14 de maio de 2019

Dumoulin, Roglic, Carapaz e um Landa a ter de pedir desculpa

(Fotografia: Giro d'Italia)
Mais uma longa jornada. Mais um dia sem particular interesse até que tudo ficou virado do avesso em seis quilómetros. E, de repente, a quarta etapa poderá vir a ser mais importante do que o esperado na Volta Itália. Primoz Roglic corria o risco de até perder a liderança, mas reforçou-a, com mais uns segundos que obriga os rivais a fazer mais umas contas. As contas de Tom Dumoulin terminaram, nas palavras do próprio, e a ver vamos se o Giro também acabou. E depois tivemos ainda um Mikel Landa a libertar toda a sua frustração numa linguagem que o levou a ter de pedir desculpa mais tarde.

Começando por Dumoulin. O ciclismo é assim. Ou melhor, o desporto é assim. Num ano tudo parece perfeito, no outro reforça-se o estatuto de uma das actuais figuras e no seguinte tudo acaba num momento que até custou assistir. O holandês ganhou o Giro em 2017. Em 2018 foi segundo, repetindo o resultado no Tour. Em 2019 cortou a meta em Frascati derrotado pelas circunstâncias da corrida que, por outro lado, beneficiaram Roglic.

(Fotografia: Giro d'Italia)
Uma queda a cerca de seis quilómetros da meta apanhou vários ciclistas. Uns caíram, outros ficaram cortados. Dumoulin foi um dos que caiu. Foi até parar a uma vala na berma da estrada. Foi um homem da Jumbo-Visma, companheiro de Roglic - pareceu ser Koen Bouwman -, que até o ajudou a levantar-se. Só um pouco depois há um grande plano de Dumoulin. Aquele joelho com o sangue a escorrer pela perna não tinha bom aspecto. Incapaz de o dobrar convenientemente, a equipa rodeou o seu líder e acompanhou-o até final, numas pedaladas dolorosas e tristes de ver, ainda mais quando se trata de um ciclista de tanta qualidade como é Dumoulin.

Não está nada partido, os raio-X assim o confirmou, mas Dumoulin já admitiu que está inchado e que qualquer decisão mais radical só será tomada na manhã de quarta-feira. Mas não há volta a dar. Com 4:30 a separá-lo de Roglic, o holandês excluiu-se da luta pela geral. Com o Tour no horizonte, disputar uma etapa e um eventual top dez é sempre honroso. Porém, para quem quer ganhar outra grande volta, há uma decisão a tomar.

E no dia em que o Giro tirou Dumoulin da luta, deu a Roglic a hipótese de consolidar a sua liderança. Foi o único do top dez que passou incólume na queda que deixou os rivais do esloveno a terem de minimizar perdas. Com uma ajuda da Bora-Hansgrohe que queria levar Pascal Ackermann a mais uma vitória e de uma UAE Team Emirates dedicada a Diego Ulissi, Roglic teve aliados de circunstância valiosos para ganhar 16 segundos à concorrência directa. Isto significa que Simon Yates (Mitchelton-Scott) está agora a 35 segundos e Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida) a 39, por exemplo.

Roglic é o primeiro a recordar que, sendo importante ganhar tempo, também rapidamente se pode perdê-lo, mas é sempre animador quando se sente que a senhora sorte esteve do nosso lado, além, claro, de uma boa colocação.

E Yates é um ciclista que bem sabe como é perder tudo num só dia. É para ajustar contas com o Giro que perdeu há um ano, que escolheu voltar, no seu caso em detrimento de uma ida ao Tour. O britânico acabou por ser nesta quarta-feira destaque por mais do que por ter perdido tempo.

"O puto Yates é um atrasado mental e anda como um louco", afirmou um muito frustrado Mikel Landa, que acusou o ciclista da Mitchelton-Scott de ter provocado a queda que o espanhol sofreu numa rotunda (não foi a mesma que afectou Dumoulin). As declarações ao jornal As não demoraram a ter grande repercussão. Resultado, também não demorou até escrever um pedido de desculpas, ainda que afirme que o que disse foi retirado do contexto. "Peço desculpas a todos os adeptos e em especial a Simon Yates por umas palavras tiradas do contexto", escreveu no Twitter. Desculpas aceites por Yates.

Mais um momento pouco bonito de um Landa que começa a ter dificuldades em disfarçar não estar tão bem como desejaria e ainda tem um Richard Carapaz a ameaçar tirar-lhe a liderança na Movistar. O espanhol juntou mais 44 segundos ao tempo perdido no mau contra-relógio que fez no sábado, ou seja, Roglic está a 1:49 minutos de distância. 

(Fotografia: Giro d'Italia)
Já Carapaz está a 1:21 e ultrapassou novamente o colega na classificação, depois de na terceira etapa um problema mecânico tê-lo atirado para trás de Landa. Ah sim, e ganhou uma etapa! Com os últimos 2,5 quilómetros dos 223, entre Orbetello e Frascati, a serem numa subida que tirava muitos sprinters da discussão - Ackermann e Caleb Ewan (segundo na etapa) foram os resistentes -, Carapaz escolheu o seu momento para atacar e repetiu o feito de há um ano, vencendo uma etapa no Giro.

Num ano em que Alejandro Valverde não está a render tantas vitórias como habituou em épocas recentes, este triunfo de Carapaz foi muito bem-vindo para uma Movistar com agora dez vitórias em 2019, mas apenas duas World Tour.

Carapaz avisou que estava no Giro com olhos postos no pódio e já obrigou Landa a ter de o olhar com maior respeito. O espanhol não vai baixar os braços, pelo que estão definitivamente abertas as hostilidades na Movistar. Nada de novo...

De referir ainda que o dia começou com a notícia do afastamento de Juan Sebastián Molano do Giro por parte da UAE Team Emirates. A equipa explicou que foram detectados resultados anómalos em testes feitos internamente. Em colaboração com a UCI, a UAE Team Emirates está à procura de explicações. Fernando Gaviria perdeu assim um dos seus lançadores, num dia em que ficou sem a maglia ciclamino, que regressa a Pascal Ackermann.

5ª etapa (15 de Maio): Frascati - Terracina, 140 quilómetros


Etapa curta e rápida para variar um pouco. Este tipo de tiradas tem a capacidade de aumentar um pouco mais algum eventual nervosismo. Se for muito atacada, o mais pequeno dos pormenores negativos pode tornar-se numa grande dor de cabeça. Apesar do sobe e desce inicial e de uma quarta categoria pelo meio, é dia para os sprinters aproveitarem.




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