19 de maio de 2019

As contas do contra-relógio que obrigam os rivais de Roglic a atacar

A geral mexeu e bem. Muito mais do que Primoz Roglic e principalmente Simon Yates esperariam. O segundo contra-relógio meteu os candidatos nos seus lugares, ou quase, já que, depois daquela reviravolta da sexta etapa, ainda há muitos ciclistas no top dez que dificilmente por lá estarão daqui a uma semana. E até se aproveita a deixa para falar de Amaro Antunes, pois eis um corredor que há que perceber que objectivos irá procurar. O português da CCC até caiu uma posição, sendo agora sétimo, mas continua num top dez inesperado quando arrancou o Giro. Fez um bom contra-relógio, tendo em conta que é uma especialidade que está longe de ser um ponto forte e a equipa terá agora um dia de folga para decidir o que irá apostar: manter a ideia inicial de perseguir etapas, ou procurar um top dez com o português.

Victor de la Parte era a aposta para este plano e não está excluída a hipótese de lá chegar. É 21º, a 5:20 de Valerio Conti, mas Amaro já lá está, num top dez brilhante para quem está a fazer a sua estreia numa grande volta e até teve alguns problemas físicos na preparação para o Giro. Está a 3:05 de Conti.

Falemos também do italiano, antes do fabuloso Roglic. É que do esloveno a exibição fenomenal era mais do que esperada. Já o ciclista da UAE Team Emirates sofreu a bom sofrer para segurar a camisola rosa e com uma vantagem que lhe permite tentar ambicionar ficar com ela talvez mais um dia, dificilmente dois, quando a alta montanha chegar na quinta-feira. Será complicado prolongar a senda muito mais tempo, tendo em conta que os ataques dos favoritos vão ter de aparecer no Giro.

Conti não é um especialista no contra-relógio, mas com mais de cinco minutos sobre Roglic, aguentou como pôde, debaixo de um autêntico dilúvio. Roglic também apanhou chuva, mas nada comparado com a que "brindou" o líder da Volta a Itália. O mau tempo acabou por prejudicar ainda mais um Conti que já sabia que o contra-relógio não seria simpático para ele. Conseguiu ficar com 1:50 minutos de vantagem, menos do que desejaria, mas que ainda lhe permite viver o sonho rosa, pelo menos até à 11ª etapa.

Quanto a Roglic, o que dizer de mais um super contra-relógio! O bicampeão europeu da vertente, Victor Campenaerts (Lotto Soudal), estabeleceu uma marca que poucos se estavam a aproximar e competiu ainda com a estrada seca. Roglic, à chuva, tirou 11 segundos ao tempo do belga e foi o mais rápido nos 34,8 quilómetros que levaram o Giro a San Marino. Os últimos 12 foram sempre a subir e Campenaerts - o recordista da hora - há-de ficar a pensar se mudar de bicicleta foi a melhor escolha. Teve um problema com a mudança, com a "nova" bicicleta a parecer estar com a mudança demasiado pesada para arrancar e até recebeu uma ajuda de um homem do público, mas foram segundos preciosos perdidos.

Subir não é o seu forte e Campenaerts aproveitou a zona plana para construir a sua vantagem, talvez sem a bicicleta "normal" não conseguisse fazer a ascensão. Talvez não devesse ter trocado. "Talvez" pouco importa. Roglic foi perfeito, como o próprio admitiu e fez 51:52. Segunda vitória, no segundo contra-relógio. Dos rivais directos, só Vincenzo Nibali pode dizer que aguentou, mas, ainda assim, tem 1:44 para recuperar. O italiano está mesmo na boa forma demonstrada antes do Giro. E ficou numa posição muito melhor do que Yates que ficou a quase quatro minutos de Roglic.

Foi a grande surpresa. O britânico tem melhorado tanto no contra-relógio e esteve ao nível esperado na zona plano. A subir, onde se pensava que minimizaria perdas para Roglic, foi o descalabro. Nem a Mitchelton-Scott consegue encontrar respostas, dizendo que Yates não teve boas sensações e pagou por isso. A quebra chegou mais cedo este ano, comparativamente com 2018. A vantagem? Se conseguir recuperar a sua melhor forma, tem tempo para tentar recuperar. Mas não será fácil.

O mesmo acontece com Miguel Ángel López. Furou, contudo, não pode servir de desculpa para um contra-relógio tão negativo. Está a 4:29 de Roglic e até Pello Bilbao fez melhor, começando a ser um plano B que a Astana poderá recorrer se o colombiano não recuperar na montanha.

Bem mais feliz está Bauke Mollema. É desta que o holandês vai lutar por um pódio?

Na luta da Movistar, mais uma "vitória" para Richard Carapaz. Mikel Landa está a ter um Giro para esquecer e quase voltou a cair. O equatoriano, que já venceu uma etapa, já provou merecer a confiança da equipa, mesmo que isso signifique que Landa continue a fazer a sua corrida.

Diferenças entre os favoritos e a posição que ocupam na geral. Roglic é referência. O esloveno está a 1:50 de Conti:

2. Primoz Roglic (Jumbo-Visma)
11. Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida), a 1:44 
12. Bauke Mollema (Trek-Segafredo), a 1:55
14. Bob Jungels (Deceuninck-QuickStep), a 2:18
18. Rafal Majka (Bora-Hansgrohe), a 2:53
20. Richard Carapaz (Movistar), a 3:16
22. Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin), a 3:32
24. Simon Yates (Mitchelton-Scott), a 3:46
26. Pavel Sivakov (Ineos), a 4:11
27. Miguel Ángel López (Astana), a 4:29
30. Mikel Landa (Movistar), a 4:52

Classificações completas, via ProCyclingStats.

Segunda-feira é dia de descanso, terça e quarta há duas etapas completamente planas. Depois vem a muito esperada alta montanha. Perante as diferenças, não há dúvidas quanto a um pormenor: os rivais de Roglic têm de atacar. Sobram duas dúvidas: quanto tempo aguenta Conti na liderança e está este Giro "inclinado" para Roglic, tendo em conta que ainda há mais um contra-relógio?

Que chegue a montanha, pois esta Volta a Itália está a precisar que os candidatos comecem a mostrar-se.

10ª etapa (terça-feira): Ravenna - Modena, 145 quilómetros



Não é difícil perceber quem são os ciclistas que têm esta etapa como uma das suas preferidas. Sprinters aproveitem que as oportunidades estão a acabar.




»»Um contra-relógio para mexer com o Giro««

»»Um Giro à espera dos candidatos««

Sem comentários:

Enviar um comentário