16 de maio de 2019

Reviravolta no Giro e uns novos pontos de interesse

(Fotografia: Giro d'Italia)
Primoz Roglic perder a camisola rosa para um ciclista que não fosse um rival directo, era absolutamente expectável. Não era sensato ter uma Jumbo-Visma estar a tentar segurar uma liderança desde o primeiro dia, pois poderia pagar um preço alto nas etapas mais decisivas. Porém, deixar um ciclista ficar a 5:24 minutos de distância, ainda mais um que tem bastante qualidade, acabou por ser algo estranho. Menosprezar Valerio Conti também não é sensato. É difícil vê-lo como um candidato, mesmo com esta posição. Nem o próprio se vê como tal nesta fase do Giro. Ainda assim, vestir uma camisola de liderança pode ajudar a transformar um corredor.

Uma coisa é certa, a Volta a Itália deu uma daquelas reviravoltas bem ao estilo desta corrida. E que haja imprevisibilidade! O grupo de favoritos à partida do Giro mantém-se junto. E esteve tão junto nesta etapa, que nenhuma das equipas se preocupou em garantir que a diferença não fosse tão expressiva.

Pode-se pensar que num mau dia, Conti perde a vantagem quase toda, se não toda. Pode-se pensar que não é o melhor dos contra-relogistas. Pode de facto não ser um candidato, mas pode entrar numas contas que vai perturbar objectivos de certos ciclistas. O top dez passa a ser algo possível e, com o decorrer dos dias, a reacção do corpo e da mente de Conti à responsabilidade que assumiu, irá ditar se não vai sonhar com mais.

Não é inédito um ciclista fora do radar ver-se nesta posição e depois andar mais tempo do que o esperado a baralhar as contas dos favoritos. Conti já garantiu que fará tudo para manter a rosa o máximo de tempo possível, numa altura em que ainda nem acredita que o sonho concretizou-se. O italiano da UAE Team Emirates havia dito antes da etapa que a rosa era um objectivo. Ficar com 5:24 de vantagem sobre Roglic foi um tremendo bónus.

A Jumbo-Visma escolheu largar a rosa. Decisão ainda mais correcta depois de Roglic ter caído na fase inicial da etapa e ter ficado um pouco mal tratado na nádega direita. A equipa holandesa bem chamou uma Mitchelton-Scott, Astana ou Bahrain-Merida a ajudar na perseguição a 11 ciclistas, entre eles o português Amaro Antunes (CCC). As equipas chegaram a pedalar lado a lado, mas sem ninguém assumir fosse o que fosse. A Jumbo-Visma lá fez o trabalho, mas sem se cansar. A vantagem da fuga chegou a estar próximo dos oito minutos perto do final, mas uma aceleração depois da única subida do dia, lá baixou para os 7:17. Ninguém sequer atacou Roglic na subida, para testar como estaria o esloveno após a queda. Ficaram todos a resguardar-se para o que aí vem. Alianças é que nem pensar nesta fase.

E o que aí vem é um Giro com mais pontos de interesse. Conti pode ter uma equipa muito concentrada em Fernando Gaviria, mas Jan Polanc e mesmo Diego Ulissi podem dar uma ajuda ao camisola rosa para, pelo menos, prolongar este momento especial na vida de uma equipa que ficou com a antiga Lampre-Merida, uma estrutura italiana. Conti, aos 26 anos, está a viver um momento alto na carreira, ele que já venceu uma etapa na Vuelta em 2016.

Mas além de Conti, há um nome que ainda há 24 horas estava fora de qualquer luta devido a uma pobre decisão da Sunweb. Sam Oomen ficou com Dumoulin após a queda do líder e perdeu muito tempo. Após o abandono do chefe-de-fila, a Sunweb ficou sem soluções. Ou talvez não. Oomen esteve na fuga certa e até ficou à frente de Roglic na classificação, por 27 segundos. Nada que o esloveno não recupere no contra-relógio. Ainda assim, a Sunweb está de volta a várias lutas, com um jovem que tem estado a preparar para um dia ser também ele um voltista. A oportunidade apresentou-se mais cedo e Oomen é um homem a seguir com atenção, pois pode bem entrar na disputa por mais do que o top dez e também pela juventude.

Bem se escreveu que uma reviravolta poderia mudar tudo para a Sunweb e ela chegou rápido. Acabou por ser um dia importante para esta equipa, mas principalmente para a UAE Team Emirates. Com dois ciclistas excluídos por suspeitas de doping, ter Conti de rosa foi o melhor que poderia ter acontecido. Juan Sebastián Molano apresentou resultados anómalos nuns testes internos e a UAE Team Emirates mandou-o para casa, perdendo Gaviria um dos seus lançadores. O nome de Kristijan Durasek apareceu envolvido na Operação Aderlass e a Volta à Califórnia do croata terminou mais cedo.

(Fotografia: Giro d'Italia)
Mas por falar em dia importante, sete anos depois a Androni Giocattoli-Sidermec voltou a ganhar uma etapa no Giro. Fausto Masnada está a tornar-se num caso sério de sucesso no ciclismo italiano. Já se sabia que estava em boa forma depois de ganhar duas tiradas na Volta aos Alpes, mas hoje foi mais uma exibição de grande nível, num dos maiores palcos da modalidade. Masnada e Conti deixaram o grupo de fugitivos e, não havendo confirmação de terem combinado o resultado final, o primeiro ficou com uma etapa que muito desejava - queria dedicar uma vitória ao tio que faleceu antes do Giro - e Conti com uma sonhada maglia rosa. Perfeito para ambos. De referir que foi uma vitória de uma equipa Profissional Continental.

Muito positivo também para Amaro Antunes. Na sua estreia numa grande volta foi 10º na etapa e agora é sexto na geral, a 2:45 de Conti. O português adoraria ganhar uma etapa, mas será que, se conseguir ir melhorando a sua condição física, poderá tentar segurar um top dez. O contra-relógio de domingo poderá ajudar nessa decisão.

Aqui ficam as classificações completas, via ProCycling Stats, com um top dez completamente novo.

7ª etapa: Vasto - L'Aquila, 185 quilómetros


Será uma etapa com um significado diferente. A passagem por Áquila é uma forma de recordar e homenagear os mais de 300 mortos no sismo de há dez anos. O pelotão passará por algumas das zonas que foram então afectadas, nuns últimos quilómetros, após a segunda categoria, com subidas curtas, mas nem sempre fáceis. A final, por exemplo, chega a ter uma pendente de 11%, com uma média de sete.




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