2 de julho de 2019

Os portugueses no Tour

Nelson Oliveira, José Gonçalves e Rui Costa com ambições diferentes
Chegou o momento de se entrar em modo Tour. Arranca-se com destaque para os três portugueses na Volta a França e os três papéis diferentes que desempenharão. Só José Gonçalves estava desde o início da temporada previsto para a corrida francesa e confirmou a chamada. Rui Costa e Nelson Oliveira tiveram presença incerta até à última, mas a boa forma mostrada nas mais recentes corridas assegurou o lugar de dois dos ciclistas referência do ciclismo nacional no World Tour.

Começando pelo estreante. José Gonçalves prepara-se para fazer o pleno nas grandes voltas, estreando-se aos 30 anos na Volta a França. Conta com quatro participações na Vuelta - a de 2015 foi sensacional, tendo estado perto de ganhar etapas ao serviço da Caja Rural - e duas no Giro, já com a Katusha-Alpecin. Foi precisamente, há um ano, que provocou uma ligeira surpresa ao mostrar que estava a evoluir para se tornar um voltista. Começou forte no contra-relógio, logo com um quarto lugar, andou pelo top dez, terminando num excelente 14º lugar. Ficou o aviso que José Gonçalves poderia ser mais que um caça-etapas, como se esperaria naquela edição.

Este ano foi "guardado" para o Tour, com Zakarin a chegar a França com um Giro nas pernas, que, mais uma vez, ficou aquém do esperado a nível de geral apesar do 10º posto e de uma etapa ganha. O russo terá sempre um estatuto de líder no Tour, mas o ciclista português não esteve estes meses todos a preparar-se para o Tour para ser um mero gregário. Será uma oportunidade de ouro para o gémeo de Barcelos se mostrar na corrida de três semanas que continua acima de todas as outras a nível de mediatismo e prestígio. Como sempre se diz, o Tour... é o Tour!

José Gonçalves vai chegar a França com a camisola de campeão nacional no contra-relógio, conquistada no dia em que a equipa confirmou a convocatória. Revelou então que se sentia bem, em forma e ainda com espaço para melhorar rumo à Volta a França. Depois do que fez no Giro no ano passado, o grande ponto de interesse será perceber se Gonçalves está preparado para atacar a geral. Um top 20 seria excelente e qualquer coisa acima será brilhante, mas também terá os olhos postos numa etapa, já que a Katusha-Alpecin continua a precisar urgentemente de vitórias.

Equipa da Katusha-Alpecin: Ilnur Zakarin, Alex Dowsett, Jens Debusschere, José Gonçalves, Marco Haller, Nils Politt, Mads Würtz Schmidt, Rick Zabel.

Nelson Oliveira (30 anos) sabe bem o que é correr o Tour. Vai para o seu quarto. Nos últimos dois anos, quedas no Paris-Roubaix estragaram-lhe grande parte da temporada, mas está de volta a uma corrida que tanto gosta, ainda que foi um sprint até à última para garantir um lugar na Movistar. É mais homem de contra-relógio do que de sprints e esse ponto forte do português será importante na segunda etapa, no contra-relógio colectivo de 27,6 quilómetros. Com Nairo Quintana e Mikel Landa na equipa, bem que será preciso alguém para puxar por dois ciclistas que, já se sabe, não são nada ases na arte de competir contra o relógio.

Mas a qualidade de Nelson Oliveira vai mais além. É um gregário fortíssimo, não tanto em alta montanha, mas para essa fase haverá outros homens. As suas prestações merecem a confiança dos líderes e dos responsáveis técnicos de uma Movistar que vem de uma vitória na Volta a Itália, mas ao eleger pelo segundo ano consecutivo o tridente Quintana/Landa/Valverde para o Tour, gera novamente muita desconfiança, tendo em conta que em 2018 foi simplesmente uma prestação muito fraca.

Quintana diz ser o líder, Landa não gosta de ser segundo e já o foi para Richard Carapaz no Giro... Avisou que se vê a subir ao pódio em Paris... Valverde regressou à competição, tendo falhado o Giro por lesão e está novamente a vencer (a Rota da Occitânia e o Campeonato Nacional de fundo) e certamente que estará mais do que ansioso para ganhar uma etapa no Tour com a camisola de campeão do mundo depois de uma temporada muito abaixo do que habituou. Nelson Oliveira estará lá para fazer o seu trabalho (e fá-lo praticamente sempre muito bem) que não se avizinha nada fácil perante uma equipa potencialmente "partida" por ambições de demasiados líderes juntos.

Equipa da Movistar: Nairo Quintana, Mikel Landa, Alejandro Valverde, Marc Soler, Andrey Amador, Carlos Verona, Imanol Erviti, Nelson Oliveira.

Em comum, os três portugueses escalados para ir ao Tour têm o estar em final de contrato com as respectivas equipas. Se há um sob maior pressão é Rui Costa (32 anos). Em 2018 falhou todas as grandes voltas, com uma lesão no joelho contraída no Paris-Nice a prejudicar-lhe quase toda a temporada. Surgiu bem nos Mundiais em Setembro e esta época tem oscilado entre boas e umas menos convincentes exibições. Porém, este a bom nível nos testes finais rumo ao Tour, com um segundo lugar na Volta à Romandia e na Volta à Suíça - que já venceu três vezes - não lutou pela geral, mas esteve a bem na montanha.

A grande questão é como encaixará Rui Costa numa UAE Team Emirates que leva Fabio Aru e Daniel Martin, que não serão nada menos do que líderes. Esse estatuto o poveiro já não o tem. O italiano regressa após longa ausência. Foi operado à artéria ilíaca (na perna) e espera que o pior tenha finalmente passado. Quando Aru mete na cabeça que é para ganhar, então vemos o melhor deste ciclista, mas se dá numa de derrotista... Quanto a Daniel Martin, não é ciclista para lutar por uma vitória na geral, dificilmente pelo pódio. Top dez e etapa. É o conjunto perfeito de objectivos para o irlandês.

Haverá ainda um Alexander Kristoff a lutar nos sprints. Estes três ciclistas vão precisar que os restantes cinco sejam bons gregários. A Rui Costa poderá não restar mais do que uma oportunidade para entrar numa fuga e tentar uma vitória de etapa, sendo que haverá um Sergio Henao desejoso de fazer o mesmo. O campeão do mundo de 2013 tem de mostrar bom nível se quiser continuar numa equipa em remodelação, a preparar jovens de enorme talento para tomarem conta das lideranças (Tadej Pogacar à cabeça). Este é um Tour decisivo para o português, que já venceu três etapas na corrida francesa, na sua melhor fase da carreira, então na Movistar: uma em 2011 e duas em 2013.

Equipa da UAE Team Emirates: Fabio Aru, Sven Erik Bystrom, Rui Costa, Sergio Henao, Alexander Kristoff, Vegard Stake Laengen, Dan Martin, Jasper Philipsen.

A Volta a França arranca este sábado, com Bruxelas a receber a partida. E numa viagem até à Bélgica, prepara-se para recordar como um dos grandes do ciclismo que nasceu naquele país: Eddy Merckx. De salientar ainda que se celebra 100 anos desde que a camisola amarela foi envergada pela primeira vez na mítica corrida.

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