23 de julho de 2019

"Não contava ser director desportivo tão no imediato, mas não tenho medo do desafio"

Está a ser um início de carreira como director desportivo auspicioso. Com apenas 27 anos e com quase todos os seus ciclistas a serem mais velhos, Rúben Pereira assumiu as rédeas da Efapel e logo com um feito: pela primeira vez a equipa venceu o Troféu Joaquim Agostinho. A estreia foi no Grande Prémio Abimota, poucos dias depois da surpreendente saída de Américo Silva. Rúben Pereira há muito que está ligado à estrutura e deixa uma garantia: "Lidar com uma equipa destas não é fácil, mas estou preparado. Sei da dimensão do desafio, da responsabilidade a que fui chamado. O desporto é mesmo assim, qualquer dia ia ter que ser. Somos uma equipa de referência a nível nacional e quando se trabalha com profissionais como os que tenho, não é difícil guiá-los."

A palavra de ordem é continuidade. A mudança na liderança não significou uma quebra com o passado recente. "Apesar da saída do Américo, não se irá mudar a estrutura, nem a maneira de trabalhar da equipa. Continuamos com um grupo fantástico, muito unido, motivados para o que se espera da época", salientou ao Volta ao Ciclismo. E a motivação está mesmo em alta.

A Efapel estava a realizar uma época muito positiva, com muitas vitórias, mas faltava conquistar uma classificação geral, com Joni Brandão a ficar perto de ganhar o Grande Prémio Internacional Beiras e Serra da Estrela e o Grande Prémio Jornal de Notícias. Antonio Angulo foi segundo no Abimota, mas Henrique Casimiro venceu uma das corridas mais desejadas. "A par do JN, o Troféu Joaquim Agostinho é a mais importante antes da Volta a Portugal."

Foi uma vitória especial. Há seis anos, Casimiro tinha prometido ganhar a prova. Tinha sido terceiro e a sua mulher, grávida, havia perdido a filha. Promessa concretizada e um momento emotivo que marcou todos na Efapel.

São nove as vitórias da equipa, com mais 15 conquistas de classificações como da montanha, pontos e colectiva, por exemplo. "Os números falam por si. É das épocas que mais temos ganho. Temos um líder assumido que é o Joni Brandão e temos trabalhado com outros objectivos além da Volta a Portugal", referiu, salientando como nunca encarou os segundos ou terceiros lugares como uma derrota mas "como estando cada vez mais perto do objectivo". Agora que o objectivo foi cumprido no Troféu Joaquim Agostinho, os olhos estão postos na Volta a Portugal que começa a 31 de Julho, em Viseu.


"Nós temos um líder que é o Joni, mas o nosso capitão é o Sérgio. Ele é como se fosse um director desportivo em cima da bicicleta"

"Temos das equipas mais fortes dos últimos anos. Foi criada 100% em redor do Joni. Temos de nos assumir como candidatos. Gosto de correr de maneira diferente. Gosto de correr com humildade, respeitar os adversários. Sabemos a nossa importância, o nosso papel e vamos apresentar um bloco muito forte na Volta a Portugal em que temos as condições reunidas para estar na discussão. Vamos fazer tudo para ganhar", realçou.

Joni terá ao seu lado Sérgio Paulinho, Henrique Casimiro, Rafael Silva, Bruno Silva, o uruguaio Fabricio Ferrari e o búlgaro Nikolay Mihaylov, os dois últimos reforços em 2019. Todos terão um papel essencial, mas o trio português Joni/Paulinho/Casimiro gera alguma curiosidade pela qualidade que poderá apresentar na montanha, sem esquecer um incansável Bruno Silva, sempre importante seja em que terreno for.

Aos 39 anos, Sérgio Paulinho não conseguiu fazer a passagem de gregário para líder no regresso a Portugal e será no papel que fez dele um ciclista de referência no pelotão World Tour que poderá ser essencial na ambição da Efapel. "Eu digo sempre que o Sérgio Paulinho enquanto quiser correr tem equipa. Não é um corredor que ganhe, mas que dá muito a ganhar. Tem uma experiência inabalável, uma sabedoria, uma grande leitura de corrida. Nós temos um líder que é o Joni, mas o nosso capitão é o Sérgio. Ele é como se fosse um director desportivo em cima da bicicleta. Quando lhe dizemos que o papel dele é trabalhar, o sorriso dele diz tudo. Ele tem esse gosto de dar 100% pelos colegas", realçou.

