30 de maio de 2019

Ao ataque

(Fotografia: Giro d'Italia)
Chegou o momento do tudo ou nada. Três etapas para decidir um Giro pródigo em reviravoltas e que tem como líder um ciclista que afirmou que estava em Itália para discutir a corrida, mas só depois de vestir a rosa é que impôs respeito a todos. Não que não se soubesse que Richard Carapaz poderia andar com os melhores, mas porque a Movistar tinha Mikel Landa como líder e porque as atenções estavam e muito centradas em Primoz Roglic e também Vincenzo Nibali. Nos próximos três dias é certo que o foco vai estar em Carapaz e na sua defesa da maglia rosa. 

Há um ano, o equatoriano foi uma revelação no Giro. Venceu uma etapa e andou vários dias de camisola branca, perdendo a classificação da juventude para Miguel Ángel López. Doze meses volvidos e Carapaz confirmou que é ciclista para discutir grandes voltas e soube colocar-se na posição de líder e a Movistar não o pôde tentar colocar mais na sombra de Landa. Para já, tem esse estatuto nesta Volta a Itália, mas se a vencer, será para continuar. Nairo Quintana não ganha uma grande volta desde 2016, Alejandro Valverde ainda aspirou vencer novamente a Vuelta, mas apenas comprovou que já não é a sua praia, enquanto Landa é um eterno candidato que não ganha. Tudo pode mudar para Carapaz...

Mas nada está ganho. Sim, Carapaz construiu uma vantagem interessante tanto para controlar Nibali na montanha, como para estar um pouco mais confortável no contra-relógio contra Roglic. Um pouco mais confortável, contudo, não lhe fará mal nenhum se conseguir juntar mais alguns segundos aos 2:16 minutos.

Para Nibali são 1:54 e é do italiano que são esperados os mais ferozes ataques. A etapa de sexta-feira termina em alto, numa segunda categoria e não seria de admirar que possa servir de aquecimento para sábado, pois para o líder da Bahrain-Merida, ganhar tempo a subir contra Carapaz poderá ser difícil se o equatoriano não fraquejar e ainda mais de Landa se mantiver a fazer jogo de equipa. Isto sem esquecer que a Movistar tem tido gregários a grande nível. Damiano Caruso também tem sido um gregário brilhante para Nibali, mas talvez seja no sábado que, com as descidas que previstas, poderá tentar ganhar tempo ao rival. O italiano sabe que tem de baixar a diferença para, de preferência, menos de um minuto se quer ter hipóteses no contra-relógio.

Quanto a Roglic, a 19ª etapa até poderá ser mais benéfica para o esloveno tentar fazer algo. Esperar pelo contra-relógio é um enorme risco dada a diferença para Carapaz, ainda mais quando demonstrou que fica em dificuldades quando o ritmo aumenta nas subidas mais complicadas. Sem equipa ao seu lado nas fases decisivas, não está fácil para Roglic confirmar o favoritismo que tinha vindo a cimentar toda a temporada e até à chegada da alta montanha no Giro. No entanto, numa Volta a Itália de reviravoltas, Carapaz e a Movistar estarão atentas ao que o esloveno ainda poderá tentar fazer. Contudo será em Nibali que se centrará mais o foco da formação espanhola.

Resumindo, Carapaz pode controlar e eventualmente tentar ganhar uns segundos na fase final das etapas, como aconteceu na quarta-feira. Nibali tem de atacar, não tem outra opção. Roglic tem, mas esperar pelo contra-relógio ameaça ser um erro. São apenas 17 quilómetros no domingo e depois de um Giro de maratonas de 200 quilómetros e uma alta montanha muito exigente a partir do meio da corrida, as forças estarão curtas para todos e mesmo um especialista do contra-relógio pode falhar. Já aconteceu isso mesmo a Roglic no Tour, no ano passado.


E não vamos afastar Landa. Está à espreita. Chegar ao pódio é algo assumido, mas o espanhol não vai desaproveitar ir mais além se a oportunidade lhe aparecer.

A táctica de atacar não vai ser exclusiva de Nibali, Roglic ou mesmo de Landa. Há muito por decidir no top dez, com basicamente todos à procura de uma vitória de etapa e de tentar melhorar a classificação. Só Carapaz e Roglic já têm. Na classificação da juventude, a missão está complicada para Sivakov, que tem 2:04 minutos para recuperar para o colombiano Miguel Ángel López.

Aqui fica o top dez:

1º Richard Carapaz (Movistar), 79:44.22 horas
2º Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida), a 1:54 minutos
3º Primoz Roglic (Jumbo-Visma), a 2:16
4º Mikel Landa (Movistar), a 3:03
5º Bauke Mollema (Trek-Segafredo), a 5:07
6º Miguel Ángel López (Astana), a 6:17
7º Rafal Majka (Bora-Hansgrohe), a 6:48
8º Simon Yates (Mitchelton-Scott), a 7:13
9º Pavel Sivakov (Ineos), a 8:21
10º Davide Formolo (Bora-Hansgrohe), a 8:59

Os murros de Ackermann transformaram-se em sorrisos


(Fotografia: Giro d'Italia)
O guiador de Pascal Ackermann sofreu com toda a ira do alemão ao falhar por muito pouco a terceira vitória no Giro. Porém, não demorou muito em regressar o sorriso que já é uma imagem de marca do sprinter da Bora-Hansgrohe. Um dos objectivos do dia foi cumprido: é novamente o detentor da camisola ciclamino, liderando a classificação dos pontos com mais 13 pontos do que Arnaud Démare.

Este Giro poderá ser um reflexo da carreira do francês da Groupama-FDJ. Tanto consegue excelentes resultados - venceu uma etapa -, como de repente tem um autêntico apagão. Com a vitória numa classificação em jogo, ser oitavo foi fraco para um sprinter que se diz dos melhores da actualidade. A ciclamino não está entregue a Ackermann, mas a missão será difícil para Démare. Terá de somar pontos nos sprints intermédios, já que com a montanha, não vai fazer na meta.

O italiano Damiano Cima foi o único dos três que estavam em fuga que resistiu à furiosa aproximação do pelotão nos metros finais. Foi por muito pouco. Mais uns metros e Ackermann ganharia. Mas Cima conseguiu garantir que será recordado como o primeiro a dar uma vitória numa grande volta à Nippo Vini Fantini Faizanè. Está a ser a sua estreia no Giro, aos 25 anos, e depois de tanto entrar em fugas, deu tudo para aguentar naqueles metros finais que terão parecido intermináveis para concretizar um sonho.

Foi a segunda vez nesta edição da Volta a Itália que uma equipa Profissional Continental conquista uma vitória de etapa, depois da Androni Giocattoli-Sidermec o ter feito com Fausto Masnada, na sexta.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

19ª etapa: Treviso - San Martino di Castrozza, 151 quilómetros



É uma etapa curta, portanto propensa a ataques, mas não será surpresa que uma maior acção possa ficar guardada para a segunda categoria final. Depois da descida após a passagem na quarta categoria em Lamon, será basicamente sempre a subir até à meta. Ou seja, os últimos 30 quilómetros não serão nada direitos. A pendente é constante nos 5%... tirando as zonas que passam os 10%.




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