13 de julho de 2019

Franceses ao ataque em vésperas do Dia da Bastilha

(Fotografia: © ASO/Alex Broadway)
Não fosse Thomas de Gendt e este domingo poder-se-ia ter nos jornais desportivos franceses um título como "Vive la France". Seria de sonho tendo em conta que será 14 de Julho, feriado nacional. Também no ciclismo o Dia da Bastilha tem uma forte componente emocional: a seguir a querer ver um francês ganhar o Tour, é ter um ciclista da casa a vencer esta etapa o que mais se deseja no país. O dia vai começar bem, pois Julian Alaphilippe recuperou a camisola amarela e Thibaut Pinot irá partir como o melhor entre os candidatos à geral. A ver vamos se no final da tirada se completará o feriado perfeito, que começou a ser preparado este sábado com uma super etapa dos dois franceses, que têm de partilhar o protagonismo com um belga simplesmente fenomenal. 

É seguro dizer que o entusiasmo vai crescendo por França. Primeiro porque Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep) tem essa capacidade de entusiasmar, seja de que nacionalidade for o adepto e vai ser um francês de amarelo no Dia da Bastilha. Segundo porque há muito que não se via um Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) assim. No Tour, talvez nunca se tenha visto desde que se assumiu como corredor para tentar conquistar a geral. No Giro sim, já se conhece esta versão de Pinot. É melhor não esperar em demasia, se há algo que se sabe bem é como Pinot cede à pressão da expectativa dos meios de comunicação social e dos adeptos em França, ainda que tenha passado uma imagem que está mais confortável com essa atenção.

É muito bom ver Pinot a correr assim. Em boa forma e com vontade de atacar. Aproveitou a deixa de Alaphilippe que passou para a frente do que restava do pelotão, na última subida, para ir recuperar a camisola amarela que Giulio Ciccone lhe tirou há dois dias. No Côte de la Jaillère estavam em jogo segundos bónus. Alaphilippe foi buscar cinco (De Gendt ficou com oito) e Pinot ficou com os dois restantes.

Tão rapidamente se escreveu aqui que estes bónus ainda não estavam a ser procurados pelos candidatos, como Pinot contrariou essa tendência. Depois foi fazer uma aliança francesa nos cerca de 12 quilómetros finais. Com Alaphilippe a ter o que queria, a amarela, foi Pinot quem ficou no segundo lugar na meta. Ou seja, mais seis segundos de bonificação! Feitas as contas, ganhou 20 segundos na estrada e oito em bónus, o suficiente para passar para a frente numa classificação virtual de candidatos. Nada mau e motivador, certamente!

Não é todos os dias que se vê o segundo e terceiro classificado da etapa tão felizes como quem ganhou. Houve motivos para festejar para todos e ninguém se coibiu de o fazer, especialmente um Alaphilippe a viver um Tour de sonho depois de em 2018 ter feito uma Volta a França espectacular: duas etapas e a camisola da montanha. Agora está com uma etapa conquistada e vai para o quarto dia de amarelo.


(Fotografia: © ASO/Alex Broadway)
Mas lá na frente da etapa esteve um Thomas de Gendt ao seu estilo. É pura classe quando olha para uma tirada e diz que é para ganhar. Esteve praticamente os 200 quilómetros da etapa em fuga, primeiro acompanhado, mas foi perdendo companhia até que sobrou outro senhor das fugas, Alessandro de Marchi (CCC). Mas nem o italiano aguentou e de Gendt ficou sozinho na última subida.

O ciclista da Lotto Soudal quando ganha fá-lo sempre com impacto. São sempre grandes exibições e nos grandes palcos. Em 15 triunfos, só dois não foram em provas World Tour. Segunda vitória no Tour e é um ciclista com conquistas em todas as provas de três semanas, além de se ter tornado no ano passado o primeiro belga a conquistar a camisola da montanha na Vuelta. É uma classificação que também está na luta na Volta a França. Com esta longa fuga e com sete subidas categorizadas (cinco de segunda categoria e duas de terceira), De Gendt soma 37 pontos e está a seis do companheiro da Lotto Soudal e compatriota, Tim Wellens.

