30 de novembro de 2018

Impossível ignorar que é preciso mudar

(Fotografia: © Scott Mitchell/Team Dimension Data)
Se não fosse Ben King na Vuelta, a época da Dimension Data teria sido muito negativa. As duas vitórias de etapa do americano em Espanha não apagam as prestações abaixo do esperado de muitos dos ciclistas da equipa, mas ganhar numa grande volta sempre deu um alento. Poucas vitórias, poucas exibições de nível, a Dimension Data volta a terminar no último lugar do ranking, algo já não tão preocupante numa perspectiva de que o sistema de descidas e subidas de escalão foi uma ideia abandonada pela UCI. Porém, continua a ser preocupante num desporto que vive de assegurar que os patrocinadores têm uma devida exposição, dado o muito dinheiro investido.

Mark Cavendish está numa espiral descendente. Além de uma sucessão de acidentes no início de temporada, a mononucleose voltou a afectá-lo. Apenas uma vitória em 2018, no Dubai, em Fevereiro. Depois foi uma época para esquecer do sprinter britânico, de quem muito se duvidou que renovasse. Ficará mais um ano, mas é cada vez menos a estrela em que a equipa mais aposta.

Quem terá mais responsabilidade de apresentar resultados é Louis Meintjes. O regresso do filho pródigo resumiu-se a exibições apagadas, um abandono no Giro e uma Vuelta que nem se deu pelo sul-africano. Voltou à equipa para iniciar um processo de evolução para discutir o Tour, para o ganhar nos próximos dois/três anos. Tem primado pela sua regularidade nas grandes voltas, com um top dez a ser algo normal. Mas este ano foi tudo menos normal. Aos 26 anos, Meintjes é um dos melhores voltistas que, no entanto, esteve longe do seu potencial.

E o que dizer de Steve Cummings... O próprio britânico quer virar a página no próximo ano depois de um 2018 em que nada lhe saiu bem. Nada. Aos 37 anos estará a entrar na recta final da carreira, ainda que queira, num último fôlego, demonstrar que pode repetir uma daquelas exibições que lhe valeram vitórias no Tour e na Vuelta.

Também Edvald Boasson Hagen demorou a atingir uma boa forma, não ajudando começar o ano com uma operação à vesícula. Ainda assim foi a tempo de amealhar duas vitórias, uma na Volta à Noruega (segunda etapa) e o título nacional daquele país. Na segunda metade da temporada foi mesmo dos mais regulares da equipa, mesmo que não tenha alcançado um triunfo numa corrida World Tour.


Ranking: 18º (1953 pontos)
Vitórias: 7 (incluindo duas etapas na Vuelta)
Ciclistas com mais triunfos: Ben King e Edvald Boasson Hagen (2)


Mas quando a época parecia estar a ir de mal a pior, eis que aparece um Ben King, que acabou por ser uma das duas estrelas de 2018. A outra foi o jovem Ben O'Connor, um australiano que foi uma pena a queda no Giro estragar-lhe o boa fase. Mas aos 23 anos, é um daqueles ciclistas que se tem de assinalar como a seguir com muita (mesmo muita) atenção em 2019.

Com Meintjes apagado. O'Connor foi o autor de uns dos momentos mais espectaculares do ano, na vitória que alcançou na terceira etapa da Volta aos Alpes. Um esforço solitário que confirmou o talento deste jovem no ciclismo mundial. Estava a prosseguir com as boas exibições no Giro, à porta do top dez e na luta pela camisola da juventude, quando uma queda, a três dias do fim, não só o tirou da corrida, como a clavícula partida o afastou da estrada durante uns tempos. Não repetiu mais o nível, mas a renovação por duas temporadas é a prova de como a Dimension Data o irá colocar entre uma das figuras a partir de Janeiro.


King foi mais feliz na Vuelta. Ganhou duas etapas e com enorme categoria, nos dois resultados que salvaram a época da Dimension Data e que poderá relançar a carreira do americano de 29 anos. Não lhe é estranho vencer em corridas importantes, ainda que nada como uma grande volta. Contudo, estes triunfos deram outra confiança ao próprio corredor, que poderá também ter um papel mais importante em 2019, tanto na procura por mais vitórias, como na ajuda aos líderes.

Num ano abaixo das expectativas, a Dimension Data ainda teve de lidar com a perda de Bernhard Eisel por muitos meses, depois do austríaco ter caído no Tirreno-Adriatico e, mais tarde, ter sido descoberto um hematoma subdural, que obrigou o ciclista a ser operado. Lachlan Morton, por seu lado, foi atropelado e partiu um braço. De referir ainda que o espanhol Igor Antón saiu de cena no final da Vuelta, aos 35 anos, mas sem conseguir uma última grande vitória como desejava.

Mudança de filosofia

Para 2019, a Dimension Data irá alterar a sua filosofia de ser uma equipa que dá oportunidade a vários ciclistas africanos. A estrutura vai manter a sua ligação ao país de origem, África do Sul, mas foi assumido que é necessário fazer uma mudança e ter outros ciclistas.

Michael Valgren (Astana), Lars Bak (Lotto Soudal) - dois dinamarqueses -, o checo Roman Kreuziger (Mitchelton-Scott) e o italiano Giacomo Nizzolo (Trek-Segafredo) são algumas das contratações. O número de africanos foi reduzido. Fica claro que esta Dimension Data que precisa de resultados, mais vitórias e mais corredores que lutem por triunfos, contratou corredores com capacidade para fortalecer a equipa nesse aspecto, alargando o leque de opções tanto com qualidade como com experiência.

Permanências: Edvald Boasson Hagen, Mark Cavendish, Steve Cummings, Scott Davies, Nicholas Dlamini, Bernhard Eisel, Amanuel Ghebreigzabhier, Ryan Gibbons, Jacques Janse van Rensburg, Reinardt Janse van Rensburg, Ben King, Louis Meintjes, Ben O'Connor, Mark Renshaw, Tom-Jelte Slagter, Jay Thomson, Jaco Venter e Julien Vermote

Contratações: Lars Bak (Lotto Soudal), Enrico Gasparotto (Bahrain-Merida), Roman Kreuziger (Mitchelton-Scott), Giacomo Nizzolo (Trek-Segafredo), Michael Valgren (Astana), Danilo Wyss (BMC), Stefan de Bod (Dimension Data for Qhubeka), Gino Mäder (IAM Excelsior - fará a sua estreia como profissional) e Rasmus Tiller (Joker Icopal).

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