19 de julho de 2019

O texto que poderia ter sido escrito há oito anos

A fotografia é de 2017, quando Froome pensava a estar a caminho
de conquistar a sua primeira Vuelta, afinal, foi a segunda
(Fotografia: © La Vuelta)
Chris Froome tornou-se no primeiro britânico a conquistar uma grande volta. O projecto da Sky veio para a estrada com o objectivo de levar um ciclista daquele país ao topo do ciclismo mundial, com a Volta a França em mente. Porém, foi já em Espanha que esta equipa fez história na modalidade, com um jovem talento a superar o seu líder, Bradley Wiggins. Com o seu número um a claudicar, a equipa deu ordens a Froome para perseguir a glória e escrever o seu nome no topo do ciclismo britânico. Froome não desaproveitou a oportunidade de ouro.

Aos 26 anos, Froome demonstra ser um talentoso trepador que dificilmente ficará muito tempo a servir de gregário de Wiggins, o ciclista escolhido para liderar este projecto, que tem como objectivo máximo conquistar a Volta a França. Froome, um britânico que nasceu no Quénia, venceu uma etapa, em Peña Cabarga e a consistência nas difíceis etapas de montanha tornaram-no num ciclista difícil de bater, mesmo que parte da corrida tenha sido passada a proteger Bradley Wiggins. O britânico (31 anos) ficou a 1:26 minutos do companheiro de equipa, com outra jovem promessa a fechar o pódio.

O holandês Bauke Mollema, de apenas 24 anos, - que venceu a classificação por pontos e ficou a 1:50 do vencedor da geral - esteve perto de ganhar etapas e as suas exibições nos dias mais complicados deixam a Rabobank a sonhar alto com o talento deste ciclista, que fecha pódio naquela que foi apenas a sua terceira grande volta e uma estreia em Espanha. Também Froome correu pela primeira vez na Vuelta (quarta grande volta), que pode muito bem ter assistido ao nascimento de dois grandes corredores.

O melhor espanhol nesta Vuelta terminou apenas na nona posição, com a distinção a pertencer a Daniel Moreno, que este ano transferiu-se para a Katusha. Moreno ficou a 5:07 minutos de Froome, tendo ganho a etapa que terminou na Serra Nevada. Depois de Mollema, todos os ciclistas ficaram a mais de três minutos e meio de Froome, numa demonstração da Sky do que poderá estar para vir na Volta a França de 2012. Esta equipa veio para marcar a diferença.

Este poderia muito ter sido um texto escrito para marcar a primeira grande conquista da Sky em 2011, naquele que era o segundo ano na estrada da equipa britânica. Então Juan José Cobo foi o autor de um conto de fadas. Um ciclista, pouco conhecido, de uma equipa Profissional Continental - a também espanhola Geox-TMC Transformers -, fez a exibição de uma vida e conquistou a Vuelta. Pouco mais alcançou na carreira, mas aquele triunfo marcou a carreira do espanhol e a própria história da corrida.

Oito anos depois, o conto de fadas acabou em pesadelo. A UCI suspendeu o espanhol por três anos por irregularidades encontradas no passaporte biológico, considerando que o antigo ciclista violou o regulamento anti-doping entre 2009 e 2011. Cobo tinha um mês para recorrer da decisão. Segundo a UCI não o fez, pelo que a suspensão entra em vigor e Cobo perde a vitória na Vuelta. O organismo confirmou a nova classificação que atribui o triunfo na geral a Froome, Wiggins passa para segundo e Mollema já pode dizer que tem um pódio numa grande volta. Cobo tinha vencido a 15ª etapa, no Anglirú, triunfo que passa agora a pertencer a Wout Poels, holandês que está na Ineos, mas que em 2011 representava a Vacansoleil-DCM.

A UCI publicou os resultados actualizados que podem ser consultados neste link. A consequência maior é a perda de resultados, pois a suspensão nada afecta Cobo, que terminou a carreira em 2014 e está afastado da modalidade.

Chris Froome, que está a recuperar da grave queda que sofreu no Critérium du Dauphiné, escreveu no Twitter que "mais vale tarde do que nunca", acrescentando que foi uma Vuelta com "memórias muito especiais". Já Dave Brailsford, director da agora Ineos, ficou satisfeito por ter sido reposta a verdade desportiva, mas admite que não sente que aquela Vuelta tenha sido a primeira grande conquista da equipa britânica, pois afinal não houve celebrações.

Porém, a história foi mesmo reescrita. Já não é Bradley Wiggins o primeiro britânico a vencer uma grande volta, é Chris Froome, que passa agora a contar com quatro Tours, duas Vueltas e um Giro. Para a Sky/Ineos significa que são nove vitórias em grandes voltas nos dez anos que está na estrada.

Quanto ao texto que poderia ter sido escrito há oito anos, Froome confirmou que era de facto um enorme talento e já está entre os principais voltistas da história do ciclismo. Já Mollema foi uma promessa constantemente adiada e, aos 32 anos, já não se espera uma confirmação tardia, ainda que seja um ciclista de inegável qualidade.

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