miguel Ángel López. O colombiano da Astana fez o mesmo tempo de Dumoulin, mostrando que houve trabalho bem feito nesta vertente, sendo que ajuda ter uma subida difícil para minimizar perdas e, neste caso, até ganhos. Para quem disse que ia tentar perder menos de dois minutos, perdeu 28 segundos!

Entre os principais candidatos, Mikel Landa não começou nada bem, com 1:07 minutos a separá-lo já da liderança, enquanto o companheiro da Movistar, Richard Carapaz, "só" perdeu 47 segundos. O equatoriano já disse que estava a olhar para o pódio no Giro. Vamos ter uma luta pela liderança na equipa espanhola? Ilnur Zakarin não deu boas notícias à Katusha-Alpecin: 1:20 para recuperar.

Simon Yates (Mitchelton-Scott) foi quem fez Roglic arregalar um pouco os olhos. Depois de quase quatro horas à espera do britânico - o único dos candidatos a sair no final do contra-relógio -, seria bem frustrante perder a etapa. Yates venceu o contra-relógio no Paris-Nice e já é uma especialidade que não o assusta. Ficou a 19 segundos de Roglic. Temos rivalidade!

Quanto a Amaro Antunes, não foi feliz em ter de começar imediatamente antes de Roglic. Com um minuto a separar os ciclistas, não surpreendeu ver o esloveno ultrapassar o português - e por muito pouco não apanhou Arnaud Démare (Groupama-FDJ) -, mas nunca é a forma que se gostaria de ter direito televisivo na estreia numa grande volta. Porém, o 1:29 a mais não é nada de negativo, principalmente pensado que o ciclista da CCC poderá ter liberdade para intrometer-se em alguma fuga e discutir uma etapa.

Dada a lesão que limitou a sua preparação para a Volta a Itália, o objectivo passará certamente por ir tentando melhorar, para quando chegar o seu terreno predilecto, podermos ver Amaro na televisão numa situação bem mais animadora.

As primeiras camisolas estão distribuídas desta forma: Roglic de rosa (geral) e ciclamino (pontos), Miguel Ángel Lopez de branco (juventude) e Giulio Ciccone (Trek-Segafredo) de azul (montanha). O italiano lidera esta classificação porque foi o mais rápido nos 2100 metros da subida final. A Jumbo-Visma lidera por equipas. Há já um ciclista fora do Giro. O japonês Hiroki Nishimura, da Nippo Vini Fantini Faizanè, fez mais 4:36 minutos do que Roglic, ou seja, fora do tempo limite.

As diferenças

1º Primoz Roglic (Jumbo-Visma), 12:54 minutos
2º Simon Yates (Mitchelton-Scott), a 19 segundos
3º Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida), a 23
4º Miguel Ángel López (Astana), a 28
5º Tom Dumoulin (Sunweb), a 28
6º Rafal Majka (Bora-Hansgrohe), a 33
7º Tao Geoghegan Hart (Ineos), a 35
9º Bauke Mollema (Trek-Segafredo), a 39
13º Bob Jungels (Deceuninck-QuickStep), a 46
28º Pavel Sivakov (Ineos), a 1:01 minutos
36º Mikel Landa (Movistar), a 1:07
38º Ben O'Connor (Dimension Data), a 1:12
53º Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin), a 1:20
68º Amaro Antunes (CCC), a 1:29

Classificações completas, via ProCyclingStats.

2ª etapa: Bolonha - Fucecchio, 205 quilómetros


Depois de um contra-relógio a terminar depois às 20 horas locais (menos uma em Portugal Continental), Bolonha recebe novamente o pelotão para a primeira etapa em linha. Não é uma típica para sprinters, ainda que não seja de excluir que até possam estar na discussão, mas terão de ultrapassar 205 quilómetros com algum sobe e desce. A terceira e quarta categoria já nos 55 quilómetros finais poderão ser exploradas por equipas que queiram deixar para trás os homens mais rápidos do pelotão.




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