19 de julho de 2019

A Volta a França de uma vida

(Fotografia: © ASO/Alex Broadway)
Julian Alaphilippe até pode transformar-se num grande voltista. Ou até pode não fazer muito mais nas próximas Voltas a França (algo que se vê como completamente improvável). Porém, o Tour de 2019 será o Tour de uma vida para este francês que provocou uma enorme surpresa na 13ª etapa. Já vimos esta história no passado. Dia após dia acredita-se que é o aquele em que um ciclista vai perder a amarela. Essa senda vai começar este sábado para Alaphilippe e recuamos a 2011 quando um Thomas Voeckler foi um osso duro de roer. O corredor da Deceuninck-QuickStep foi simplesmente monstruoso no contra-relógio, surpreendendo tudo e todos. Sabia-se que era capaz de segurar a liderança dada a vantagem, mas vencer a etapa e ganhar ainda mais tempo... Que exibição fenomenal e memorável!

A partir de agora Alaphilippe já terá menos espaço para surpresas e ainda menos de manobra. Agora estão todos de olho nele, com o Tourmalet e apresentar-se como o grande teste a um líder que se foi fazendo contas à vitória final sem contar com ele e que, de repente, até tem Geraint Thomas (Ineos) a alertar que o francês se pode tornar perigoso. Independentemente do que venha a acontecer com Alaphilippe, este Tour tem a sua marca e vai deixar a sua marca no corredor. Se há um ano tinha sido uma performance espectacular, com duas vitórias de etapa e a camisola da montanha, Alaphilippe subiu a fasquia para 2019. Agora falta perceber onde a colocou. O Tourmalet poderá ajudar a explicar.

Quando perdeu a amarela na sexta etapa, na subida a La Planche de Belles Filles, a desilusão foi clara, mas até seria de pensar que Alaphilippe adoptaria a táctica de 2018, lutando por etapas e eventualmente a camisola da montanha. Mas não. Repetir o que já alcançou não o motiva. Dois dias depois recuperou a liderança e no contra-relógio desta sexta-feira não se viu um ciclista a defendê-la, viu-se um ciclista a atacar, a querer muito mais. França está rendida ao seu corredor. Mas quem não está?!

A sua exibição é ainda mais valorizada pela de Geraint Thomas. Era um dos grandes favoritos e havia a questão se até sairia de Pau de amarelo. O próprio galês rendeu-se a Alaphilippe, que é agora um homem marcado por uma Ineos que teve o seu líder a afastar qualquer dúvida quanto à sua forma. Thomas foi ao Tour para vencê-lo por uma segunda vez. Está bem e recomenda-se.

Alaphilippe ganhou 14 segundos a Thomas, tendo agora 1:26 de vantagem. Tanto se falou de o francês fazer no futuro próximo a transformação para um voltista e afinal... Se passar o difícil teste do Tourmalet, talvez seja o momento de deixar de especular sobre essa mudança. Poderá ser altura de pensar que tudo é possível já em 2019! Voeckler só cedeu na 18ª etapa ao fim de dez como líder. Tem a palavra Alaphilippe numa Volta a França que poderá mesmo ser de uma vida!

As diferenças e os dois abandonos por quedas

Julian Alaphilippe acabou por ofuscar o que se calcularia ser o assunto do dia: as diferenças entre candidatos. Entre os derrotados estão Nairo Quintana e Adam Yates. O primeiro ficou a 1:51 minutos do francês e o britânico a 2:08. São estragos profundos na classificação geral para ambos. Romain Bardet já quase não vale a pena referir. Foi o esperado, com mais 2:26 perdidos. Mas também Egan Bernal ficou muito aquém das expectativas. Conhecido por ser um decente contra-relogista, perdeu 1:36 minutos. Vai continuar a ser o plano B da Ineos, mas depois da performance de Thomas, só um volte-face irá recolocar o colombiano na rota de discutir a vitória do Tour.

Rigoberto Uran, Richie Porte, Steven Kruijswijk, Thibaut Pinot e Enric Mas saem do contra-relógio com uma motivação reforçada, ainda que sabem que lhes espera um missão de ataque à Ineos. Para Mas há o bónus de tirar a camisola branca da juventude a Bernal, ainda que se avizinhe uma luta interessante entre ambos, pois só oito segundos os separam. A Deceuninck-QuickStep que teve um Giro para esquecer, está a superar no que se esperava fazer no Tour. Agora tem dois homens que acreditam que tudo é possível.

De referir que Nelson Oliveira (Movistar) ficou a 1:03 minutos de Alaphilippe, que cumpriu os 27,2 quilómetros de Pau em 35 minutos. Rui Costa (UAE Team Emirates) fez mais 5:07 e o campeão nacional José Gonçalves (Katusha-Alpecin) a 4:36.

Van Aert estava a realizar um contra-relógio muito forte até à queda,
já a poucos quilómetros da meta

(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
Entre as más notícias do dia estiveram os abandonos de Wout van Aert, uma das figuras do Tour até ao momento, já com uma vitória de etapa e um favorito para o contra-relógio, e Max Schachmann. O ciclista da Jumbo-Visma mediu mal a entrada numa curva, tocou nas grades de segurança e caiu desamparado. Fez uma ferida profunda na perna, com a equipa a comunicar que Van Aert já foi operado e irá passar a noite no hospital. O corredor da Bora-Hansgrohe também caiu, ainda terminou o contra-relógio, mas fracturou a mão e não vai continuar em prova.

O Tourmalet vai este sábado dizer se Alaphilippe é um perigo grande à geral para os restantes candidatos, mas aqui ficam as diferenças, tendo Thomas como referência. Fabio Aru (UAE Team Emirates) e Guillaume Martin (Wanty-Groupe Gobert) não fizeram maus contra-relógios dadas as suas capacidades, mas já são mais de seis e sete minutos, respectivamente, para a Thomas.

2º Geraint Thomas (Ineos)
3º Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma) a 46 segundos
4º Enric Mas (Deceuninck-QuickStep) a 1:18 minutos
5º Egan Bernal (Ineos) a 1:26
6º Emanuel Buchmann (Bora-Hansgrohe) a 1:38
7º Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) a 1:56
8º Rigoberto Uran (EF Education First) a 2:28
9º Nairo Quintana (Movistar) a 2:29
10º Adam Yates (Mitchelton-Scott) a 2:29
11º Daniel Martin (UAE Team Emirates) a 2:49
13º Jakob Fuglsang (Astana) a 3:03
15º Richie Porte (Trek-Segafredo) a 3:18
17º Romain Bardet (AG2R) a 4:20
18º Mikel Landa (Movistar) a 4:34

Classificações completas, via ProCyclingStats.

14ª etapa (20 de Julho): Tarbes - Tourmalet, 117,5 quilómetros



Ao contrário de edições recentes, o Tourmalet marcará o final da etapa e não será local de passagem. Apesar de não ser uma subida com pendentes muito elevadas, é longa (19 quilómetros) e com uma média de 7,4%, com a meta a estar colocada a 2115 metros de altitude.

É uma categoria especial, mas quando lá chegarem, os ciclistas já terão subido uma primeira categoria de quase 12 quilómetros, a 7,8 de média, o Col du Soulor.

Não sendo um dia decisivo, até porque no domingo haverá muito mais para subir e ainda faltam os Alpes na próxima semana, o Tourmalet poderá ajudar a definir quem estará de facto na luta, depois de muitos ciclistas já terem perdido tempo valioso devido aos cortes provocado pelo vento na 10ª etapa.




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