Se a movimentação de Alaphilippe era esperada, com a Trek-Segafredo a não se preocupar com a defesa de Ciccone - continua líder da juventude -, já que o principal objectivo se chama Richie Porte, o ataque de Pinot ajudou a animar uma boa etapa que até teve algum drama. Michael Woods (EF Education First) caiu e levou consigo ciclistas da Ineos, incluindo Geraint Thomas. Michal Kwiatkowski fez de mecânico e ajudou a recolocar a corrente da bicicleta do seu líder, mas umas da máquinas da Pinarello ficou em muito mau estado. O quadro partiu (ver vídeo em baixo).
A equipa reagiu muito rapidamente ao sobressalto - Egan Bernal ficou em segurança no pelotão - e depois de minutos de alguma preocupação, Thomas lá reentrou no grupo e até acelerou perto da meta para mostrar novamente que está bem e não é um susto que o vai abater.

Quem ficou de fora da luta pelo menos por um top dez foi Vincenzo Nibali. O líder da Bahrain-Merida não tinha deixado boas indicações na La Planche de Belles Filles e este sábado ficou a ver o topo da geral a mais de cinco minutos. É altura da Bahrain-Merida repensar o que quer deste Tour. Depois de Dylan Teuns ter ganho uma etapa, resta à equipa ir à procura de mais. Rohan Dennis fez um bom Critérium du Dauphiné, terminando no segundo lugar, mas neste Tour está com uma missão diferente e ainda por se perceber ao certo qual. Vai perdendo tempo na montanha e depois do quebra de Nibali, Dennis está agora mais pressionado a pelo menos ganhar o contra-relógio.

Aqui ficam as diferenças entre os candidatos após a oitava etapa, entre Mâcon e Saint-Étienne. Pinot serve de referência, com Alaphilippe a ser o camisola amarela, com Ciccone a ficar a 23 segundos da liderança.

3º Thibaut Pinot (Groupama-FDJ)
4º George Bennett (Jumbo-Visma) a 17 segundos
5º Geraint Thomas (Ineos) a 19
6º Egan Bernal (Ineos) a 23
7º Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma) a 34
8º Rigoberto Uran (EF Education First) a 45
9º Jakob Fuglsang (Astana) a 49
10º Emanuel Buchmann (Bora-Hansgrohe) a 52
11º Enric Mas (Deceuninck-QuickStep) a 53
12º Adam Yates (Mitchelton-Scott) a 54
14º Nairo Quintana (Movistar) a 1:11 minutos
15º Mikel Landa (Movistar) a 1:13
16º Daniel Martin (UAE Team Emirates) a 1:16
18º Richie Porte (Trek-Segafredo) a 1:26
23º Romain Bardet (AG2R) a 2:27
26º Fabio Aru (UAE Team Emirates) a 2:55
27º Guillaume Martin (Wanty-Group Gobert) a 2:57

Classificações completas, via ProCyclingStats.

9ª etapa (14 de Julho): Saint-Étienne - Brioude, 170,5 quilómetros



O pelotão vai para o nono dia de dez consecutivos. Este ano a folga será só na terça-feira. A etapa é mais curta e apesar da maior dificuldade até estar no início, aquela terceira categoria final está a pedir novos ataques. Haverá os segundos bónus em disputa (oito, cinco e dois), com os 3,6 quilómetros de extensão a terem uma pendente média acima dos sete por cento. Depois é quase sempre a descer até à meta. Depois de Alaphilippe recuperar a camisola amarela, de Thibaut Pinot se impor frente aos rivais, falta aparecer  outro francês, Romain Bardet (AG2R), que terá uma motivação extra: a meta está na sua terra natal. E está a precisar bastante de uma boa exibição e de recuperar algum tempo para poder aspirar no mínimo a um top dez.




»»Segundos bónus ainda não seduziram os candidatos««

»»Pequenos testes, alguns sinais, mas todos tentaram principalmente sobreviver à La Planche des Belles Filles««

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