9 de maio de 2019

Volta a Itália: candidatos e aqueles ciclistas a não perder de vista

Tudo preparado para a primeira grande volta do ano que terá um lote de candidatos alargado e, a maioria deles, a chegarem já com provas dadas da boa forma que apresentam. Corrida sem vencedores anunciados e com muitos dos ciclistas a terem características atacantes, o que deixa antever algum espectáculo. Aqui ficam os favoritos e também quem procura intrometer-se e aqueles que ninguém quer perder de vista (por ordem alfabética nos "grupos"). É uma pena que Egan Bernal tenha ficado de fora após fracturar a clavícula numa queda, mas não faltam candidatos de muita qualidade. O Giro arranca este sábado, em Bolonha.


Miguel Ángel López (Astana, 25 anos)
➤ Segunda presença no Giro. Foi 3º  classificado em 2018.
➤ Equipa: Andrey Zeits, Dario Cataldo, Davide Villella, Ion Izagirre, Jan Hirt, Manuele Boaro, Pello Bilbao.
Tem sido um processo de amadurecimento com alguns avanços e recuos, muito devido a graves lesões, como a fractura numa perna. Porém, os terceiros lugares no Giro e na Vuelta de 2018 demonstraram que López está preparado para algo mais, precisando de ser mais regular, principalmente na primeira metade das corridas. Com a Astana a realizar uma época fortíssima, López contribuiu com vitórias na Volta à Colômbia e na Catalunha. No apoio estará aquela que é uma das equipas mais fortes do Giro, com Izagirre a já ter garantido que, apesar de também querer lutar por uma grande volta, vai esperar pela Vuelta.

Mikel Landa (Movistar, 29 anos)
➤ Quinta presença no Giro. Foi 3º classificado em 2015. Tem três vitórias de etapa.
Equipa: Andrey Amador, Antonio Pedrero, Héctor Carretero, Jasha Sütterlin, José Joaquín Rojas, Lluís Mas, Richard Carapaz.
Terminou 2018 com uma queda grave, começou 2019 com outra. Landa atrasou a preparação para o Giro, mas tem vindo a realizar exibições interessantes, com destaque para  sétimo lugar na Volta ao País Basco. A vitória na segunda etapa da Coppi & Bartali deu-lhe ânimo, assim como um outro sétimo posto, na Liège-Bastogne-Liège. Contudo, persistem algumas dúvidas sobre a forma do espanhol, que sem Alejandro Valverde na equipa, ganhou quase total destaque. Quase porque Richard Carapaz não se intimida com a presença de Landa e depois de ter sido uma das figuras do Giro em 2018, o equatoriano olha para o pódio. A coesão nesta Movistar não está fácil de ser alcançada e repartir lideranças é algo que nesta equipa não resulta.


Primoz Roglic (Jumbo-Visma, 29 anos)
➤ Segunda presença no Giro. Foi 58º classificado em 2016. Ganhou uma etapa (contra-relógio)
Equipa: Antwan Tolhoek, Jos van Emden, Koen Bouwman, Laurens de Plus, Paul Martens, Sepp Kuss, Tom Leezer.
Que melhor cartão de visita poderia ter Roglic que vencer as três corridas que realizou em 2019? Volta aos Emirados Árabes Unidos, Tirreno-Adriático e Volta à Romandia foram demonstrações de um ciclista que alcançou a maturidade e que só compete para ganhar. Mostrou que não mais merece existirem dúvidas sobre a sua capacidade para as três semanas. Liderar sozinho, sem a presença de Steven Kruijswijk, é agora o desafio. Não só é um dos principais favoritos para o Giro, como muitos o vêem como o principal. É a essa pressão que terá agora de corresponder. No entanto, parece preparado, ainda mais numa corrida com três contra-relógios, um ponto muito forte deste esloveno.


Simon Yates (Mitchelton-Scott, 26 anos)
Segunda presença no Giro, tendo vencido três etapas na estreia, em 2018. Foi 21º classificado.
Equipa: Brent Bookwalter, Christopher Juul-Jensen, Jack Bauer, Johan Esteban Chaves, Lucas Hamilton, Luke Durbridge, Mikel Nieve.
Um ano depois, Simon Yates está de regresso ao palco onde foi espectacular durante quase três semanas. Numa grande volta há que ser forte durante as 21 etapas e o britânico aprendeu uma dura lição: foi tão espectacular que mediu mal o esforço e quebrou quando Roma estava praticamente à vista, deixando escapar uma vitória que parecia garantida. E aprendeu mesmo a lição. Não esperou pelo Giro para o mostrar. Foi à Vuelta ganhar e disse não ao Tour este ano, pois quer aquela maglia rosa. Chega a Itália com uma etapa ganha na Ruta del Sol e outra no Paris-Nice. Esta foi surpreendente, pois para quem tanto lutou para conseguir pelo menos defender-se num contra-relógio, até ganhou um. E poderá ser um importante pormenor, dado os três contra-relógios que esperam aos candidatos.

Tom Dumoulin (Sunweb, 28 anos)
➤ Quarta presença no Giro. Venceu em 2017. Tem quatro etapas ganhas.
➤ Equipa: Chad Haga, Chris Hamilton, Jai Hindley, Jan Bakelants, Louis Vervaeke, Robert Power, Sam Oomen.
É o primeiro a admitir que nunca chegou a uma Volta a Itália numa forma tão baixa. Contudo, tal não significa que Dumoulin não possa estar na discussão de uma corrida que lhe é tão querida, não fosse onde conquistou a sua primeira e, até agora única, grande volta. Mais dos que as classificações, até com top dez no que fez em 2019, o problema de Dumoulin foi não conseguir estar mais forte nos momentos decisivos e é isso que o preocupa. É um ciclista que pode ir melhorando com o decorrer do Giro, mas sabe que não pode entrar mal no contra-relógio de Bolonha, no sábado. O holandês é uma incógnita neste arranque da prova. 

Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida, 34 anos)
➤ Oitava presença no Giro. Venceu em 2013 e 2016. Tem sete etapas ganhas.
➤ Equipa: Andrea Garosia, Antonio Nibali, Damiano Caruso, Domenico Pozzovivo, Grega Bole, Kristijan Koren, Valerio Agnoli.
A sua relação com a Bahrain-Merida já viveu dias bem mais felizes. Deverá estar de saída, mas Nibali não é de desperdiçar tempo e quer é regressar às vitórias em grandes voltas já no Giro. A queda no Alpe d'Huez, no Tour de 2018, foi uma enorme desilusão tendo em conta a sua forma e este ano o italiano virou-se novamente para a "sua" corrida. E promete. Apesar de ter sido batido pela juventude da Sky (ainda se chamava assim) na Volta aos Alpes, Nibali deixou indicações muito positivas, com os responsáveis da equipa a reforçarem a crença numa boa prestação, dizendo que o ciclista está a apresentar números idênticos aos que o levaram a grandes vitórias na carreira. Já se conhece a forma de correr de Nibali, mas falta saber se os seus companheiros estarão à altura da responsabilidade de não o deixar sozinho demasiado cedo.

Outros ciclistas a ter em conta (pelo menos para um top dez, mas... nunca se sabe!)

Não entram entre os principais favoritos, mas podem baralhar as contas e procuram no mínimo um top dez, a espreitar o pódio e certamente à procura de etapas. Bauke Mollema (Trek-Segafredo, 32 anos) é uma montanha-russa de prestações. Tanto está bem, mas quando se espera mais, desaparece. Ainda assim, ninguém o menospreza. Bob Jungels (Deceuninck-QuickStep, 26) sabe o que é ganhar camisolas da juventude no Giro e fazer top dez. Agora que chegou "à idade adulta" quer um pouco mais, mas não terá equipa a apoiá-lo, já que essa é para Elia Viviani. Mas não deverá passar despercebido.

Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin, 29) é um daqueles ciclistas que passou-se de esperar o melhor a esperar quase nada. A equipa precisa de resultados e está mais do que na altura de Zakarin corresponder às expectativas. Rafal Majka (Bora-Hansgrohe, 29) tem tanto talento e tão pouca capacidade para lidar com a pressão. Talvez longe do Tour se volte a ver o melhor deste polaco.

Ciclistas a não perder de vista

Tanto podem surpreender ao entrar numa luta por lugares cimeiros, como podem procurar antes etapas. Mas são corredores que querem e têm tudo para se mostrarem no Giro. Ben O'Connor (Dimension Data, 23 anos) estava a fazer uma época extraordinária em 2018 até cair na Volta a Itália. Tem andado discreto desde então, pelo que poderá recomeçar no ponto que ficou há um ano. Excelente ciclista, a não perder de vista. Fausto Masnada (Androni Giocattoli-Sidermec, 25) é mais um dos talentos a despontar nesta equipa, desta vez italiano. Depois de ganhar duas etapas na Volta aos Alpes é um corredor a seguir com muita atenção, tal como Giulio Ciccone (Trek-Segafredo, 24). Deu o salto para o World Tour e está em fase de adaptação. É uma esperança italiana e, mesmo com Mollema na equipa, poderá não estar completamente preso ao papel de gregário.

Hugh Carty (EF Education First, 24) parece que finalmente está a mostrar o que se espera dele. A equipa americana dará liberdade a um ciclista de talento, que demorou a adaptar-se, mas que poderá ser uma aposta certa. Lutar por etapas será um objectivo, sem descurar uma boa classificação. Jan Polanc (UAE Team Emirates, 27) tem o "problema" da equipa estar praticamente toda concentrada em Fernando Gaviria. Compreende-se, mas este esloveno já tem duas vitórias de etapas no Giro e merece rédea solta na montanha. Jay McCarthy (Bora-Hansgrohe) é mais um ciclista que tem evoluído lentamente, mas poucos duvidam do seu talento. Esta época já demonstrou estar mais bem melhor. Vai estar um pouco preso ao que Majka fará, mas vamos ficar de olho nele.

Tao Geoghegan Hart e Pavel Sivakov (Ineos, 24 e 21 anos) vão assumir a responsabilidade de Egan Bernal, que ficou de fora após queda num treino. É uma completa incógnita o que poderão fazer, mas depois do domínio na Volta aos Alpes, a expectativa até é grande. De Thomas de Gendt (Lotto Soudal, 32 anos) nem é preciso dizer quase nada. Vai estar em fugas, procurará etapas e a camisola da montanha. Com ele é espectáculo garantido. 
Tony Gallopin (AG2R, 30) tem vindo a fazer uma interessante transformação para voltista. Terá um teste de fogo no Giro, em que partilhará a liderança com outro ciclista que poderá aparecer em destaque: Alexis Vuillermoz (30 anos).

Não se poderia deixar de fora Amaro Antunes, o único português no Giro. O algarvio da CCC sofreu uma lesão após a Volta ao País Basco, o que limitou a sua preparação. Porém, chega a Itália com a ambição de se mostrar naquela que será a sua primeira grande volta. Um momento por que tanto esperou na sua carreira.

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