28 de maio de 2019

É dia de elogiar a Movistar

(Fotografia: Giro d'Italia)
Tantas vezes a Movistar parece ser um saco de boxe, com críticas a virem de todos os lados, muito devido a dois ou até três ciclistas a quererem ser chefe de fila, mas também devido a tácticas que em pouco ou nada resultam na luta por uma grande volta dada a confusão de lideranças. Esta terça-feira foi um dia bem diferente para Movistar. Jogou bem tacticamente, foi unida em torno de Richard Carapaz e tirou partido disso mesmo. O equatoriano passou de outsider, a candidato ao top dez, talvez pódio, e agora é visto como um forte candidato a conquistar a Volta a Itália. Ele bem avisou no início da corrida que estava no Giro para apontar ao topo.

No momento em que a equipa funcionou como tal, no momento em que Mikel Landa foi o braço direito numa etapa que Carapaz bem precisava de ter um, sem esquecer um fantástico Antonio Pedrero, a Movistar colocou-se numa posição como há muito não se encontrava: a vitória numa grande volta está à distância de cinco etapas. Não há celebrações antecipadas - o Giro ao longo da sua história e até nesta edição, mostrou que tudo pode mudar num ápice -, mas há uns sorrisos mais rasgados quando Carapaz e companheiros olham para a classificação geral e vêem Primoz Roglic a 2:09 minutos. Distância bem mais confortável do que 47 segundos, tendo em conta que há um contra-relógio no domingo a fechar a Volta a Itália.

Além de Pedrero, Héctor Carretero tem sido um gregário precioso, com Andrey Amador também a ter o seu papel, ainda mais nesta etapa que sem Gavia, teve o Mortirolo como ponto alto e foi o suficiente para deixar Roglic muito menos favorito, depois de no domingo ter começado tudo a correr mal.

Mas claro que o destaque vai para Landa. Na altura em que a Movistar mais precisava, o espanhol sobre respeitar Carapaz e até ajudá-lo. Para quem queria estar na luta pelo Giro e até encetou uma recuperação na segunda semana, depois de uma primeira para esquecer, não deve estar a ser fácil para Landa ficar em segundo plano. 

Também está a beneficiar desta união e bom trabalho da Movistar, sendo já quarto, a 3:15 do companheiro e certamente a pensar que o pódio ainda é possível, pois ainda há montanha para ultrapassar e a etapa de sábado promete. No entanto, é difícil afastar alguma desconfiança quando a Landa, pois não seria inédito vê-lo atacar uma liderança que até está na sua equipa. Para já, o espanhol está a ser o ciclista que a equipa e Carapaz desejam.

Novos discursos

Com 2:09 a dar uma maior tranquilidade a Carapaz e uma confiança que até poderá acrescentar mais uns segundos numa altura em que Roglic já não consegue esconder as suas debilidades, o equatoriano não tem dúvidas em apontar Vincenzo Nibali como o rival que agora o mais preocupa. E é recíproco. O ciclista da Bahrain-Merida conseguiu um dos objectivos do dia: ganhar tempo e até ultrapassar Roglic na classificação. Mas faltou conseguir reduzir a diferença para a maglia rosa.

A subida ao mítico Mortirolo esclareceu qualquer desconfiança que pudesse haver quanto à forma de Nibali. O italiano está mesmo a melhorar com o decorrer da corrida. Contudo, o mau tempo que tanto ajuda a tornar épicas este tipo de etapas em subidas históricas, acabou por ser um inimigo de Nibali. A descida do Mortirolo tinha tudo para ser o local de mais um ataque do italiano - foi ele que abriu as hostilidades na subida -, mas a chuva tornou aqueles cerca de dez quilómetros demasiado perigosos.

Qualquer pretensão de ganhar tempo a Carapaz num terreno em que Nibali é dos melhores do mundo, foi anulada, pois foi necessário jogar pelo seguro para não colocar em causa o resto do Giro. Nibali é bem claro ao dizer que, ao deixar Roglic atrás de si, tem de descobrir a forma de derrotar Carapaz. Damiano Caruso e Domenico Pozzovivo terão um papel importante na luta contra uma forte Movistar.

Há uma nova dupla a ter em conta, mas Roglic não se dá como derrotado. "O Giro ainda não acabou", salientou. O que acabou definitivamente foi a postura de esperar para ver, de controlar os rivais. O esloveno não pode perder mais tempo e é recomendável que recupere alguns segundos. É um excelente contra-relogista, mas depois de 20 etapas, o cansaço terá uma palavra no esforço individual de domingo. No Tour do ano passado pagou caro o esforço que fez para ganhar a etapa anterior. 

Sem equipa a ajudá-lo - que grande desilusão está a ser a Jumbo-Visma colectivamente -, e com as dificuldades físicas a ficarem claras, começar muito forte o Giro está a demonstrar mais uma vez que não traz vantagens. Simon Yates (Mitchelton-Scott) pode explicar isso a Roglic e até foi o britânico que um dos aliados de circunstância desta 16ª etapa (Lovere - Ponte di Legno, 194 quilómetros), que evitou um maior descalabro de Roglic.

Bauke Mollema (Trek-Segafredo) é quinto a cinco minutos e todos os que estão a seguir ao holandês já não são vistos como grandes ameaças, salvo nova reviravolta. O Giro tem mesmo um trio na luta pela vitória e um joker chamado Landa.

Um brilhante Ciccone


(Fotografia: Giro d'Italia)
É a confirmação da Volta a Itália. Dificilmente perderá a camisola da montanha, inscreveu o seu nome como o primeiro a passar o Mortirolo e, ainda mais importante, venceu a etapa. A Trek-Segafredo contratou este italiano à Bardiani-CSF na esperança de o ver tornar-se num líder. Aos 24 anos comprovou que a aposta é mais do que acertada. Luta pelos seus interesses, mas quando a ordem é trabalhar para Mollema, vestiu a pele de gregário de luxo em etapas anteriores. A expectativa vai agora crescer para perceber até onde pode ir este excelente ciclista.

Nada brilhante esteve Miguel Ángel López. Cede terreno, recupera, ataca e depois, quando tudo parecia controlado para pelo menos não perder mais tempo, eis que nos últimos metros López fraquejou e perdeu mais uns segundos para Nibali e Carapaz. Até subiu de 10º a 7º, mas a 6:17... Fica a consolação de ser o agora líder da juventude, com 1:34 sobre Pavel Sivakov (Ineos). Talvez esteja na altura de procurar a vitória numa etapa.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

17ª etapa: Commezzadura - Anterselva/Antholz, 181 quilómetros



Tréguas nas primeiras categorias, que só regressam no sábado. Porém, será um dia sem descanso. A última subida tem uma pendente média de 8,5% e a ver vamos se a tirada de sábado já estará na mente dos favoritos, ou se ainda haverá força e coragem para tentar fazer ainda mais diferenças. Carapaz está numa posição confortável para controlar a concorrência, já Nibali e mesmo Roglic têm trabalho a fazer.




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