Sobre a Volta a Portugal, Rúben Pereira considera que o percurso é feito para as características de Joni Brandão e acredita que haverá luta até final, com o contra-relógio final entre Gaia e Porto até poder ser bom para o seu ciclista, que tem aprimorado esta especialidade. "Quando analisei o percurso, acho que a Volta pode ser decidida só no último dia, no contra-relógio. Este tem uma dureza que os outros não têm tido, o que pode ser o factor decisivo para nós. Se calhar a Torre é outro factor decisivo e também haver várias chegadas em alto. Será uma Volta a Portugal muito competitiva e será um nível mais igualado entre as equipas e não tão desfasado como aconteceu com a W52-FC Porto nos últimos anos."

A Efapel vai competir para tentar repetir o feito alcançado em 2012, quando David Blanco venceu a Volta a Portugal com esta equipa. Até regressou um elemento que então estava na equipa técnica. José Augusto Silva, que há dois anos foi o director da LA Alumínios-Metalusa-BlackJack, voltou ao ciclismo para ser adjunto. Rúben Pereira não hesita em considerar esta contratação uma mais valia, até pela experiência que José Augusto Silva traz à estrutura.


"Não quero ser melhor que ninguém, nem irei copiar outros directores desportivos. Tenho a minha ideologia, a minha maneira de trabalhar e é nessa linha que irei seguir até ao final do ano"

O ciclismo sempre fez parte da vida de Rúben Pereira. Passou por todos os escalões de formação como corredor, abandonando a carreira de atleta enquanto como sub-23, categoria em que pouco competiu. Então dedicou-se aos estudos, mas admitiu como era o outro lado da modalidade que o fascinava. É filho de Carlos Pereira, um nome há muito ligado ao ciclismo e que actualmente é o responsável da Efapel. Rúben tem estado envolvido no crescimento da equipa em anos recentes.

"Não era o director desportivo oficial, era o Américo, mas sempre cumpri um papel como director dentro da equipa. Toda a envolvência da equipa, toda a estrutura passava por mim. Era eu o responsável desta estrutura, desde contratar ciclistas, patrocinadores... Todo esse trabalho era feito por mim. Se o objectivo era ser director desportivo? Sim era, não contava ser tão no imediato, mas não tenho medo do desafio. Como disse anteriormente, sei da responsabilidade que é estar à frente da Efapel. Não quero ser melhor que ninguém, nem irei copiar outros directores desportivos. Tenho a minha ideologia, a minha maneira de trabalhar e é nessa linha que irei seguir até ao final do ano", afirmou.

Apenas o espanhol Antonio Angulo é da sua idade, com todo o restante plantel a ser mais velho do que o jovem director, algo pouco visto na modalidade. Define-se como "um director desportivo que trabalha muito bem o psicológico do corredor. "Sei como trabalhar o corredor. Não sou melhor do que ninguém, nem me comparo com ninguém. Tenho uma maneira muito especial de correr. Sou jovem e como é óbvio não tenho a experiência de um Américo Silva, ou do meu pai [Carlos Pereira] que já foi director desportivo. Todos os dias aprendo com os meus ciclistas, com o meu staff e estou rodeado de um staff fantástico, os mecânicos, os massagistas e ao fim e ao cabo, um director desportivo é mais do que ir num carro, tem de conhecer muito bem o ciclista", acrescentou.

Quanto ao seu antecessor, Rúben Pereira frisou como "será sempre uma pessoa que marcou esta equipa ao longo dos cinco anos como director desportivo". Com Américo Silva no comando já se falava em levar a Efapel ao escalão Profissional Continental, como aconteceu com a W52-FC Porto. "O nosso plano é sermos mais profissionais. As pessoas podem reparar como temos evoluído e demos o salto de qualidade a nível de estrutura, logística e plantel. Se ambicionamos subir de escalão? Sim, mas não é o foco, nem obsessão", afirmou.

Está agora prestes a começar a prova de fogo da Efapel - e de todas as equipas portuguesas de elite e sub-25 -, que nos últimos anos não tem conseguido combater o poderio da W52-FC Porto. Nem a Efapel, nem ninguém.  É o início de uma carreira de um jovem director desportivo, num pelotão nacional onde quase todas as formações contam com responsáveis com anos e anos de experiência. Hernâni Brôco, agora com 38 anos, tinha sido o mais novo a chegar quando tomou conta da LA Alumínios-LA Sport no ano passado, depois de Nuno Ribeiro (41 anos) se ter tornado num também jovem director e de muito sucesso na W52-FC Porto, ainda que Rúben Pereira bata todos na idade com que chega ao cargo. A nova geração de directores começa lentamente a aparecer.

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